4.5.10

das escrituras escondidas no monte mais alto (VI)

último gole
fecha a conta
vou para casa dormir
dormir
até não amanhecer

me mostrar até esconder
desafiar até ser desafiada
esquecer até ser esquecida
correr até perder a vontade
de respirar


-resgatar o fôlego e seguir em frente-

correr com os tornozelos cansados
correr, correr, correr
correr até voltar a andar
seguir em frente
na linha reta do asfalto

seguir na estrada
passos, passos
mais um passo,
parar.

seguri para frente,
mais um passo, sem descanso
com os tornozelos doídos
andar

-andar sem rumo-

seguir em frente
para a frente
mais um passo
os pés cansados
doendo

seguir em frente,
mais um passo, dois
sem rumo
-seguir-
parar um pouco
sem descansar;
andar.

almofadas descalças (II)

numa tarde ele disse: - eu te amo!
eu também; respondi.

os olhos cheios de lágrima com a descoberta
e assim a vida; seguiu.
digo; anos se passaram
sem para sequer nenhum lado eu olhei
até que  adeus chegou.

são assim os inícios até que o fim
se concretize.

das escrituras escondidas no monte mais alto (V)

escrever poema é difícil à beça!

não é fazer cena,
não é discursar sobre o abstrato

não é correr contra o tempo, falar de beleza e muito menos
de amor.

escrever um poema é gritar toda a dor que se esconde na porta dos fundos de um coração sem esperança
e que não se cansa de tomar porrada de vida.

escrever um poema é morrer um pouco a cada frase
e sem disfarce,
se descabelar diante de uma página em branco.

aos trancos e barrancos,
escrever um poema
não é exaltar a liberdade e nem viver a bohêmia
que salta dos poros a cada gole.

escrever um poema
é desgastante, difícil,
mas possível
em todas as impossibilidades!

escrever um poema é pesado como um elefante
é uma arte que consome a melanina dos cabelos castanhos.

escrever um poema
transforma qualquer cabelo saudável em branco.

escrever poema não é brando como sorrir

escrever poema é um eterno engasgar-se com espinhas de peixe
deixá-las atravessadas na garganta

escrever poema é como arrancar uma espada do peito sem tirar sangue
e sangrar ao mesmo tempo.

é sangrar e sangrar muito até não fazer, mas ter sentido.

escrever um poema não é a morte
e nem a vida
não é a ilusão e nem o concreto

não é um trabalho "stressante"
e nem a falta do emprego

não é o marido relapso
e nem a namorada vadia que dá para qualquer um

não é o cachorro abandonado
e nem o gato maluco que mija em qualquer dos cantos
para marcar território.

escrever um poema é uma casa que desmorona quando chove demais.

é o choro sofrido do trabalhado braçal que perdeu tudo.

escrever um poema
é passar para o papel todo absurdo do mundo em que vivemos
e nunca
se conformar!

das escrituras escondidas no monte mais alto (IV)

abriu a porta com a chave errada
-à ponta pés-
chegou em casa morta, torta,
bêbeda de dar dó.

passou a noite de bar em bar
procurando algum sentido em viver
enquanto carne,
indivíduo;
mulher.

encontrou olhares tortos,
desassossego,
pessoas boas e nem tanto assim.

encontrou homens impotentes,
mas com tesão.
oportunistas com tatuagem de líderes de guerrilha na barriga;
aproveitadores.

mulheres mal amadas,
homens infiéis,
olhos vermelhos de viagem e de medo.

patricinhas do funk,
cachorras da valsa
e estagiárias bem vestidas
de direito.

conseguiu quebrar a unha, tropeçar na rua,
voltar a fumar;
navegar

-navegar no asfalto-

à deriva, consegui pensar
pensar na vida
e sem nenhuma conclusão formada
abriu a porta torta
bêbeda e faminta de dar dó
e ensaiou
morrer.

das escrituras escondidas no monte mais alto (III)

era uma borboleta preta
feia, feiosa
diferente das outras.

feia, diferente das outras,
mas esperta
não era feliz e nem procurava a felicidade.

não estava em busca
-de nada-
apenas vivia,
voava; vagava.

passava por lugares,
sorria, conversava, brincava;
vivia!

estava no mundo apenas.

era diferente e não se importava com isso:
com a falta de abrigo,
com o desamor.

ela estava certa.
era diferente de mim.

das escrituras escondidas no monte mais alto (II)

flores secas
[mortas]

fantasmas fazem búúú de madrugada

acordo assustada
e choro como um recém nascido
sem mãe

-lágrimas escorrem à cada bocejo-

estou com sono,
mas é tanto choro
preso
dentro

não sei andar e à minha frente
só escadas

não sei engatinhar e à minha frente
apenas água

água de choro, de amar. de lago,
de amar.

de amar tanto que não sei se amo verdadeiramente
se amo algo, alguma coisa ou nada

flores de plástico nos vasos de flores mortas
flores secas, mortas, sem água
flores falsas como sorrisos
e àquelas cantigas breves de
amor.

das escrituras escondidas no monte mais alto (I)

extra large é a confusão que pulsa e deve ser expurgada de mim.
o que não sei e está dentro.
dentro, aqui dentro, martelando em mim.

o que conversa; espalha-se em pedaços, os retalhos
a intensidade
o que se distingue e o que não consigo distinguir
 - saber -
do que não sei o que é, mas existe;
insiste em mim.

nada está bom nem ruim
o que não fala, não diz, mas grita!
o que não sussurra, desafia, berra!

o que não diz a que veio
não versa, nem sussurra,
mistura mais a confusão.

empurra  para dentro a caipirinha açucarada e quente
que não bebi  e nem provei.
não provei porque não pedi
não pedi porque não sabia o que queria beber e ainda não sei.

não sei o que existe,
insiste, grita em mim,
mas é um grito alto
um urro de desespero
um berro que faz doer os ouvidos e de tão alto,
dá enjôo.

