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8.5.09

Madame Kaos e Pablo Neruda

Como chamar esse coquetel que mistura vodca com relâmpagos?

O que é que irrita os vulcões que cospem fogo, frio e fúria?

Não sentes também o perigo na gargalhada do mar?


De que ri a melancia quando a estão assassinando?

Não se incendiou a pradaria com os vagalumes selvagens?

Onde pode viver um cego a quem perseguem as abelhas?

Quantas abelhas tem o dia?

Não é melhor nunca que tarde?


Por que os imensos aviões não passeiam com seus filhos?

Há algo mais triste no mundo que um trem imóvel na chuva?


Por que as árvores escondem o esplendor de suas raízes?

Por que se suicidam as folhas quando se sentem amarelas?

Se termina o amarelo com que faremos o pão?

Para quem sorri o arroz com infinitos dentes brancos?


As lágrimas que não se choram esperam em pequenos lagos?

Ou serão rios invisíveis que escorrem até a tristeza?


Onde termina o arco-íris, em tua alma ou no horizonte?

E onde termina o espaço se chama morte ou infinito?


Não será nossa vida um túnel entre duas vagas claridades?

Ou não será a vida um peixe preparado para ser pássaro?

Como se chama uma flor que voa de pássaro em pássaro?

Quando lê a borboleta o que voa escrito em suas asas?


Onde encontrar um sino que soe dentro de teus sonhos?

É verdade que no formigueiro os sonhos são obrigatórios?


Que pesam mais na cintura,

as dores

ou as lembranças?



*Todas as frases foram retiradas do "livro das perguntas" de Neruda.

*O poema foi criado pela cabeça e capacidade de concisão de Madame Kaos.


*Madame Kaos é Juju Hollanda, Beatriz Provasi e Marcela Gianini.


*Este poema foi apresentado no VERSOS DA MEIA NOITE

- em 07/05/2009 -

na Fosfobox.

14.8.08

Parabéns Chacal. Alô CEP 20.000 - ninguém já te segurou e nem vai te segurar.

Emoção à flor da pele


Três em uma


Infância, adolescência e Saudade


Simplicidade pode ser um album de figurinhas

ou

Amigas com unhas e abraços de amigos, por favor.

Os 18 anos do CEP foi um desbunde! Um descalábrio! Uma delícia! - Tenho uma confissão à fazer: têm dias em que você se sente iluminada e sai por aí seguindo reto e pisando em pedras preciosas no jardim. Você faz dos braços asas e desvia de borboletas. Caminha leve como um cachorrinho recém-nascido. E sorri como a menina que ganhou o maior ursinho de pelúcia da loja de brinquedos.

Não sei o que me deu, mas minha voz tava suave e enquanto eu falava o primeiro poema parecia que uma música fraquinha ressonava em meus ouvidos. Senti também que algumas pessoas, que não mais carne hoje, estavam lá (que ele tava lá me vendo) e que gente que ainda existe hoje também tava lá comigo e eu tava sentindo tanta coisa junta...

Eu tava sentindo tanta coisa junto.

Eu falava leve e queria flutuar. Parecia que eu estava andando por sobre um riacho muito raso e que esquilinhos em pé olhavam para mim esperando que eu acabasse de falar para eles vestirem em mim meu vestido lilás, minhas luvas e meu sapatinho de cristal.

{Eu sempre que falo no CEP fico nervosa, tensa, trêmula. Não por ter medo de nada, mas por repeitar o evento, o meu grupo MADAME KAOS, os Deuses da Poesia, o Sérgio Porto, o Jockey, os Deuses do Teatro, o Chacal, a perfomance, os poemas e a própria palavra. }

Na terça eu tava agitada, mas plena, calma... uma energia boa... e pareceu por alguns momentos enquanto eu falava o poema das figurinhas que eu tava lá no Leblon aos 5 anos de idade entrando na banca de jornal comprando figurinha dos ursinhos carinhosos, da Barbie, do querido Pônei.

Senti a mão da minha mãe envolver a minha com firmeza para que eu não saísse correndo da banca para o carro, pois assim atravessaria a rua sem olhar e poderia ser atropelada.

