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4.5.10

das escrituras escondidas no monte mais alto (VI)

último gole
fecha a conta
vou para casa dormir
dormir
até não amanhecer

me mostrar até esconder
desafiar até ser desafiada
esquecer até ser esquecida
correr até perder a vontade
de respirar


-resgatar o fôlego e seguir em frente-

correr com os tornozelos cansados
correr, correr, correr
correr até voltar a andar
seguir em frente
na linha reta do asfalto

seguir na estrada
passos, passos
mais um passo,
parar.

seguri para frente,
mais um passo, sem descanso
com os tornozelos doídos
andar

-andar sem rumo-

seguir em frente
para a frente
mais um passo
os pés cansados
doendo

seguir em frente,
mais um passo, dois
sem rumo
-seguir-
parar um pouco
sem descansar;
andar.

almofadas descalças (II)

numa tarde ele disse: - eu te amo!
eu também; respondi.

os olhos cheios de lágrima com a descoberta
e assim a vida; seguiu.
digo; anos se passaram
sem para sequer nenhum lado eu olhei
até que  adeus chegou.

são assim os inícios até que o fim
se concretize.

das escrituras escondidas no monte mais alto (V)

escrever poema é difícil à beça!

não é fazer cena,
não é discursar sobre o abstrato

não é correr contra o tempo, falar de beleza e muito menos
de amor.

escrever um poema é gritar toda a dor que se esconde na porta dos fundos de um coração sem esperança
e que não se cansa de tomar porrada de vida.

escrever um poema é morrer um pouco a cada frase
e sem disfarce,
se descabelar diante de uma página em branco.

aos trancos e barrancos,
escrever um poema
não é exaltar a liberdade e nem viver a bohêmia
que salta dos poros a cada gole.

escrever um poema
é desgastante, difícil,
mas possível
em todas as impossibilidades!

escrever um poema é pesado como um elefante
é uma arte que consome a melanina dos cabelos castanhos.

escrever um poema
transforma qualquer cabelo saudável em branco.

escrever poema não é brando como sorrir

escrever poema é um eterno engasgar-se com espinhas de peixe
deixá-las atravessadas na garganta

escrever poema é como arrancar uma espada do peito sem tirar sangue
e sangrar ao mesmo tempo.

é sangrar e sangrar muito até não fazer, mas ter sentido.

escrever um poema não é a morte
e nem a vida
não é a ilusão e nem o concreto

não é um trabalho "stressante"
e nem a falta do emprego

não é o marido relapso
e nem a namorada vadia que dá para qualquer um

não é o cachorro abandonado
e nem o gato maluco que mija em qualquer dos cantos
para marcar território.

escrever um poema é uma casa que desmorona quando chove demais.

é o choro sofrido do trabalhado braçal que perdeu tudo.

escrever um poema
é passar para o papel todo absurdo do mundo em que vivemos
e nunca
se conformar!

das escrituras escondidas no monte mais alto (IV)

abriu a porta com a chave errada
-à ponta pés-
chegou em casa morta, torta,
bêbeda de dar dó.

passou a noite de bar em bar
procurando algum sentido em viver
enquanto carne,
indivíduo;
mulher.

encontrou olhares tortos,
desassossego,
pessoas boas e nem tanto assim.

encontrou homens impotentes,
mas com tesão.
oportunistas com tatuagem de líderes de guerrilha na barriga;
aproveitadores.

mulheres mal amadas,
homens infiéis,
olhos vermelhos de viagem e de medo.

patricinhas do funk,
cachorras da valsa
e estagiárias bem vestidas
de direito.

conseguiu quebrar a unha, tropeçar na rua,
voltar a fumar;
navegar

-navegar no asfalto-

à deriva, consegui pensar
pensar na vida
e sem nenhuma conclusão formada
abriu a porta torta
bêbeda e faminta de dar dó
e ensaiou
morrer.

das escrituras escondidas no monte mais alto (III)

era uma borboleta preta
feia, feiosa
diferente das outras.

feia, diferente das outras,
mas esperta
não era feliz e nem procurava a felicidade.

