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2.4.08

Será que ficamos mesmo feias assim quando...

PEQUENAS ALEGRIAS

Há um pequeno poema caindo do bolso da minha calça

Há estrelas caindo do teto da igreja

Há a garota assustada encolhida no canto da cama

Há o homem grande e triste segurando um copo de whisky

Há a mãe mentindo para o seu filho

dizendo que um dia ele vai ser feliz

Há os que acreditam em mães carinhosas e bem intencionadas

esses se tornam psicopatas ou suicidas

Mães não vão para o inferno.

Há uma espécie de limbo para as mães e elas estão todas lá

Há os que não prestaram atenção em suas mães

esses assobiam swamp music no metrô

e voltam para suas casas lendo “O Monstro do Pântano

esses terão apenas pequenas alegrias

como afagar a cabeça de um cachorro

ou abraçar o porteiro do restaurante

Mensagens fúnebres na noite de natal

mas eles já estavam preparados

por isso apenas enchem seus olhos de lágrimas

enquanto servem outra dose

ao contrário dos outros que arrancam os cabelos

e arremessam telefones contra a parede

esses que querem vingança

e acham que enganam Deus quando se ajoelham pra rezar

Os que não ouviram suas mães não rezam

apenas andam por aí

com seus pequenos poemas caindo do bolso de suas calças

e fazem de suas pequenas alegrias uma farra eterna

Há essas pessoas simples e evidentemente tristes

que enchem de alegria meu coração presciente

E há essas mulheres lindas que querem conquistar o mundo

e que inevitavelmente perdem todo o charme

quando procuram esbaforidas algo em suas bolsas.


Mario Bortollotto

26.11.07

Meus problemas com a bebida - Mário Bortollotto

"ela me dizia que eu tinha problemas com bebida
me dizia isso enquanto andava atrás de mim no supermercado
eu escolhia um vinho pra beber no jantar
na verdade eu tava indeciso entre um vinho e um conhaque
na dúvida levei logo os dois
e uma caixa de cervejas pra depois do jantar
e ela continuava falando rispidamente comigo
eu me sentia dentro de uma música do Bruce Springsteen
ela falava algo sobre viver e morrer como um perdedor
eu disse: “Que merda cê tá falando?”
ela fazia ballet e andava daquele jeito empinado que me deixava ainda mais oprimido
havia muita raiva naquela mulher
e a raiva te deixa com dificuldade de se expressar
e eu só precisava de um drink
abri o conhaque na fila do caixa e dei um gole
“Era sobre isso que eu estava dizendo”.
“O que?”
“O seu problema com bebida”.
“Eu não diria que é um problema. A bebida me ajuda nos momentos difíceis”.
“E esse é um deles?”
“Eu não estou muito a vontade”.
entrei no carro e abri logo uma cerveja
“Vai continuar negando que tem problemas com a bebida?”
“Olha, eu não tenho problema nenhum com ela. Às vezes quando bebo, eu arrumo mais problemas, só isso”.
nós saímos do estacionamento do supermercado e ela continuava falando comigo daquele jeito intolerável e pensei em meter o carro num poste ou algo do tipo, mas eu ainda não havia bebido o suficiente."