Senti a mão da minha mãe apertando a minha como se dissesse: - Filha, hoje você pode se jogar. Atravesse a rua sem olhar para os lados. Você não vai ser atropelada. Confia em mim. Corre, filha! – e eu deixei que o vento me carregasse enquanto colava “post-it’s” no meu vestido, sentia o calor dos flashes da Maysa, estava na expectativa da Bia colar a figurinha em mim. E o vento me ventava pois sabia das lágrimas que o "poema dos amigos" da Bia me causa e eu voava e falava pensando encontrar no “masks” da Marcela o reflexo da minha saudade. Eu queria sentir na emoção da "Adriana e seus pianos invisíveis" o arrepio que de verdade senti. O calor que a voz grave da Adriana, suas palavras e o dedilhar da Marcela no piano me causou. O calor esse que de verdade senti.

Queria enxergar no olhar de todos os conhecidos, amigos e desconhecidos que estavam por lá - o que meus olhos de menina realmente viram naquela platéia. E gargalhando, abraçar minhas amigas e sentir outros abraços apertados de amigos, depois. Receber parabéns e brincar de catarse amigos. Cantar funk, bossa nova, pop rock, pagode, bolero. Inventar músicas; completá-las. Delicadamente roubar um golinho gelado da latinha do amigo. Tirar fotos; muitas fotos e sorrir.

Me segurei, mas me deixei ser levada pela emoção e naqueles minutos eu voltei a ser a menina loirinha de shortinho e galocha que colava figurinhas no álbum desejando ficar grande e quando adulta ser princesa, ter um pônei no quintal e amigos perfumados e coloridos (que tenho- [isso consegui!]) - enquanto "maleducadamente" jogava os pacotes vazios pela janela do carro.

Ali, senti que todo o vazio, os buracos e tristezas estavam sendo eliminados do coração e que alegria pode ser fazer parte de uma festa e acabar sendo a própria festa.

O aniversário do CEP para mim acabou como começou: com gosto de brigadeiro, jujuba, marshmellow, sorvete e bala de morango na boca.

Acabou como começou naquele despertar da criança que habita em mim e no sentir da mão do meu pai no meu ombro naquele palco iluminado.

*****************************

Ele sussurrou no meu ouvido palavras como: Orgulho. Filha. Pés descalços. Surpresas e lágrimas, mas isso já é outra história.

*************************

*Depois fomos para o Corujão da Poesia – Eu, Bia, Marcela e Adriana e refizemos o “set”. Diferente, mas ficou bom também. E eu falei duas vezes (pq foi pedido) o poema das figurinhas, mas ali, já estava plena e convicta de que cresci - afinal o CEP fez 18 anos enquanto eu incorporava meus 5 e ali na livraria me convenci de que - já estava com meus 30 novamente.

5.8.08

Devaneios de Coluna Social, por Beatriz Provasi - publicado em NUMA NOITE QUALQUER

Madame Kaos, Fausto, CEP e Bortolotto

Gente, não vou nem reproduzir porque não vale a pena, mas achei hilária a nota que saiu ontem no JB sobre a nossa apresentação da Madame Kaos com o Fausto Fawcett e a Orquestra Charles Bronson! O cara (ou mulher, sei lá quem escreveu aquilo) só faltou dizer que a gente fez uma suruba no camarim... e não tinha nada a ver! Disse algo assim, que o clima foi esquentando enquanto "as cervejas REBOLAVAM goela abaixo", gente, alguém já viu cerveja rebolar?!?! Muito tosco! Deve ser porque eles acham que se tem Fausto no meio tem que ter louras rebolando... aí na falta das louras, já que nós somos morenas, resolveu inventar outra loura pra rebolar! A Cerveja!!! só rindo mesmo. ( a gente até brincou com a coisa das louras no palco, entrando de perucas na hora da Kátia Flávia, mas em tom de brincadeira com o senso comum, porque é o que todo mundo espera) Aí depois a nota diz que nós, as meninas, "abraçadas", falamos "versos safados" no ouvido do Fausto. Porra, se decide, né, meu irmão, ou somos lésbicas ou oferecidas! O cara (ou mulher) usou várias palavrinhas pra criar um clima de erotismo que, na real, não tinha. Tinha a gente tomando cerveja com o Fausto, batendo papo e se divertindo, enquanto os meninos da banda estavam lá todos tensos com a apresentação, e a produção meio histérica, como todas as produções. E os "versos safados" nem são nossos, são do Mário Bortolotto, porque antes, no bar, quando a gente foi buscar cerveja, eu tinha comentado com o Fausto desse poema, e quando voltávamos ao camarim, lembrei que o livro estava no meu carro e peguei pra mostrar pra ele. Peguei o livro pra ler e Juju se juntou a mim, lemos juntas, nem "abraçadinhas" nem "falando no ouvidinho". Mas o que se esperar de uma coluna social, não é mesmo?! Nego adora apimentar as coisas... Em vez de falar da apresentação, fica inventando buxixo de camarim, e tudo fora de contexto! Mas na real, eu nem fiquei puta, não. Achei foi pra lá de engraçado! Meu dia ontem tava bem desanimado e isso me arrancou umas boas risadas... E pra quem quiser saber o que é Madame Kaos extra fuxico de jornal B, a gente vai se apresentar no próximo CEP 20.000, que comemora 18 anos, na próxima terça, dia 12, a partir das 20h, no Espaço Sérgio Porto, no Humaitá. E agora deixo vocês com os "versos safados" do Mário, que eu adoro!