não estava em busca
-de nada-
apenas vivia,
voava; vagava.

passava por lugares,
sorria, conversava, brincava;
vivia!

estava no mundo apenas.

era diferente e não se importava com isso:
com a falta de abrigo,
com o desamor.

ela estava certa.
era diferente de mim.

das escrituras escondidas no monte mais alto (I)

extra large é a confusão que pulsa e deve ser expurgada de mim.
o que não sei e está dentro.
dentro, aqui dentro, martelando em mim.

o que conversa; espalha-se em pedaços, os retalhos
a intensidade
o que se distingue e o que não consigo distinguir
 - saber -
do que não sei o que é, mas existe;
insiste em mim.

nada está bom nem ruim
o que não fala, não diz, mas grita!
o que não sussurra, desafia, berra!

o que não diz a que veio
não versa, nem sussurra,
mistura mais a confusão.

empurra  para dentro a caipirinha açucarada e quente
que não bebi  e nem provei.
não provei porque não pedi
não pedi porque não sabia o que queria beber e ainda não sei.

não sei o que existe,
insiste, grita em mim,
mas é um grito alto
um urro de desespero
um berro que faz doer os ouvidos e de tão alto,
dá enjôo.

é como um pulo, um salto de desespero

é desesperador saltar assim do precipício
é desesperador saltar assim; parada
me faltam asas.

confesso que morri.

17.3.10

almofadas descalças (I)

a cabeça dói e os pensamentos se misturam com o balanço da última poltrona do ônibus enquanto a letra insistente de uma música desconhecida toma conta dos meus sinais vitais.

"there's a place I like to meet. there's a place I'd like to be".

a bateria faz as vezes dos pingos de chuva e o frio do ar-condicionado o queimado no meu dedo latejar. tudo no mesmo ritmo.

"there's a place where I be happy".

parece uma viagem de ácido. vozes sussurram ao fundo. instrumentos gritam. a chuva desaba com força e a avenida fica alagada. já transbordei há tanto tempo...

meus olhos esfumaçados não enxergam os seus. meus bueiros entupidos do lixo produzido nas ruas das minhas veias. pensamentos desencontrados, imundos na enchente, de mim.

não sei ser o que basta. nada me sobra. tudo se acaba tão rapidamente que não dá para fugir.

nunca fui corajosa o suficiente para ser covade.

7.12.09

sobre escaladas e maremotos (V)



ferrugem nas escadarias
-observei ao me esconder da chuva-

inspiração não resiste

aos pingos gelados
que sobrepõe o calor dos raios do sol
que ainda grita

raios de sol fritam os miolos

-não resisto a gritos nem a suor-

ferrugem estraga os degraus da escada
aos poucos
-reflexo do patrimônio público sem manutenção-

eu me estrago aos poucos também

do calor escaldante
da Sibéria dos ar-condicionados

-assim é a vida no Rio de Janeiro-

os pingos da chuva rebelde de verão
molham o mau-humor que desintegrou
o bom dia

o bom; o melhor do dia

-me falta paz-

escondo-me da chuva
da irritação, da TPM

é um berro que me tira a paz
assim, escondo-me de um eu que não precisa
ser visto

escondo-me do cansaço
que não me pemite dormir
nem quando exausta

desejo um eterno e sem volta
fechar de olhos
um entardecer anoitecer breve
para que esse dia acabe
e assim a chuva, o sol, o mau-humor

tenho medo de levar a vida com amargura

medo de perder a juventude
e de morrer sem nunca mais sorrir

o que me salva é o amor que tenho
e me carrega com braços fortes
e saudade

amor que me faz amante
que me faz
mulher

e me faz completa

nas tempestades

e nos desertos
sem oásis
nem miragens

1.12.09

sobre o balanço das horas (I)

"Todo mundo tem 15 minutos, só a pressa é que não tem"
Luiz Felipe Leprevost

Tic-tac.

uma frente fria se aproxima do litoral.
a última frase do livro que ela leu era em francês. -“il faut que le coeur se brise ou se bronze” .

