27.4.07

Paixonite

Naquele dia em que vc me provocou
nasceu em mim uma paixão platônica

Energia que faz minhas pernas tremerem quando te vejo online no gtalk, msn e outros brinquedinhos para comunicação à distância.
Eu suo só de pensar que vc poderá estar onde eu estarei,
fico sonhando em esbarrar contigo na rua numa esquina qualquer...
no meio do nada,
no paraíso ou num foguete rumo as estrelas.

Na sala de cinema escura,
no meio da muvuca dos meus passos perdidos,
no entardecer,
numa certa manhã...

Desejo te contar o dia, as aventuras, os sonhos...

Te mostrar como foi o cheiro de café daquela manhã em que acordei, no dia seguinte, pensando em ti.
Como o cheiro daquele café foi diferente...
como aquele cheiro era você mesmo que à distância...
como a minha pele...
minha língua...
tinham absorvido totalmente o gosto, o cheiro daquele único beijo roubado na esquina
enquanto eu relutava da sua provocação inconsciente...

Aquele dia em que vc me provocou foi o início da paixão platônica e do meu acordar todos os dias pensando em como seria o meu adormecer nas madrugadas pensando em como deve ser...
em como seria...

Em como não será.

Carta anônima

Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam?Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vezemquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo.

Caio Fernando Abreu

O Estado de S. Paulo, 16/03/88
Pequenas Epifanias

17.4.07

Só com isso é que eu gargalho...

mas depois passa.
e eu só choro!

Poema para São Jorge

Meu nome se escreve com jota
Eu não me chamo Jorge

Combato dragões todos os dias
Tentando salvar princesas, príncipes, idéias, ilusões...

Sem espada nem cavalo consigo ferir culpados e inocentes
Passeio pelos pecados todas as manhãs

Eu não me chamo Jorge.

Chamo sempre São Jorge para proteger
ajudar na evolução,
na absolvição,
na libertação dos medos
no decorrer das noites soluçadas em travesseiros de papel

Pensamentos

Aceitação

[ACREDITAR!!!]

Eu não me chamo Jorge.
Sou mulher
Eu chamo sempre Jorge.
Eu acredito no amor de Jorge.

Salve Jorge!

é o tipo de coisa que quando eu tô na M, me faz sorrir...

Ô, Ju.

... eu tenho todas as nossas lembranças, inclusive aquele BIG cartão lindo de aniversário. De uma coisa você pode ter certeza: você sabe marcar a vida de alguém.

Eu sempre soube que seu futuro estaria cheio de coisas especiais, porque você nunca quis ser o óbvio nem o comum, sempre quis ser especial. E eu te acho muito especial, Juzinha. Acho lindo o seu dom com as palavras, acho lindo o seu dom de deixar todos ao seu redor sempre prensenciarem algo diferente... nada a haver com requinte ou coisas caras, apenas tua presença que quebra a monotonia, igualzinho fizeste naquela vez em São Carlos.

Você sabe que marcou minha vida, não sabe. Então fica sabendo também, que eu me lembro de muitos detalhes e que nunca vou te esquecer, assim como disse em várias cartas.


...

Recebi esse e-mail hoje e...

E assim eu sigo sabendo que pelo menos uma pessoa eu marquei nessa vida.
E assim eu sigo sabendo que para alguma coisa valeu a pena minha existência.
E assim eu sigo...
quando minha vontade maior é parar.

15.4.07

Brincadeiras infantís

divirta-se!
brinque de pique-pega
capa espada
bola de gude
pique-esconde...

na brincadeira de índio e cowboy
eu me rendo
na de polícia e ladrão
eu me entrego

você ganha todas as minhas figurinhas no bafo
e do cabo de guerra
você me derruba

você quer brincar de pique-pega?
então pega!
de capa espada?
seja zorro!
de bola de gude?
eu escorrego...

divirta-se!
a noite é a sua hora de brincar...
eu durmo cedo.

só eu sei

o quanto te amo,
mais ninguém
sei que as folhas voam
o sol nasce
o amor
existe ...

insiste em mim.

amor que não nego
amor que maior
amor que não fé
amor que absurdo
dilúvio de emoções
enquanto canções são.

beco mágico

buraco a céu aberto
encruzilhada de palavras movidas a cerveja

reunião de amigos
reflexões hilárias
microfone liberado para oi que der e vier
preciso seja e não tão necessário assim

palavras ao vento
jogadas,
escritas...
tormentos no ventilador.