A MIM ME GUSTA LAS MUCHACHAS PUTANAS*

Dessas que chupam as bolas
que entram de sola
das que não tem meio termo
que abrem as pernas e não pedem arrego
dessas depiladas, peladas, liberadas
eu as quero desarmadas
de boca esporrada
Eu as quero do jeito que for
tocando bongô
com a boca no microfone
chamando meu nome
no meio da chuva
dessas que passam gel no cabelo
que a gente flagra no banco traseiro do carro
dessas que dizem os diabos
que agarram o seu pescoço
que sempre dão o troco
dessas com aros em forma de brinco
que sabem segurar um pinto
essas entendem o que eu sinto
essas sabem que eu não brinco
se entopem de vodka assistindo Mtvê
essas nunca vão chorar por você
não vão mentir pra você
não tem por que
não vão contar histórias
não vão dizer que você foi a melhor foda
não vão querer seu sangue, só o seu dinheiro
não vão querer flores, nem caixas de bombons
não te arrastam pra igreja
só se encharcam de cerveja
e se eu digo: pra mim chega.
elas guardam o batom e vão embora
nunca estão de calcinhas
quando descem as escadas
estão sempre dançando
mordendo
chegando de táxi a uma da manhã
elas não são puras, são putas
não querem o céu
não sabem quem é Nina Simone
não querem o meu número de telefone
paixão elas tiram de letra
encaram qualquer treta
com uma chave de boceta
Adoro essas putas loucas
caindo de boca
que nunca ouviram um blues
fazem chupeta e dão o cu
Eu as quero sujas
num beco escuro, atrás do muro
meu pau abrindo caminho
desprezando carinho
fissura de vinho
na segunda-feira
gozando na primeira
comendo pastel na feira
maquiadas
peladas
desbocadas
a mim me gusta
que se fodam as puras
que gozem as putas

* o poema é do livro "Para os inocentes que ficaram em casa", que é todo muito bom!

29.7.08



Na próxima quinta, dia 31/7, a Madame Kaos (grupo poético formado por mim, Beatriz Provasi e Marcela Giannini) vai se apresentar no evento Amostra Grátis, do projeto Geringonça, no SESC Tijuca. Vai ser uma experiência nova pra gente, e não sei no que vai dar, mas tô bem animada! A gente vai se apresentar no workshow, com o Fausto Fawcett e a Orquestra Charles Bronson, que a gente só vai conhecer no dia, pq a idéia é a coisa rolar meio de improviso... É a primeira vez que vão fazer o workshow com poesia. Espero que dê certo! Mas eu adoro o Fausto e tenho certeza de que ao menos eu vou me divertir bastante!... E quem quiser curtir também, é só aparecer por lá. A partir das 17h, com entrada franca.

25.7.08

Ser Bia

Essencialmente livre. Gaivota sensível plana sobre o mar em busca de alimento. Asas longas –ora de ave, ora borboleta ou avião. Delicada, forte, leve, linda, máquina. Humana acima de tudo.

"Uma mulher que goza"(*) – goza a alegria, o viver. Uma mulher que emociona, se emociona. Chora.

