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21.5.09

Sobre imaginação e sorrisos (II)


Da série: não foi escrito por mim, mas para mim
ou
sempre surpreendida;
lágrimas em suspenso
ou
troca de cartas

-A RESPOSTA-

Querida Hollanda,

Parece até que sou um outro país mandando uma carta pra minha vizinha Hollanda, ou seria, uma prima distante de outro continente? Não sei se sou Itália, ou se sou França, ou Brasil mesmo, mandando uma carta agradecendo pelas influências que vieram daí. Enfim. Cá estou na tessitura de um tenor a cantar novamente as palavras que você me faz sentir. Sou um pouco lírico, mas nem tanto quanto você, pois, a gentileza e o cavalheirismo me fazem ser assim, Inglês.

No teatro sou criança e pareço um pouco com um olhar que vi você fazer ontem, é essa ternura infantil, de criança feliz que tento manter o tempo todo.

Ontem você passou aquele estado de concentração, tão difícil a quem lê e faz poemas longos como os teus, pois, vindos de você, são música, vendo você de pé com o microfone a caminhar entre nuvens, de branco, maquiagem borrada pelas lágrimas e uma voz que desafina lindamente... é ópera.

Assim, espantando as meninas que não se libertaram ainda, trazendo sorriso a quem sabe o que você faz bem, ontem, você disse quem era a quem não te conhecia. Claro que fiquei preocupado quando quase caiu entre os livros, e fiquei um pouco chateado, por pouquíssimos momentos quando entrou no seu transe empurrado pelo Camões. Você ficou falando da dor, da dor, da dor, que vem de dentro, que dói dentro, ou algo assim.


O poema do Camões:

Em prisões baixas fui um tempo atado,
Vergonhoso castigo de meus erros;
Inda agora arrojando levo os ferros
Que a Morte, a meu pesar, tem já quebrado.

Sacrifiquei a vida a meu cuidado,
Que Amor não quer cordeiros nem bezerros;
Vi mágoas, vi misérias, vi desterros:
Parece-me que estava assi ordenado.

Contentei-me com pouco, conhecendo
Que era o contentamento vergonhoso,
Só por ver que cousa era viver ledo.

Mas minha estrela, que eu já agora entendo,
A Morte cega e o Caso duvidoso,
Me fizeram de gostos haver medo.

Estamos aí, almas-gêmeas ou não, nos encontramos. Você me disse várias vezes que me adora, e pode dizer outras mais, pois, eu também te adoro, muito.

Um beijo do seu,

Lord Lake

18.5.09

Sobre [o que pode ser]

...realidade ou um abraço apertado (I)


Da SÉRIE: esta é uma carta de amor verídica
ou
sobre a impossibilidade do amor
Querida Amiga,

Preciso conversar.

A cada dia que passa tenho mais necessidade de conversar para entender porquês e também para me entender e sentir o que pode ser essa explosão de sentimentos que a cada dia que passa solta mais fogos de artifício no meu coração.

O despertar do amor é perigosíssimo, mas é tão lindo também... e quero entender a beleza dos olhares doces e dos apertos de mão, para me sentir menina outra vez e também para participar do crescimento de um outro que pode estar renascendo.

As pessoas se preocupam comigo, com a minha fragilidade e sei que você também se preocupa. Quero apenas te dizer que ele também se preocupa e é muito mais adulto que eu e, por isso, quando temos oportunidade de conversar - isso vira uma necessidade e dessa necessidade - surge a obrigação - e essa obrigação se faz presente - sempre!

Por isso escrevo para te tranquilizar, pois sei que você também se preocupa e por ser um assunto assim tão delicado - sinto-me no dever de te dar explicações e - peço ajuda - pois é tudo delicado demais e muita gente pode se machucar e não devia, né?!

Te confesso que essa história ( por mais que eu não possa vivê-la plenamente) é a história mais linda que já apareceu na minha frente.

É como um presente, uma flor arrancada de um jardim, o cheiro do melhor perfume e a vodka mais suave.

É bonito sentir meu coração bater forte e sentir as batidas do dele num apertar de mãos.