Tilim.Tilim. Tilim. Crash!

vaso de cristal é sensível e racha com qualquer vento mais forte.
para quebrar-se basta um sopro, música alta, grito agudo ou grave.
cacos finos de um vaso espatifado espatifam-se pelo chão de madeira e camuflados nas frestas do sinteko causam cortes minúsculos no pé

e esse pé vai sangrar até que as portas das feridas fechem com uma cicatriz .
o coração também é feito dessa matéria prima
-transparente e frágil-

a diferença é que os ventos que passam por ele só conseguem rachá-lo momentaneamente.
ele se fortalece com o passar dos anos

-ao longo do tempo-ele se racha tanto...

que quanto mais anos são somados à nossa vida quanto mais dores
e tristezas nós vivemos mais aprendemos com as desilusões.

a cada uma, uma nova lição.
quanto mais aprendemos mais rápido as cicatrizes fecham, menos sangue espalhado e cacos de cristal vermelho pelo chão.

o coração se fortalece. os anos fogem dos olhos e o cristal do coração vira busto de bronze ou lápide.
.
Tic-tac. Tic –tac.

24.11.09

sobre elas e eles (III), por Juliana Hollanda


isolamento

estar isolada num
a par
ta
mento

cercada de paredes e móveis

- imóveis -

poeira que se acumula em meio às frestas
-se move-

partículas entram no nariz
espirro, cosquinha, risadas, irritação

-rinite!-

eu não disse que tudo seria assim?
não cantei a canção do minutos e segundos de inutilidade?

é, eu antecipei a explosão do microondas e te disse exatamente quantos minutos faltavam para o macarrão ficar "al dente" e você
nem escutou e foi jogar
videogame

agora estamos aqui diante desse mingau com molho de tomate e manjericão
e eu não te culpo por não ter me escutado
só porque estamos aqui
isolados do mundo nesse apartamento
e eu te amo

a gente nem precisa comer, sabia?

19.11.09

sobre cansaço e pó de pirlim pim pim (I)



Da série: Poemas inesperados
ou
do grito guardado
ou

o acaso bate à sua porta

lábios e labirintos
-emaranhados, teia, prisão-
saida

saída que se pensa
que se sonha
que se encontra

no sobre
na superfície
[na fronha]


loucura
- alistamento-
entregar-se ao momento
ao tempo,
ao vento,
ao movimento

consenso não é
exercício de gramática
equação matemática
e nem
asa-delta
voo livre
fio de alta tensão

não é o perigo
nem o abrigo

não é o se
nem o senão

pode ser música, esporte
ou falta de sorte

azar de amar a pessoa errada
-desilusão-

esconder as vergonhas
a insônia

-ultrapassar os limites-

saber-se forte
enquanto fraco
-linha reta, avesso, tchau -

saber-se mal
na bondade

correto na virtude
e na vontade

a amizade que abre portas
que bate palmas
e que faz samba para maluco
dançar

viver é isso: amar
ou estar perdido
num labirinto emaranhado
de lágrimas e lábios
naufrago
-no mar-

6.11.09

sobre cócegas na nuca e saudade (I)





Da série: “recordar é viver”
ou
“um GPS para a gente”
cartas, cartões, bilhetes
-encaixotados-

no meio da poeira, uma história engessada
movimento paralisado num passado
não muito distante, mas distante

uma mistura de juras de amor,
euforia
e palavras de conforto

ontem dormi com saudade de nós
hoje, continuo com essa saudade
e me pergunto:  onde foi mesmo que a gente se perdeu?

você prometeu me amar para sempre
e nunca me esquecer
-esse letreiro passou diante dos meus olhos umas dez vezes ontem a noite -

Agora/

{ agora não; há muito você tem família, uma nova vida – e entenda, eu não estou lamentando este fato... }

[e eu...]
-você sabe que eu também tentei ter a minha, aliás, ela começou antes da sua, mas... –

será que você ainda lembra de mim?
ou será que nunca me esqueceu?
  
[é diferente o lembrar do não esquecer, não é?]

eu me lembro do nosso encontro casual e do meu medo de apanhar da sua namorada que não era sua namorada
-naquela festa-

lembro de ter fugido da pista de dança quando me vi dançando a sua frente e lembro também da sua “suposta” namorada conversando com a dona da festa e me apontando e do meu : – ai! socorro! vou apanhar.