é doce a dor de viver não sabendo voar

venha dançar um bolero
declamar um poema
fazer-me derreter como picolé de cholate
em seus lábios

prendi o dedo na gaveta

para lembrar que existeb sanguem em minhas veias
que meus ossos têm agilidade
que minha capacidade de ser quem sou independe
de a,b, c, alguém ou você

prendi o dedo na gaveta prara não esquecer que um grito preso estava em mim
que um coração eu tenho
que não lembro quando te vejo
que o coração acelera
sem porquê.

trembling

pernas trêmulas
voz firme
dois goles
um "shot"
ser a tequila que você beberá sem fazer careta no final

ou talvez

o primeiro gole de refrigerante prá curar sua ressaca de mim.

dor de cabeça intermitente
que não cura com remédios pró fígado


não posso mais ser a última gota que sobra
quela que seca no fundo do copo
sem forças
se enforca na própria obsessão
aquele papel amassado no fundo do cesto
que a gente não lembra mais

chega dessa babaquice descartável de amor que começa e acaba numa linhas reta
sem emoção
chega de montanha russa que não leva a nenhum lugar que não o mesmo...
chega dessa imagem construída na idéia de não conseguir viver sem ti
dessa mania idiota de pensar que sem você não há vida em mim

chega de rabiscar as mesmas palavras na nesma folha em branco de papel

o negócio é virar a página
e rabiscar novas palavras no rascunho irreversível dos dias em que sorrio por mim
enquanto sou inteira sem você.

não quero...

não quero amar
nem pentear os cabelos

escovar os dentes
nem lembrar de você

quero dormir eternamente
congelar os sorrisos em cubos de gelo
e servir para você

para que você me beba um pouco em cada dia que eu morrer

não quero arrumar as malas para a viagem
nem as mãos depois de preparar os sanduíches para o pic-nic

quero roer as unhas postiças
arranhar-te nos sonhos perdidos por aí

tragar cigarros imaginários
naquele fime francês
ter hálito de flores
guardar cigarrilhas num pote de cristal

atendendo a pedidos
ser o que não obedece ninguém
dizer sempre não pros meus sins
tomar remédios para enjôo
e bulímica despejar seus vestígios no vaso sanitário.

without u

Sem você tenho vontade de beber até desidratar
De fumar até perder o fôlego
De parar de pensar
De dormir sem parar
E esquecer.

Eu não falo quase nada

Parei de beber
Parei de pensar
não consigo dormir...

O colchão vazio me atormenta
Sem seu cheiro
não consigo...

Nem mais o vício me apraz...
O cigarro chega em vontades espaçadas
Não sei o que fazer com as mãos
Substituição sutil da sua respiração

Nociva solidão
beijos nuvem de fumaça
tristeza preenche o dia

sem você eu tento!

em estado letárgico atravesso a noite catatônica
ironia te encontrar na esquina de repente
olhos, lua, sombra....

falta o ar é impossível conter o sorriso.

Horse

Eloqüente cavalo com asas
Sobrevoa faminta metáfora
À galope.

Congelaria o agora
Momento presente
Instante preciso
Escolha sem hora

Olhar borboleta
Asas de lençol
Elogio só.

Solidão faminta
Desgaste de estar sozinha
Triste ausência de você
Falsas cores de silêncio
Lua sorridente no céu
Esquecimento ambíguo
Peito dói no canto da sala
Imensidão azul que falta
No meu coração.

Dad

Luzes piscam
Palavras de saudade proferidas
Luzes como velas fazem sombra
Ventilador transporta vento para lâmpadas
Você está por aqui

Eu sei
Você está aqui para me dizer que está bem
Que pensa em mim


O cheiro de alho vem do fogão,
Logo o macarrão vai ficar pronto
[madrugada]
converso com o lustre
me conecto a você
a luz volta ao normal
tempo passa
voltando para casa
poste se apagam na rua
na entrada da garagem
você acende a luz
chego em casa

-Olá papai! Cheguei!