É muito doce e simples isso tudo por mais que se faça complicado diante de todas as implicações, barreiras, obstáculos e impossibilidades.

Confio em você e te amo!!!

Beijos,
S*

7.5.09

sobre acaso e cachos de uva (V)


Da série: Esta carta poderia ser um tête-à-tête


Querido X,


Sou melhor com as palavras no papel.

Na verdade, as palavras não se modificam - elas são as mesmas, mas assim eu consigo organizá-las melhor.

Você já deve ter percebido algumas das minhas dificuldades...


Estou escrevendo para te dizer que estou feliz. – mas isso eu já te disse e tantas vezes... - que você até deve estar cansado de ouvir. De ouvir isso. Essa simples palavra. Tão infantil, tão breve – mas lúcida, sabe?


[Nenhuma melhor para traduzir esse estado que você causa em mim – estado de felicidade.]


Eu sei que às vezes quero voar em velocidade rápida.Mais rápida que o vento, que meus pensamentos, que esse furacão que é o meu viver. O meu querer viver. - E isso tudo se acelerou com a sua presença. Com o seu estar perto de mim. Com a sua vontade de estar comigo.


[E isso me deixa feliz – porque eu também quero estar perto. Perto de você.]


Só escrevo porque como eu disse antes, a velocidade às vezes assusta e a gente está em processo de conhecimento, então, por isso, eu quero te dar a liberdade – não para me prender, me enclausurar – mas para dizer que eu estou indo rápido demais e que as coisas não podem ser assim.


Quero te dar a liberdade de querer ir dormir. De querer me deixar em casa antes de você dormir. Sei que às vezes exagero em função da minha necessidade de sono ser pouca e de eu ficar feliz na presença de amigos e mesmo em função da minha necessidade de viver – mas quero que saibas que o estar com você ultrapassa tudo isso, então você pode pisar no freio. No meu freio. Até puxar o freio de mão se for preciso, tá?


Eu, no máximo, vou dar um cavalo de pau, mas nada que me deixe machucada e nem machuque você. Só tome cuidado para ver se não vem outro carro do outro lado da rua para não causar acidentes, mas puxe. Puxe mesmo o freio de mão se for preciso.


A vida pulsa e é tão "curta para ser pequena” que necessita ser grande e na verdade, neste momento, sinto essa vida grande – por ter você por perto. Não necessariamente ao lado. Para não assustar você, e só por isso, para não espantar você de perto – desejo você ao meu lado.


Sinto que estás aqui e isso me conforta como um cobertor felpudo, um travesseiro fofinho.


E eu queria de antemão te pedir desculpas por alguma coisa. Por qualquer coisa que já tenha acontecido ou que venha a acontecer que te chateie e possa te afastar de mim.


Eu queria que a gente conversasse sobre as coisas, e, dessa forma, a gente vai conseguir sempre se entender. Entender o eu e você – assim como o apartamento que a gente começou a mobiliar.


Nunca esquecendo do eu e nem do você, mas sendo nós – entende?! – nunca deixar o nós passar por cima do individual, mas também respeitando nossa individualidade, mesmo que às vezes - essa individualidade possa machucar ou chateie o outro e - por isso - já te peço desculpas.


Na verdade, na verdade mesmo acho que devo agradecer, como aquele dia: “Obrigada Lua, estrelinha, moto, rua...” – Obrigada por trazer você novamente para perto, realmente para perto. Perto de mim.


Que seja infinito esse estado de felicidade que você me causa e que não se finde o nosso conversar, conhecer, ajudar... até que os dias mais distantes passem e a gente envelheça sem enferrujar, oxidar, quebrar, sujar ou qualquer adjetivo outro que se faça válido.


Imagino que você deve ter ficado chateado e hoje eu estou chateada pelo meu te fazer chatear. Eu sei que você é adulto demais e eu busco esse crescer, mas às vezes escorrego, por isso, prefiro sempre minhas sandálias de plástico e meus tênis de pano aos saltos.


Por isso escrevo – para dizer que gosto de ter-te perto.

Por perto. Bem perto

de mim.

Beijos,


J.