[Eu estava de “maria- chiquinha”, você lembra?]

e em uma das cartas você escreveu que queria me fazer “maria-chiquinhas”, seja lá o que isso representasse naquele momento...

-cartas. milhares de cartas...-

e na sua primeira, você pede desculpas por já estar enchendo meu saco, pois escreveu ela no mesmo dia em que eu fui embora de São Luis e voltei para o Rio.
nela, na carta, e você acha que vai me irritar por já estar escrevendo, tão cedo... eu mal fui embora, né? – e lembro também da sensação, da alegria de abrir e de ler aquela carta – foi uma realização tão grande, uma alegria tão plena que eu to voltando aos 16 e lembrando de como foi quando abri aquela carta e do que eu senti no nosso primeiro beijo, do cachorrinho de pelúcia que ganhei de natal ( e guardo até hoje)
 tão inesperado o nosso namoro,
nosso encontro ...

[inesperada nossa troca de cartas] 




nas cartas você parece estar conversando comigo. me dá tanta satisfação... que agora é a minha vez: você sabe que eu nunca esqueci que a gente só se conheceu de verdade depois que eu tomei  um porre e me enchi de coragem para enfrentar um dos meus maiores medos na época e na carta seguinte do meu porre,  você diz que não conhece mais a “menina” em mim e me agradece pelo “mulher” que eu despertei em você e eu acho que foi ao contrário, sabe... foi você quem despertou “a mulher” em mim e eu não sei porquê, mas estou com vontade de te agradecer por isso.

lembro que a gente expulsou seu amigo do quarto e tenho vontade de dar risada não sei porquê, mas talvez eu esteja feliz em despertar essas lembranças... e você lembra que quando tudo isso aconteceu a gente nem estava mais namorando?

naquela época era tão fácil encarar sofrimentos, medos, dores ... será que foi a época ou será que foi o fato de estar ao seu lado que me deu forças para encarar aquele turbilhão todo; digo, tornado, furacão?

 (...)

e eu me pergunto: onde foi mesmo que a gente se perdeu?

sabia que eu não me esqueço daquela vez que a gente foi numa lanchonete e a gente estava discutindo e você estava com um pouco de raiva, ou só triste, não sei – e você comeu tanto, mas tanto, mas tanto que me assustou? – sabia que toda vez que eu passo por aquele lugar eu visualizo a cena, nós dois na calçada e às vezes eu até sinto o seu cheiro...

eu tenho uma lembrança remota, porquê não falar; confusa de que eu cozinhei para você ... eu fiz macarrão? ou fiz uma torta de aniversário? Ou os dois? – eu lembro que tinha um lance de leite condensado, doce de leite, não sei... e eu lembro que você teve um trabalho para fazer e que me deixou em casa vendo VHS com um amigo seu... e quando você chegou... ah! lembro de você ter feito meus olhos brilharem!

e ontem, eu relembrei seus elogios. o quanto você elogiava minhas cartas, meu capricho em escrevê-las e do quanto xingava a sua letra feia e garranchada e a sua escrita monocromática, com apenas uma cor de caneta. naquela época, isso não me importava, aliás, hoje também não importa – sabe o que fica disso tudo?

as suas cartas empoeiradas, amarelando-se numa caixa, mas eu posso relê-las quando quiser, mesmo que espirre até o meu nariz explodir depois... eu guardo todas as suas cartas, cartões, bilhetes. você ainda tem algumas das minhas? não, não deve ter e eu entendo que não as tenha guardado. entendo mesmo!

ah! você me dava tanta satisfação que chega a ser engraçado! -“agora são 3 da manhã”, “tenho dormido pouco”, “vou te ligar amanhã ou domingo”, “não te liguei ontem porque fui para a casa do meu tio”...

morri de rir – não para debochar dos seus sentimentos, mas porque você era tão preocupado que numa das cartas leva um tempão querendo explicar a diferença entre “preocupação” e “sentir pena”.
você já podia imaginar que eu ia achar que você estava me escrevendo “por pena” e não queria ser mal interpretado. você era tão preocupado... que chega a ser engraçado isso hoje.

na época, beirava o dramático, mas não estou reclamando... estou feliz. tão leve em reler suas cartas, cartões, bilhetes...