Fenômeno da natureza. Estação do ano. Bebida preferida. Sorvete cremoso.
– Sim! Ela pode ser tudo que você imagina, mas não é fruto da sua imaginação; é real.
Ela existe e você pode tocá-la.

Abraçar, beijar, fotografar, brindar, sorrir, chorar com ela. Falar poemas, escutar, ouvir o que ela tem a dizer, acender um cigarro ou escrever versos para ela. Dividir uma cerveja ou um prato de batatas-fritas na madrugada ou amanhecer na padaria tomando sorvete de limão.

Ela escreve poemas. Ela te surpreende com um poema que escreveu em sua homenagem. Ela é vidente. Ela lê a sua alma. Ela te lê como um livro. Ela observa as estrelas, a luz da lua e o despertar do sol.

Ela é música! Ela é pop, rock, folk 'n roll. Ela pode ser funk, mas rima com samba, dança forró e se esbalda.

Ela é mulher – sabe o que quer, mas no fundo no fundo – escondidas entre o coração e o estômago; estão as coisinhas da infância que ela nunca jogou fora. A boneca preferida, os laços de fita, o beijo roubado atrás do elefante no jardim da infância, os brigadeiros que comeu, as guerrinhas de pipoca, o aprender a ler e escrever.

No fundo, lá, escondidinho num lugar que só quem é amigo mesmo sabe está a menina Bia. Aquela cheia de sonhos – que sabe o que quer – que corre atrás de realizá-los. Aquela menina risonha que sabe chorar. A menina que emburra a cara quando algum desejo não lhe é realizado. E isso não é mimo – é porque ela nasceu para ser rainha. Ela encanta todos em volta e ela sabe que ainda mora dentro dela aquela menina que de saia rodada chegava na festa e roubava a cena.

Não é a toa que ela fez cinema e agora faz teatro. Para roubar a cena! Para ser a cena, para estar em cena, para ser vista. Não por egocentrismo como muitos, porque se acha o máximo, porque no mundo só existe: ela, ela, ela dentro do seu eu, eu, eu – como muitos, repito- mas para plantar algo dentro dos passantes, dos ouvintes, dos espectadores, dos amigos, dos amantes, dos amores, dos fãs, dos críticos, dos poetas, dos observadores.

Bia veio como um feixe de luz para iluminar aquela plantinha que ainda não nasceu dentro de nós. A planta tem água, tem cérebro, mas não tem luz e Bia traz essa luz. Bia é o raio de sol que falta para aquecer o mais rochoso coração. Ela é a peça que falta naquele quebra-cabeças que há anos você tenta montar. Ela é o panfleto do candidato do partido da utopia que devia ser o da realidade. Ela é tudo aquilo que você sempre procurou, mas não tinha esperanças de encontrar.

Ela é o jardim mais florido e a tarde mais quente. É o acampamento mais divertido e a ponte mais longa. Ela é o sapato mais confortável e a bolsa mais cara do armário. Ela é tudo aquilo que você pode imaginar, mas não conseguiria, pois ela é única e deveria estar guardada num potinho protegida de dores, sustos, má-sorte, ingratidão, tristezas, males do mundo.

É ela deveria ser protegida, mas lembram quando lá em cima eu falei de liberdade? Então, ela não precisa ser protegida, pois é essencialmente livre e tem asas nos pés que a livram das quedas quando pula do abismo. Ela carrega nas costas um pára-quedas que às vezes não abre quando ela se joga do precipício. Ela cai, mas com uma rapidez nunca antes vista, aciona as molas que tem na sola dos pés e... ressurge.

Ela tem coragem que a guia por labirintos e tem habilidade para escapar deles. Ela tem um dispositivo que transforma lágrimas em combustível e perfume francês em alegria. Ela tem cabelos que voam como pássaro e olhos-holofotes capazes de iluminar uma cidade inteira. Ela tem um duplex com piscina, sauna e varanda dentro do meu coração. Ela pode ser "kaos" e calmaria.

Não! Ela é mais, muito mais do que isso. Ela é Bia. Gaivota livre. Essencialmente sensível. Asas longas sobre o mar. Desliza. Borboleta delicada. Forte avião-máquina. Linda humana. Alimento leve. Ave linda. Beija-flor. Completa acima de tudo. Estrela brilhante, planeta, cometa.