4.5.09

sobre acaso e cachos de uva (III)


Da série: "I am not for sale, before I am sold!"

ou

clichês e quase lágrimas


viver é estranho-“ultrapassa todo o entendimento”, como disse Lispector. ela sabia de tudo! absolutamente tudo, mesmo quando se questionava sobre o nada, o não saber, o “apesar de”.


ela sabia de tudo e eu tenho uma amiga que não sabe; o que ela sabe? sabe ? nada. não sabe de nada. não entende nada da sua falta de respostas, dos seus celulares desligados, do seu sumiço.

não entende o porque da sua falta de coragem em assumir que estava se envolvendo e estava feliz e ela. ah! ela... estava também tão feliz... em estar te conhecendo. feliz em se deixar envolver com seu carinho, cuidado. em se permitir estar feliz.


ela estava feliz. tão feliz!


não tem informação sobre o que aconteceu e evita pensar que aconteceu algo de grave contigo e recusa-se a pensar na hipótese de ter feito alguma coisa que causasse este afastamento. recusa-se desta vez a colocar a culpa nela e, você, em parte, também não tem culpa.


você só pisou no freio, mas o diálogo de vocês era tão aberto... tão sincero, sem máscaras, jogos, invenções e fingimentos.


o que você se permitiram compartilhar – enquanto troca- tudo o que vocês normalmente manteriam escondido e escancararam?! – as suas dores e até mesmo a expectativa, a entrega. foi tudo tão de repente. do início ao fim.


de repente vocês se esbarraram e ficaram conversando até o amanhecer naquela mesa de bar e de repente você largou seu futebol e a chamou para sair no dia seguinte e disse para ela: - “durma bem, princesa. minha princesa.” – na noite anterior - domingo a tarde vocês sairam e ela te deixou escolher o filme e ela gostou do filme.


ela não ia obrigar você a ver um filme “mulherzinha” e ela deixou você livre para escolher o filme e quem sabe não foi ali o erro. o desacerto?!


vocês iam almoçar na quinta a tarde e você tinha todos os contatos dela e ela também tinha os seus e vocês sabiam como se encontrar e ela respeitou a sua ida a aula e foi pro cinema para esperar a sua ligação e você sumiu.

ou puxou o freio

ou não teve coragem de assumir seus sentimentos para você mesmo,

mas de uma coisa ela tem certeza;

aliás

de duas,

só que, na verdade,

uma resposta ela já tem.


ela só quer saber: porquê você sumiu... sem dizer adeus?!


e espera.

Sobre imaginação e sorrisos (I)


Da série: Uma carta.

Querido Poeta,

Só agora consegui parar em casa para escrever. Na verdade para pensar - porque, por mais que tenha pensado - ou que sempre pense muito - os pensamentos ainda bóiam em minha mente naufraga.

Minha vida ficou subitamente agitada de quinta a tarde até hoje e há muito - não - tanta coisa me acontecia e em tão curto espaço de tempo.
Parece loucura, mas ontem, quando cheguei no evento, estava exausta!
Meu corpo gritava - "Pare!!! Preciso dormir! Quero minha cama, minha casa!!!" - e eu lá, puxando o limite e a minha mente não conseguia juntar mais nenhuma peça.

( Vi 2 filmes, conversei muito, uma história recém-começada acabou sem que eu soubesse o porque. Pensei, pensei, pensei. Falei muito. Trabalhei e dormi. Pouco. Muito pouco.)

Fiquei preocupada quando você disse não estar me reconhecendo, mas na verdade, aquele momento e - isso muito devido à sua presença - eu só queria sorrir. Olhar para você e sorrir. Sentir a energia do local e sorrir. Te ouvir e sorrir. - além do que, não consigo ouvir elogios - como os seus - que eu sei - são de verdade - sem ficar com as bochechas ruborizadas.