[naquela época, não existia e-mail, nem celular]

existir? bem... existia, mas estava tudo tão engatinhando... assim como nós, dois jovens, em descoberta... engatinhado...

nós não tínhamos a menor idéia de como seria nossa vida em 2009 e na verdade eu não lembro de como eu queria que ela fosse eu 2009 e muito menos consigo me imaginar no mundo de hoje com o pensamento de ontem e se... eu ia estar feliz hoje com o meu pensamento e idealização de ontem, mas sei que hoje estou aqui em 2009 e estou feliz porque releio as suas cartas, cartões, bilhetes...

estou com o seu convite de formatura nas mãos e me pergunto: como teria sido eu ir nesse baile. teria mudado alguma coisa hoje esse acontecimento? – mas a pergunta não é essa e sim:  onde foi mesmo que a gente  se perdeu?




estou aqui sonolenta com você ao meu lado...

sabia que eu vou dormir com você essa noite e  a gente vai tomar café amanhã de manhã e depois... cada um vai seguir seu rumo, sua vida e eu vou deixar (à contragosto) essas lembranças todas adormecerem e virarem saudade novamente, porque vai ser mais fácil assim, para mim e para você...

e agora... o meu último suspiro antes de te dar um beijo de boa noite e da gente virar para o lado e de conchinha adormecer nesse colchonete no chão do mesmo jeito que aqueles jovens adormeceram em 1996...  mas hein, me fala uma coisa... sussurra no meu ouvido...

ei! antes de dormirmos, eu te pergunto: onde foi mesmo que a gente se perdeu?

29.10.09

sobre cantadas baratas e amores verdadeiros (II)



adoro o silêncio

o breve
e lindo silêncio
entre cada beijo

tagarelam apenas as línguas,
os lábios,
as sensações

adoro o silêncio breve
dos beijos em curso
dos olhos fechados
-e as conversas de nariz-

os beijos de casais apaixonados
no banco das praças,
na praias, no shopping
adoro!

e os sorrisos abobalhados,
as piadas "non sense"
e apelidos bobocas

os olhos cheios de estrelas
desses casais de namorado
na saída dos cinemas,
dos restaurantes,
das festas

-são cenas lindas de ver-

esses casais cruzando as calçadas
as mãos entrelaçadas,
os pés flutuando,
-corpos em ebulição-

a pressa de deitar na cama,
no sofá,
no chão

a correria para chegar em casa
ou no motel

-na cozinha, na sala-

o em pé embaixo do chuveiro
ou na banheira,
na sauna,
na imaginação ...

adoro beijos apaixonados
e o silêncio

que eles gritam
dentro do elevador


20.10.09

sobre eletricidade e luz de velas (II)



você me ignora e eu não ligo, pois sei que às vezes, e são muitas estas vezes, falo demais e também me canso de mim e da minha voz estridente a estalar nos ouvidos feito bola de chiclete.

você me ignora e eu não ligo, pois sei que às vezes, e são muitas estas vezes, bebo demais e começo a fazer confissões desnecessárias. e sei também, que é preciso ficar calada, mas não consigo ficar calada porque o excesso de cerveja faz o pensamento acelerar e ele foge pelas janelas dos meus lábios muito antes que eu pense que era melhor ter deixado as coisas guardadas, dobradinhas e com cheiro de amaciante dentro das gavetas do armário da alma.

você me ignora e eu não ligo, pois sei que às vezes, e são muitas estas vezes, que seus afazeres e leituras são mais importante que meus "olás", que meus "ois"...

você me ignora e eu não ligo, pois sei que às vezes, e são muitas estas vezes, que você está absorvido pelos seus próprios pensamentos e é mais interessante estar mergulhado no seu mar do que no meu oceano gelado e cheio de tubarões.