é como um pulo, um salto de desespero

é desesperador saltar assim do precipício
é desesperador saltar assim; parada
me faltam asas.

confesso que morri.

Para desabafar

Fiquei estupefata quando semana passada uma pessoa que anda no meio poético no Rio de Janeiro me encontrou em um evento e veio com o livro novo para mostrar para mim. Mostrar seria bondade já que ela não deu o livro na minha mão para que eu visse se gostava e sim mostrou ( segurando o livro) e disse: -Juliana você vai comprar meu livro? - eu disse educadamente que no momento não iria, mas quando tivesse recebido sim. Só dei essa resposta porque não tive tempo para pensar na hora e na verdade só pensei mesmo depois do fato acontecido. Ela não satisfeita com a minha negativa continuou: Tá, mas um dia você vai comprar. Eu comprei seu livro. Fui ao seu lançamento! - achei essa atitude de como que querendo me obrigar, me ordenar a comprar o livro. Como se porque ela comprou eu tivesse obrigação...
Fiquei confusa na hora, mas depois, fiquei puta comigo por não ter respondido na hora: você foi ao meu lançamento; bem o Prosecco italiano estáva ótimo não? Você comprou meu livro porque quis eu não te obriguei como você está tentando fazer neste momento, né? Sua postura está errada diante da coisas... não achas?
E pior ou melhor é que pelo que me consta esta pessoa é Psicanalista, Psiquiatra, sei lá! Me dá pena de seus pacientes. Antes desta pessoa tratar os outros, ela deveria se tratar!
Este fato aconteceu já tem um tempinho, mas só agora consegui organizar as ideias para desabafar e sabem, acho que este mundo da poesia está errado. Tem muita merda no meio dele e isso me deixa triste. Profundamente triste. No meio da poesia, de poetas, a única coisa que deveria ter é a exaltação da beleza da vida, da poesia nas coisas simples, do desejar o amor acima de qualquer sentimento. Não dveeria existir neste meio o que existe: fofiquinhas, picuinhas, egos exacerbados e acima de tudo, as pessoas deveriam entender que nem todo mundo é poeta e nem todo mundo escreve poesia. Tem gente que escreve. Escreve e ponto. Escreve para fazer catarse. Escreve para desabafar como estou escrevendo neste momento e este meu desabafo, desculpem, não é poesia. Não é porque eu desabafo que eu estou escrevendo poesia e sim, eu sou poeta. Eu nasci poeta e não porque me dizem e nem porque eu digo e sim porque me sentem poeta e assim me sinto na poesia. Os que me leem me sentem poeta, me ditam poeta e todos os dias que acordo eu acordo poesia, mesmo quando estou triste, chateada, amargurada e de saco cheio da vida.
Tenho tentado há muito custo me afastar de eventos de poesia e até de amigos mesmo, pois a mim faz muito mal dar de encontro com pessoas como a citada acima que está neste meio por oportunismo. Para tentar caçar um certo status neste meio e o pior e mais feio, para invejar os outros, para tentar fazer amigos, para urubuzar.
A minha vida não é nada fácil para que ela seja urubuzada por quem não vive poesia 24h por dia e ir para evento de poesia para ver um bando de gente que não diz nada com nada e se diz poeta e que faz poesia... é duro demais para mim.
Seletividade sim! Meus ouvidos são massacrados demais por isso e  eu me irrito e fico com fama de stressadinha. Sim! Saio para me divertir. Saio para ver amigos para respirar poesia e sinceramente não é qualquer "batatinha quando nasce" que me alimenta. Não é mesmo!!!
Fiz durante alguns anos parte de um grupo de poesia e fiz juntamente com este grupo um evento e lá sim, podia tudo. Tudo era permitido e a gente sabia que sempre ia ter um hippie, um bêbado, um louco que ia pegar o microfone e cantar e dançar e fazer comício. Eu muitas vezes fui esse bêbado, esse louco, esse hippie. E com isso, que hoje digo que foi exercício poético, aprendi a selecionar o bom do ruim. O que é do que não é.
Por favor não vejam isso como não estímular os outros a escrever. Sim. Todos devem escrever, mas entendam, nem todo mundo é poeta. Nem todo mundo é poeta como Tavinho Paes. Nem todo mundo é poeta como Mano Melo. Nem todo mundo é poeta como Pedro Lago, Pedro Lage, João José de Melo Franco, Adriana Monteiro de Barros, Beatriz Provasi, Marcela Gianini, Chacal, Augusto Guimarães Cavalcanti, Sheyla de Castilho, Thereza C. Rocque da Motta, Alice Sant'anna, Luiz Felipe Leprevost e "blá, blá, blá". Nem todo mundo é poeta. Nem todo mundo é poeta. Nem todo mundo é poeta. Nem todo mundo é poeta. Nem todo mundo é poeta. Nem todo mundo é poeta. Nem todo mundo é poeta. Nem todo mundo é poeta.Nem todo mundo é poeta.Nem todo mundo é poeta.Nem todo mundo é poeta, PORRA!!!!!

*Tem gente que não está nessa lista simplesmente porque eu esqueci de citar, mas isso não quer dizer que eu não as considere ou melhor que elas não sejam poetas. rsrsrs