Há tanto tempo não te via e nem ouvia de você - que quando te vi lá - foi uma surpresa demais agradável. Muuuito feliz e eu só queria sorrir. Há muito tempo não sorria com tanta vontade, sabe?
Quero muito aprender a cantar. Há algum tempo penso em ter aula de canto e tenho arriscado soltar minha voz.
Achei fofo ontem você me pedindo para fazer o "dó", mas sem técnica, eu não sei da prática. Sem informação, não consigo compreender muito como é fazer um "dó". O que é isso... - mas você, mesmo dentro da minha intuição, tratou-me como se eu soubesse o que estava fazendo e na maioria das vezes, a minha espontaneidade dá essa impressão, mas na verdade - meu agir é intuitivo em demasia.

Recebi tantos sinais nesses últimos dias. Percebi tanta coisa... e por isso, talvez, não tenha conseguido escrever uma linha, aliás estou tendo uma dificuldade enorme de te escrever.
O teclado não obedece meus dedos.

Estou extremamente lisonjeada e feliz com seu convite para escrever sua orelha e na verdade, já tinha pensado em te mandar um texto que você poderia usar ou não no seu livro, mas agora com a oficialização do convite... ah! meu coração e mente em sintonia - ficarão muito gratificados em te retribuir esse "presente".

O que eu fiz pelo seu livro, não pense que faria com qualquer outro - e eu sei que por isso vc se sente especial, mas - vem cá: vc é especial! Se tornou especial e ter te conhecido me modificou de uma forma brutal - e eu te agradeço por isso, Poeta.

Quando digo, brutal, não pense em nada ruim... está sendo um brutal - bom "pacas"!!!
Não conseguia trocar tanta idéia, pertinente, com um poeta e por isso, o meu "agradeço ter te conhecido" e mais ainda "que você goste de mim enquanto também poeta e da minha fala".

- Isso se dá, pq a nossa interação, identificação é tanta...
- aliás a minha com você -
e o meu perceber sua reciprocidade -
foram imediatas
e nosso ritmo é parecido, ideias e
ideias -
também.
E por isso, estamos construindo - ou melhor - construímos o prédio que temos - se bem que - eu preferiria uma casa no meio da mata - cercada de passarinhos e cheiro de grama - mas o prédio, por hora já tá bom. Temos uma cobertura com varandas e isso já nos deixa um pouco em contato com a natureza que é o mais importante para uma boa qualidade de vida.

A única coisa, confesso, que me entristeceu - causada apenas por mim e meu atraso - foi não ter te visto falar seus poemas. Sentir seus poemas tão lindos... para que isso me desse a mesma sensação da primeira vez. O arrepio. O silêncio. O mundo parar à minha volta e o só existir meu e seu no recinto.
Deixar que seus poemas - mais uma vez e como sempre - me preenchessem e fossem colando caquinhos aqui dentro... como uma superbonder forte ou um bom analista.

A poesia de um grande e querido amigo... um irmão de alma. Um anjo de olhos negros e cabelos em caracol. Ah ! Poeta... é tanta coisa...

Uma felicidade que preenche e uma vontade de acertar sempre, mesmo quando a última coisa importante é falar, se bem que, palavras, ontem, certamente surgiram de meus olhos e o meu sorrir foi o poema mais belo que já tive a capacidade de escrever até o momento.

Agora...
estou sorrindo enquanto escrevo e assim,
te sinto perto.

Beijos,

J.

11.3.09

Sobre tubarões e peixinhos dourados (I)

Sobre aquilo que poderia ter sido...