você me ignora e eu não ligo, pois sei que às vezes, e são muitas estas vezes, que eu assusto você com meu impulso suicida de pular no abismo e pagar para ver se lá embaixo tem um colchão macio, é terra batida mesmo ou pedra.

você me ignora e eu não ligo, pois sei que às vezes, e são muitas estas vezes, a gente sorri junto e se entende e sabe do que o outro está falando.

e eu não ligo. não ligo mesmo de você me ignorar, porque eu sei que a vida é assim mesmo e eu tenho que aprender a viver com a minha incoerência, com a minha liberdade, com a minha falta de modos e com a minha mania de falar "eu te amo" a toda hora e eu sei não vai ser fácil, mas sinto que a gente poderia muito bem viver junto e feliz, para sempre, numa casinha com cercas brancas e flores no jardim e sei também que é é esse o nosso desejo mais sincero e secreto. eu sei que é tudo isso que a gente deseja, por isso, eu não ligo.

não ligo mesmo para nenhuma poça que nos tire dessa estrada escura e cheia de curvas só porque chove torrencialmente na cidade.

Sobre doçura e desatino ( poema 1) - Versão 2


gosto de sair
- rodopiando pelas ruas -
nos finais de tarde

continuo a girar
e não ligo se alguma ordem
vem ao meu encontro,
nem percebo se os sinais estão nas cores
de "pare", "atenção" e "siga"

rodopio como guarda-chuvas
que desejam virar peão
naquelas dancinhas antigas
que fazia quando criança

sobre doçura e desatino (I)


Da série: 3 momentos 
ou
"absolut cuckoo"


gosto de sair nos finais de tarde
rodopiando pelas ruas
sem prestar atenção
se os sinais estão nas cores
de pare, atenção e siga


continuo a girar
e não ligo se alguma ordem
vem ao meu encontro


rodopio como guarda-chuvas
que desejam virar peão
naquelas dancinhas antigas
que fazia quando criança
 

meus dentes amarelados por anos de nicotina
são escorrega de micróbios e placa bacteriana


minha boca é um playground de micro partículas
de saliva e qualquer outras coisas


minha língua se diverte com sabores,
chicletes, tosses e
beijos
 
minhas unhas quadradas
e um esmalte sempre vivo


elas descascam, eu passo a lixa!

e quando não dá mais para disfarçar 

fujo para a manicure


colorir as mãos,
disfarça imperfeições

Spinning Around - pensamentos recorrentes, a nova série (I)


hoje de manhã sai de casa sem pentear os cabelos. fiz uma trança com a franja em crescimento e prendi o restante para trás num rabo de cavalo. percebi agora que o rabo de cavalo estava um tanto emaranhado e procurei por um grampo na bolsa. fiz então um coque desalinhado e ficou bonito.

não me entendam mal: não estava desgostosa da vida e nem com preguiça de procurar pela escova ( la estava na minha frente), mas eu queria mudar um pouco essa rotina de certezas que me cerca – algo assim como levantar da cama, colocar os chinelos e ir para o banheiro para o primeiro xixi do dia e depois banho e depois café da manhã e escovar os dentes e pentear os cabelos e dar tchau para a minha mãe e sair de casa.

eu não estava com nenhum pouco de vontade de pentear os cabelos e verificar os nós e as pontas duplas e os quatro dedos que preciso cortar dele. eu não estava querendo passar silicone nas pontas, creme para pentear no comprimento e nem fazer nada disso hoje, porque eu faço isso tudo todo dia e nada muda em dia nenhum e fica tudo sempre igual e a mesma coisa e igual a qualquer outro dia.  é só rotina, ritual, vontade de me enganar, acreditar em campanha de marketing de que se eu usar isso meu cabelo vai ficar assim, assado, cozido... não!


escolho meus produtos de cabelo pelo cheiro, pela embalagem, pelo preço, porque é tudo sempre igual e só isso muda: cheiro, embalagem, preço e nada mais. não consigo ser meticulosa para não dizer "fresca" assim como a maioria das mulheres. eu não consigo achar diferença nenhuma nessas coisas, a não ser, lógico, quando a gente vai a um bom salão, porque nesse caso, aí... muda tudo! a textura do cabelo muda. a nossa cara muda. o jeito que as pessoas nos olham, muda. e aí... repito; muda tudo! – mas hoje, nada ia mudar e eu resolvi sair de casa assim, com as cabelos livres de escovar e essa foi a minha escolha e isso mudou tanta coisa hoje.

