quando eu era adolescente eu tinha uma amiga e ela vivia solteira. eu às vezes tava acompanhada, mas quando as duas estavam solteiras e gente combinava e mandava buquê de flores no dia dos namorados uma para a outra, com um cartão escrito: blábláblá do seu admirador secreto... – e a gente ficava muito feliz nos enganando.
a gente sabia que aquele “admirador” era alguém que não existia; um amigo imaginário que estava no imaginário da amiga e não no nosso, mas a gente não ligava. a gente, se divertia e se sentia amada, querida... sei lá o que devia se passar na nossa cabeça de adolescente naquela época. *rsrsrs*
depois, a gente cresceu e esqueceu dessa bobagem. eu namorei e me casei e passei a comemorar dia dos namorados com ele. foram 8 anos e era como se a gente escapasse da vida de casado, dos compromissos... era dia de sermos namorados, de agirmos como namorados.
trocar presentes, comer fondue, tomar vinho e acabar a noite de preferência em alguma cama impessoal longe de casa. longe do nosso quarto que tinha um filtro dos sonhos pendurado atrás da cama. longe das nossas máscaras árabes de couro.
aqueles dias 12 eram o tomar banho num banheiro de granito e o enxugar com toalhas finas e já usadas por muitas pessoas. eram dias de não estar cansados com dor de cabeça. eram o não colocar os pés no sofá e grudar na televisão. eles demonstravam que mesmo que por inúmeras vezes tivéssemos brigado por motivos fúteis e reclamado um do outro sem parar, existia ali, naquela relação uma esperança, existia amor e fantasia. era bacana.
o último dia dos namorados que passei com ele – lembro que a gente tava meio brigado, a gente trocou presentes, mas ficou em casa e pediu uma pizza. sim, o casamento tinha acabado assim como o amor, o mistério, as fantasias.
não falamos sobre isso naquele dia e nem nos meses que se passaram. veio 2005 e dia 25 de janeiro nos vimos pela última vez e falamos tchau. um tchau sem beijo no rosto, sem aperto de mão. apenas um tchau. sem palavras doces, sem desejos de felicidade.
um tchau seco seguido de lágrimas e desesperança. esse tchau depois ficou cheio de raiva, depois cheio de orgulho e depois desapareceu. esse tchau virou uma parede branca de onde não consigo retirar nenhum sentimento. esse tchau simplesmente morreu, assim como todos os o “ois”, e os “sins” e os “eu te amo”.
em 2005 eu tava no dia 12 de junho numa relação fadada ao insucesso, [mas sabendo disso], com um cara mais velho que não me assumia. na verdade, nem era uma relação, segundo minhas amigas, e minha terapeuta na época. na verdade, eu só reparei isso depois que passou, mas reconheço que o estar com esse cara me fez descobrir o “ser mulher”, me ajudou a liberar a mulher em mim, e isso foi bom. eu dei para ele de presente de dia dos namorados um bolo nega maluca que eu fiz e isso foi divertido! a gente ficou junto 7 meses e acabou.
em 2006, um mês antes dessa data, comecei a namorar um megalomainíaco que era metido a cantor e pianista. ele era engraçado, me fazia rir, agradava todas as minhas amigas, mas não me fazia feliz. dei para ele um poema e uma almofada da Audrey Hepburn. ele me deu uma caneta Cartier (da sua coleção particular), um cartão e uma música de Chopin (no piano tocada por ele). foi tudo muito bonito, mas era tudo fantasia. não tinha verdade e nem sentimento naquilo. era um total "forçar a barra". eu desiludida, ele desiludido. um tentando ver nos olhos do outro aquele outro e nada. ficamos juntos 2 meses. foi ruim, mas foi bom.
em 2007 eu tava mesmo sozinha e não tinha mais a amiga que me mandaria flores e um cartão de mentirinha. então eu comprei uma garrafa de vinho, um maço de Marlboros, me tranquei no quarto e comecei a ler Bukowski bem alto. minha mãe e meu irmão estavam viajando e eu fiquei sozinha ouvindo punk rock e recitando Bukowski. dançando, fumando e tomando vinho. eu dormi feliz aquela noite e o ato todo em si, mesmo sem planejamento, foi libertador. tão libertador que virou um poema e está no meu livro. uma noite que tinha tudo para ser triste e solitária foi cheia de poesia e revelçaões. foi uma noite diferente e feliz.
esse ano passarei acompanhada. estou há 7 meses já acompanhada e feliz, muito feliz. já dei o presente dele antecipado e dele não espero e nem quero ganhar nada, pois só o estar do lado, o ouvir a voz, o sentir as mãos, o cafuné já são presentes valiosos demais. o "eu te amo". o "a água do chuveiro ainda não tá quente o suficiente para você tomar banho". o "eu te quero". o "você me fez descobrir a minha capacidade de amar"; já são o suficiente. até mais que isso.
eu de verdade quero ficar com ele para sempre, mas não quero fazer dos dias dos namorados uma válvula de escape das insatisfações no casamento e nem despejar nele as infelicidades e frustrações do dia a dia. eu com ele vivo num eterno dia dos namorados e que esse e todos os outros sejam para nós (eu e ele) no nosso “seja infinito enquanto dure” dias normais, comuns, divertidos, sensuais e felizes.
3 comentários:
Não estou sozinha , nem vc está, tampouco desejo que estejamos, mas se algum dia houver de acontecer, mega topo ser a sua amiga que troca presentes como admirador secreto.
Foi aqui que me apaixonei ó:
"eu fiquei sozinha ouvindo punk rock e recitando Bukowski. dançando, fumando e tomando vinho. eu dormi feliz aquela noite e o ato todo em si, mesmo sem planejamento, foi libertador."
adorei a parte das flores! eu e marcela já pensamos muito em fazer algo do tipo, mas somos namoradas muito relapsas... acredita que ela vai me abandonar nesse dia dos namorados?! também adorei a história do bukowski, não sabia que a experiência tinha sido num dia dos namorados... e fico imaginando a cara dos seus ex lendo o que vc escreveu sobre eles... por fim, a parte dedicada ao mábio é simplesmente linda! feliz dia dos namorados! beijos!
Sun e Bia,
Sim! Passar o dia dos namorados com Bukowski foi sensacional. Ele foi a melhor companhia dos últimos anos e sei que será para sempre... rsrsrsrs
Ano q vem estaremos todas comprometidas, mas mesmo assim vamos trocar cartas e flores fictícias para enchermos nossos namorados de ciúme? rsrsrsrs
Bjos
Ju
Postar um comentário