Querido "Z",

Ando perdida na fumaça dos cigarros não fumados. Meus sapatos cor de prata remetem às cinzas que deixei de largar nos cinzeiros, nas esquinas, por aí.
Um sentimento esquisito me invade como frases soltas e me faz pensar no que é e no que seria de mim. No você, nele, nela e no meu eu.
Um lado é espelho. Equilíbrio. Segurança. O outro é diferença. Agitação. Desespero.
A segurança é a dor que não quero sentir daqui uns meses quando descobrir que você voltar para ela. Agitação é o que não devia querer, mas preciso sentir e isso ele me dá com propriedade.
A calmaria que você momentaneamente fotografa na minha vida, só poderá ser vista em álbuns de retrato, porque por mais que você represente para mim aquela casa com cerca branca e margaridas no jardim – eu sei que seria por pouco tempo...
Você não tem maturidade emocional para mim e sim para ela, que é seu cortiço, sua pensão de 412 quartos no subúrbio. E não digo isso porque ache que ela é menos que eu e sim, porque ela é tudo o que eu não posso ser para você.
Ela é seu desespero, seus traumas, seu complexo de Édipo e eu sou só a mulher que você faz feliz por amar demais e esse peso é mais, muito mais, do que seus ombros conseguem carregar.
Eu sei que a gente poderia já ter um filho de 2 ou mais anos e eu poderia estar grávida da nossa filha e a gente poderia dividir um apartamento e ter ido pra Europa de mochilão nas férias, mas eu também sei que ela organiza suas finanças e seus dvd's, seus compromissos e até a hora que você deve escovar os dentes. Ela mantém um pijama azul dobrado embaixo do seu travesseiro e te beija na testa e diz boa noite quando vocês vão dormir. E eu também sei que comigo isso seria totalmente oposto porque assim que você entrasse em casa eu ia tirar a sua roupa toda e te arrastar para o sofá e te contaria o meu dia e te beijaria inteiro e te serviria o jantar à luz de velas e tomaria banho de banheira com você e apararia a sua barba e dormiria completamente nua com a cabeça escorada na sua barriga e te acordaria no meio da noite com beijos e beijos e beijos. A gente nunca ia ter um dia igual ao outro e eu nunca te daria um beijo na testa e as nossas roupas ficariam sempre espalhadas pelo banheiro, pela sala e pelo quarto.
O seu sentimento de segurança comigo, seria sempre a falta de rotina e por mais que o seu consciente queira isso, no fundo seu inconsciente deve estar gritando: - “não. não. NÃOOOOOO!!!”.
Eu sou aquela que vai fazer você andar a 140 km/h porque isso me dá tesão e ela quer que você ande a 60. Ela é a sua chave de cofre e eu sou a porta aberta, as janelas escancaradas.
Por outro lado, você é todas as minhas certezas e ele as respostas que eu nunca vou ter. Ele transforma minha vida, meus sentimentos em montanha russa e você é meu carrossel com cavalinhos, pôneis e unicórnios.
Se você conseguisse se juntar a ponto de verdadeiramente saber que sou eu aquela que vai ser sua eternidade eu ficaria com você e seria sua por inteiro, mas eu prefiro me afastar e deixar que ele e o trem fantasma que ele representa na minha vida continue a seguir o caminho, porque eu sinto por ele uma vontade que é completamente diferente da saudade que eu sinto de você desde que você saiu da minha vida.
Então, se eu sinto saudade de ti, essa saudade vai ser para sempre e dor, eu não preciso mais sentir. Eu sei que não vou mais precisar chorar por você e nem por ele, porque eu vou transformar ele no meu bote salva-vidas enquanto você será sempre me transatlântico inatingível em alto mar. Eu não preciso mais ficar à deriva da fumaça dos cigarros não fumados.
Assim, a gente vai ser feliz; (in)feliz.

Beijos com gosto de eternidade,

"P".
.
Da SÉRIE: "Love hurts (but dancing like an idiot helps)"
ou
"esta pode ser mais uma carta de amor se (...)"

21.1.09

Sobre infância e liberdade (III)

Da série: Esta não é uma carta de amor, por mais que se proponha a ser.

Querido R.,

Certamente você vai estranhar depois de tantos anos receber um e-mail pessoal meu.

Isto vai te dar, possivelmente, a mesma sensação que eu tive ao acordar hoje de manhã e me aperceber que sonhei praticamente a noite toda com você.

O conteúdo do sonho não vale a pena falar até porque eu não lembro direito do mesmo, mas remeteu-me a várias situações passadas/vividas por nós ao mesmo tempo em que ocorreu a mais diversa situação e com várias pessoas (conhecidas) em volta de nós, enfim...