e mesmo sem sabe o porquê deste texto  e o porquê de eu não estar conseguindo escrever nada que preste mesmo estando bem (deve ser por isso mesmo, porque eu estou bem) e sem saber quando vou voltar a ter ânimo de escrever e de falar em público e de sair de novo e de celebrar a vida eu estou bem, mesmo não sabendo do amanhã, se vou estar ótima ou pior que hoje, ou talvez um pouquinho melhor... eu estou bem. tirando a dor enlouquecedora no dedão do pé esquerdo.

não se preocupem com a minha dor, eu estou medicada, colocando gelo e  não vou sair para dançar como de costume. eu vou deitar na minha cama e sonhar com o meu lindo namorado e vou descansar e ficar calma, tranqüila e feliz e amanhã, vou pentear os cabelos como de costume e esquecer que hoje foi um dia comum como todos os outros mesmo que eu não tenha penteado os cabelos e vou dar tchau para minha mãe e sair.

16.10.09

sobre alma e reflexos no espelho (V)



translúcidos olhos
refletem o sentir sem máscaras
- da mentira -

sem máscaras,
a verdade aparece
no castanho dos meus olhos

sempre achei que os sentimentos estampados nas bochechas
desbotassem com o passar dos anos,
- mas não -
eles ficam mais marcados

são desenhados meticulosamente com a caneta de rugas
ficam mais evidentes com o passar do tempo

à cada dia menos sutís; as marcas
[sentimentos desenhados na minha cara]
sem disfarce

eu; exposta

7.10.09

sobre pipoca e formigas na cadeira (III)



sensibilidade nada mais é que habilidade de olhar diferente para a vida e sentir as paisagens. de escutar o que gritam, o que choram; o que já sofreram.

      [é perceber,
num relance

um raio de sol perdido 

e encantar-se com ele.]

Gabrielle (Coco) Chanel foi uma mulher moderna; à frente do tempo. uma mulher sofisticada  que via as coisas "nuas".

com olhar de simplicidade, ela modificou costumes, transcendeu "fru-fru's", abriu caminho para outras revoluções. sempre soube aonde ia e chegou lá no degrau máximo da sofisticação sem rebuscamento e continua aqui, na inspiração mais iluminada. ela foi a responsável pela desconstrução de costumes na alma feminina.

... delicada e forte como as pérolas que carregava no pescoço, ela sabia que o amor ,como Cazuza cantou anos depois, "a gente inventa". ela sabia que seria rica, famosa, célebre e seguida por hordas de mulheres felizes sem espartilho por baixo dos vestidos. ela foi a libertação, pois sempre teve consciência do que era
liberdade.

6.10.09

sobre pipoca e formigas na cadeira (II)





pessoas riem, pois a velha com Alzheimer está longe. lá na tela do cinema e não em suas vidas. as pessoas gargalham, pois a velha com Alzheimer faz xixi no meio da sala e manda a filha embora sem qualquer explicação. as pessoas acham engraçado a velha com Alzheimer fugir de casa e se assustar com o barulho do elevador.

é, deve ser realmente engraçado para essas pessoas ver um adulto voltar a ser criança e ter que ser ensinado a usar o vaso sanitário. esse deve ser mesmo um filme de comédia para essas pessoas que não têm uma velha com Alzheimer em suas vidas. esse drama que para elas é comédia, alegra suas vidas, mas para mim é drama e eu acho triste e eu me identifico e choro.
choro muito! copiosamente. não por ser chorona, mas porque eu tive uma velha com Alzheimer por perto e eu amo essa velha. a minha velha com Alzheimer não sabia qual era meu nome e nem o da minha mãe. a minha velha com Alzheimer era a minha vó e eu sinto muita falta dela.

* escrito depois de assitir " A caixa de Pandora"