11.6.08

jorro


era tarde
debruçada na janela
lágrimas a vazar nos passantes

torradas espatifavam-se nas mandíbulas
o farelo a dissolver na língua falava verdades

ela não tinha fome; porque então comia

ela tinha medo; de que?
ah! De tanta coisa que era até difícil separar as pedras do dominó.

ela sentia-se amada e amava. uma dádiva pensariam uns. um tormento outros.

a desilusão estava perto ou era incerta? inevitável talvez. impossível, ela diria.

ela não desejava, mas tinha medo e queria ter todas as certezas em todas as horas. ela queria perguntar se ele estava ocupado e ouvir um: não! tenho todo tempo do mundo para você. ela tinha medo de telefonemas sem eu te amo. ela pensava que talvez estivesse ligando demais para ele, mas ela não conseguia respirar sem escutar aquela voz ao menos 2 vezes por dia e ela queria dormir junto todas as noites e não podia, pois ele estava longe.

a noite longa.
fazia-se tarde.
contemplando a paisagem; ela.
farelo de torrada a cair na calçada.
lágrimas atiravam-se nos transeuntes.

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