Lembro-me de uma enchente e tudo começou por causa dela. Você surgiu no meio da tempestade para me salvar e realmente não posso te dizer e nem imaginar o motivo para o meu inconsciente ter colocado você ali na minha frente com uma corda na mão e depois, nem como, esse mesmo, meu inconsciente conseguiu colocar a gente num carro comum que andava no meio do aguaceiro até nos deixar num lugar seguro com muita gente em volta. Esse lugar tinha o pé direito muito baixo e várias portas que de cada vez abertas, surgiam pessoas. Nessa algazarra, conversamos. Do conteúdo dos diálogos, não lembro, só de que foram importantes. Não é possível me fazer lembrar de que forma uma palavra costurava-se à outra e a outra até meu acordar hoje de manhã.

Não consegui entender o porquê de você ter surgido no meu sonho, mas hipóteses existem e, não sei por quê, também achei importante escrever este e-mail pessoal em forma de carta para você, depois de tantos e tantos anos sem nos dirigirmos a palavra, nem em telefonemas, nem por e-mail e nem pessoalmente.

Uma das hipóteses é que você também tenha sonhado, mesmo que remotamente comigo e nesta noite nossos personagens tenham se misturado um no sonho do outro. Pode ser também que você tenha pensado em mim e esse tenha sido um trabalho da “Matrix” para fazer com que nos comunicássemos, mas a mais plausível, para mim ao menos, para você ter aparecido no meu sonho tenha sido porque recentemente e bem recentemente falei de você para o meu irmão e contei a nossa história, não que me assombre, mas foi importante e, não sei, me deu certa nostalgia lembrar da última vez que nos vimos, daquele Natal aí em que nós, as únicas pessoas vestidas de mesma cor quase não se falaram e trataram-se, talvez como estranhos; da sensação esquisita que tive, e, ao mesmo tempo, o fato de eu me lembrar e linkar todas as situações importantes em que você esteve presente na minha vida e o meu pensar em todas as situações importantes da sua vida em que eu estava presente e em tantas outras em que me fiz tão ausente...

E pensar agora que estou escrevendo, em todos os "acordos" que fizemos, e no fio de lágrima que me escorre dos olhos agora ao lembrar do “Vô P.” e de como ele se foi “desconfiando”(lembra da frase que ele sempre falava? Eu lembro.) e de como os “planos dele” não deram certo e de como a nossa vida mudou e do quanto nos afastamos (mesmo sem querer, sem perceber) e agora que me dei conta disso, essa minha necessidade de, talvez, falar tantas coisas, mesmo que elas não sejam nenhum pouco significantes e nem significativas para você e nem mesmo um tiquinho importantes no seu momento de vida – ao mesmo tempo em que – essa minha necessidade de exposição que não é uma necessidade de exposição crua e sem sentido, seja, talvez, a atitude mais corajosa que me vejo ter depois de anos em que me dediquei a realizar velhos sonhos de infância e resgatar amizades, fazer novas e me tornar um ser humano melhor.

Pensar agora, nesse tempo todo, no porquê não te procurei para “dizer/escrever” essas coisas e no porquê de estar fazendo isso neste momento, e na forma de fazer isso, assim tão de repente e, com tanta carga de tanta coisa... mas meu coração bate mais forte a cada digitar e eu sinceramente não gostaria de estar me sentindo assim e por mais que eu ache que não deveria, eu preciso escrever o que escrevo e te mandar esse e-mail ( a sorte é não ser mais de meia-noite, pois senão, não conseguiria fazer as contas do “google”, mesmo sóbria). Engraçado que também não sei mais se o seu e-mail é o mesmo e não tenho o seu telefone para confirmar seu e-mail e não acho que esta carta deva ser enviada pelo correio.

Neste momento, há um furacão dentro de mim que me impede de descolar os dedos do teclado, os olhos da tela e a bunda da cadeira para ir almoçar e sim, estou tirando meu horário de almoço para te escrever, até porque não conseguiria comer nada porque toda a minha fome, neste momento, resume-se a todo esse senão e a tentar falar todas as coisas que não estou conseguindo dizer agora.

Este momento, resume-se a todas as palavras não ditas e sentimentos não sentidos envoltos numa carga de tudo o que já foi dito e vivido e a tudo que quer ser explicado, mas não deve e a tudo que já passou com a correnteza (enchente) e a tudo o que ainda dança no ar tão rarefeito que se permite respirar.