Bia pode ser tudo o que você pode imaginar e é.

Para Beatriz Provasi

(*)fragmento de um poema da Bruna Lombardi

27.5.08

Saiu no GLOBO de segunda (26/05/2008)

AOS 18 ANOS, A SAUDÁVEL IRRESPONSABILIDADE
26/05/2008

CEP 20.000 retoma hoje seus trabalhos no Teatro do Jockey antes de voltar à sua 'casa'




Perto de completar 18 anos, em agosto, o CEP 20.000 retoma hoje seus trabalhos no Teatro do Jockey, a partir das 20h, com entrada franca.

O Centro de Experimentação Poética criado por Chacal, que sempre revelou talentos na área da poesia, da música e da performance, está bem no clima de comemoração dos 40 anos de maio de 68.

— A grande diferença de 68 para agora é que a arte nos dias de hoje é muito voltada para o mercado. É o show business. Na época, era o show happiness, as pessoas iam para se divertir. O CEP ainda mantém um pouco aquela coisa contracultural, antimercantil — diz Chacal.

"Espaço de invenção
e de liberdade"

Para Chacal, o CEP cumpre um papel de revelar artistas e "cultivar uma atitude experimental em um momento em que tudo o que se faz é voltado para o mercado".

— Berço e palco de algumas gerações de artistas, espaço de invenção e liberdade, o CEP é o irresponsável que deixa entreaberta a porta da imaginação nestes tempo de abulia e mercado, nesta cultura impregnada de "Big Brothers".

Depois do incêndio no Espaço Cultural Sérgio Porto, o evento se transferiu em junho do ano passado para o Teatro do Jockey. Este ano, faz agora sua primeira edição. Haverá mais duas até a reabertura do Sérgio Porto, em julho, quando o CEP volta ao que Chacal chama de "nossa casa".

A edição inaugural de 2008 traz uma numerosa lista de atrações: Madame Kaos (trinca poética formada por Bia Provasi, Marcela Gianini e Juju Hollanda); o poeta, performer e editor da revista "Confraria do Vento" Márcio-André; o saxofonista, poeta e produtor do projeto MaPa, Marcello Magdaleno, em dupla com o poeta Chacal; o poeta e compositor Tavinho Paes; o poeta e cantor Edu Planchez; as poetas e atrizes Glauce Guima e Kyvia Rodrigues; as poetas Bárbara Araújo e Eliza Vianna; a poeta Alice Sant'anna; os poetas e produtores do evento Ratos Diversos Daniel Soares, Dudu Pererê e Carluxo; a poeta Cecília Borges e a atriz Verônica Debom; o bailarino e professor Márcio Januário; o professor, poeta, cineasta e performer Dado Amaral e seu Na Boa Cia Teatral do Colégio Estadual André Maurois; os performers e poetas Igor Cotrim e Gean Queirós; e o editor e cineasta Maurício Antoum.
Jornal: O GLOBOAutor:
Editoria: Segundo CadernoTamanho: 424 palavras
Edição: 1Página: 8
Coluna: Seção:
Caderno: Segundo Caderno

31.3.08

Poema da Bia Provasi para as mulheres

para as mulheres do poemática
para ivana arruda leite

a santa e a puta me habitam
na casa que sou
ora mosteiro
ora pardieiro
pouco bate a luz do sol
tenho hábitos noturnos
e hábitos de freira
hábitos me vestem de negro
coabitam na vastidão do escuro
ora clausura, convento
ora vento, raio, tufão
ora sussurro de palavras, oração
e o verbo se solta, o sangue ferve, vira verve
elas sentam juntas no meu colo para tomar chá
com pedrinhas de açúcar e tilintar de colheres
há pouco o que se falar
são mulheres
outras vêm brincar no jardim dos meus cabelos
são ainda crianças a me fazer tranças embutidas
uma me faz cócegas nos pés
só para eu dar risada sem motivo
todas moram em mim
as pequenas dormem cedo
a santa reza antes de deitar
a puta se deita acordada
há pouco o que se falar
todas têm medo
do escuro, de deus, do desassossego
todas rezam na hora do aperto
e guardam, sempre, a navalha entre os dedos