Talvez isso tudo que estou escrevendo não signifique nada, ou signifique muita coisa, ou tudo. Talvez isso tudo seja entendido ou não seja necessário ser (entendido) ou talvez tudo isso não seja necessário se falado e poderia ter sido suprimido como todas as palavras não ditas e os olhares não dados em todos esses anos que ficaram para trás.

Talvez o meu retorno de saturno esteja ocorrendo fora da época, eu esteja “amaluquecendo” ou já seja ou esteja completamente maluca, ou tão sã, que seja por isso que esteja precisando te escrever e contar que sonhei com você esta noite e não sei o por quê.

Sei que isso tudo não necessita de explicação e nem resposta, até porque sou eu que preciso escrever essa coisa toda e talvez isso seja tão confuso ou fora de hora ou o momento pode estar sendo o certo para te escrever/dizer tudo isso ou talvez isso não seja nada.

Peço-te perdão, caso isso tudo te confunda e te mando o meu mais belo sorriso caso entendas tudo, quando, eventualmente, você leia este e-mail, mesmo que talvez nunca tenha certeza que você o leu. Caso leias, saberei, pois um beija-flor, sim, sempre aquele, o nosso beija-flor vai vir aos meus ouvidos e contar. Ele é tão eficiente que até uma foto Polaroid vai me trazer do seu rosto no momento da leitura.

Enfim, sem mais me explicar e ou confundir, despeço-me de antemão te desejando um Feliz Aniversário, mesmo que falte ainda mais de um mês para essa data.

Beijo da sempre,

P.

(*) Isto é uma obra de ficção, mas representa a verdade.

(*)Todos os nomes foram substituidos por letras que podem ser as iniciais verdadeiras de cada participante ou não, para que a identidade de cada indivíduo ridículo que ama genuinamente fosse preservada, pois há muito poucas pessoas assim neste mundo e talvez eles sejam todos de outro planeta e estejam fazendo pesquisa de campo no Brasil

22.12.08

Sobre infância e liberdade (I)

Da série: "Todas as cartas de amor são ridículas".


Querido G.,

Ontem a noite na festa em que você não pôde estar presente, lá pelas tantas, falamos muito de AMOR.

Amor como uma forma genuina de troca de energia, emoção. Amor como sentimento, como palavra, como asa, como permissão para discordar, mas não desrespeitar.

M. falou que a minha idéia do que era amor, para ele poderia ser traduzida como carinho e que amor era uma coisa diferente. Que a gente amava quase sempre, por essência, esperando algo em troca, mas eu discordei dele e tenho convicção de que as coisas muitas vezes funcionam como funcionam por causa de apenas isso: DO AMOR.

E eu falei também em como o amor era ridículo no bom sentido da palavra e que só quando a gente ama a gente se permite ser ridículo, sem máscaras, sem "quais quais quais", sem uma porrada de coisa que a gente constrói em volta do nosso umbigo, entende?

Então, é por isso que me deu vontade de dividir isso com você, porque você não tava lá e eu queria que você estivesse. Porque você é uma das poucas pessoas que me fazem falta na vida, falta assim para conversar, ouvir, olhar. Falta assim nesta forma ridícula de amor amigo, genuino.

De amar por amar de forma natural e gratuita. Um amor assim leve que como folha de papel voa em direção ao outro e, por isso que eu, agora, com minhas próprias asas estou chegando perto de ti através deste e-mail que nasceu da vontade de ser criança de novo e ter crescido contigo, dividido adolescências e de ter recebido ponta-pés nos jogos de pelada quando eu me metia no meio, porque eu queria experimentar a sensação de ser menino, e você gritava: Sai daí Sachêt!!! você vai machucar os joelhos.

Senti saudade das vezes que eu te implorei para brincar de boneca comigo e você levou o castelo do He-man e o esqueleto para a minha casa e a gente virou o meu quarto do avesso enquanto você atirava raios para exterminar toda a minha coleção de "Querido Pônei". Lembra que a vovó entrou no quarto e deu uma bronca na gente e depois levou na bandeja bolo de chocolate e suco?

Senti hoje saudade de todas as fotos perdidas e da nossa viagem para a Disney. Eu tinha 10 anos e queria ver o "gato da Alice" e a "Cinderela" e você já estava com 16, mais interessado nas garotas da excursão e lá você comprou a sua primeira câmera de filmar e carregava aquele trambolho para tudo quanto era lado e filmava as meninas. E, eu lá, comprando bonecos de pelúcia e chicletes me senti à margem de você, mas mesmo assim, faziamos guerrinha de ketchup e mostarda na lanchonete e ríamos muito. Essa era a única hora em que você se permitia ser criança como eu. Você ainda guarda aquele dragaozinho de pelúcia que eu te dei?

Lembra que mamãe deu todo o meu dinheiro para você e pediu para que você só me desse 20 dólares por dia e você me devolveu todo o dinheiro no avião e deixou que eu gastasse do jeito que eu quisesse porque confiava em mim? - então... essa nossa amizade é tão duradoura e extensa que mesmo que a vida nos guie por caminhos diametralmente opostos, estaremos sempre juntos em pensamento, em essência, em alma.

Mesmo que a vida nos afaste e nos dê sustos a gente pode lembrar sempre das festas americanas, dos discos de vinil e das cartas trocadas. Das viagens para o sítio e daquele tombo de cavalo que eu levei.

Você ficou acordado a noite toda do meu lado falando sem parar para que eu não dormisse. Você suava e estava tão nervoso... e segurava a minha mão e falava : Sachêt, não dorme. E quando eu ameaçava fechar os olhos você virava para mim e dizia: -Ai q vontade de te bater!!! - e, eu repetia: -De mão aberta para não deixar marcas!!! - essa era nossa brincadeira secreta - e eu fiquei um mês de cama com o fêmur quebrado e você ia me visitar todos os dias e até faltava o inglês algumas vezes. E você me levava chocolates e a gente ria a beça juntos e foi ali que eu comecei a escrever e a pensar em ser escritora e você me estimulou, aliás, foi meu primeiro fã e logo depois vc foi morar nos EUA e eu senti tanto a sua falta...

As cartas demoravam a chegar e às vezes eram extraviadas, mas a gente sempre dava um jeito falar ao telefone.

E quando eu morei em Londres você foi me encontrar lá. Você ouvia reggae e eu na fase punk e a gente resolveu não ouvir mais música quando estivéssemos juntos para não brigar? - e aí a gente foi ao parque de Diversões e você segurou a minha mão na roda-gigante enquanto eu tremia de medo e chorava. Tempo bom, aquele...

Aí, logo depois que você voltou eu também voltei e você ganhou seu primeiro carro, ele estava com plástico nos bancos ainda e eu fui a segunda pessoa a andar nele, porque a primeira foi a sua mãe e a gente foi até a Barra e voltou em menos de 20 minutos e depois a gente foi ao cinema? - e quando eu casei que você me ajudou a escolher os móveis e me deu aquele par de cachorros azuis franceses de porcelana que você comprou no antiquário e escreveu no cartão: "É um presente meio brega, mas já que vc pediu... aí vai." - e eu sempre namorei aqueles cachorros, lembra que eu falava deles desde quando mamãe foi a Paris e trouxe um par para ela? - e eu falava que quando tivesse a minha casa eu ia querer um par daqueles e você ... não sei como, depois de tantos anos lembrou disso e me deu de presente!

Que memória. Quantas coisas para lembrar. RELEMBRAR...

Ser ESPECIAL é LUXO de poucas pessoas e você é uma delas, meu amigo de infância, meu irmão de alma, meu querido G.

Sem mais...

Beijos e muitas mas muitas felicidades mesmo,

S.


(*) Isto é uma obra de ficção, mas representa a verdade.

(*)Todos os nomes foram substituidos por letras que podem ser as iniciais verdadeiras de cada participante ou não, para que a identidade de cada indivíduo ridículo que ama genuinamente fosse preservada, pois há muito poucas pessoas assim neste mundo e talvez eles sejam todos de outro planeta e estejam fazendo pesquisa de campo no Brasil.