27.11.08
Sobre agulhas e tempo (IV)
era quando
uma certa manhã
o ir-se de passarinhos avoados
na janela
sozinhos com você
dando risada
risada de tudo que foi
do que já foi de você
ali pendurada naquela varanda
sem tirar os olhos da rua
com o coração aos sobressaltos
jogando abaixo seu armário
enchendo as pernas de creme hidratante
a cada respirar
passando perfume nos punhos...
cena mais patética de toda a patetice do mundo
todas as tardes perdidas a escolher roupas
sonhos esmagados nas solas de sapato sem salto e
todas as bolhas no pé
e os dias sem comer
e todos os goles de água com açúcar
e todas as lágrimas e o vinho desperdiçado
todo o amor e caretice junto com seus cabelos no ralo do chuveiro
toda a criatividade que você deixou que levassem
todos os ombros em que já derramou desafios
os arrotos que deixou de dar.
toda essa sua babaquice
[tiros no pé]
fios de ovos e toda a pólvora que você já comeu serviram para algo
além de te deixar com enjôo e anemia?
e todos os passarinhos que deixou de contemplar enquanto perdia tempo?!
isso valeu para te alimentar?
hoje, um beija-flor visita a sua varanda todas as tardes
para ele não há flores como antigamente
apenas folhas secas, vasos vazios, adubo e casca de ovo ressecada.
não há mais flores e você gargalha
ele te espera retomar o fôlego e vai
você espera pelo dia seguinte
olha no espelho e avista a saída.
Há! Saída.
26.11.08
sobre nuncas e crises de ansiedade (V)
tudo misturado no aqui dentro
partes de frases costuram-se de medo e de "nãos"
impossibilidade na ponta dos dedos e um carretel sem ponta de linha para puxar.
não sei por onde começar ou terminar o que já está em andamento e preciso tecer minha colcha de retalhos habitual.
tanto por dizer perdido pelas estradas internas de meu corpo...
tanto por fazer, a dizer, a destrinchar...
é como um frango que a gente depena e dilacera para escaldar na panela de pressão para depois cozinhar com quiabos, servir com arroz.
é um lamber de beiços e limpar com o guardanapo. um gargalhar depois do almoço.
uma eterna festa sem convidados dentro de mim.
um contínuo bater de portas e malcriações.
um quer comer vendo tv,
outro está de dieta
e eu aqui, com milhares de "tuperwares" na geladeira cada um com um restinho de comida que eu não gosto
uma bagunça louca que eu não gosto
e milhares de pensamentos perdidos no tempo
esse tempo que venta ordens no meio da tarde
um fazer não fazer contínuo
de um não sei o que infantil
na indiferença de um dar de ombros e olhar para a frente
é como quase achar que é a mesma coisa
o encontrar de um abismo onde não se quer chegar
e um vôo sem asas sobre um despenhadeiro.
13.11.08
12.11.08
Achei bonito...
As mulheres voam
como os anjos:
Com as suas asas feitas
de cristal de rocha da memória
Disponíveis
para voar
soltas...
Primeiro
lentamente: uma por uma
Depois,
iguais aos passaros
fundas...
Nadando,
juntas
Secreta: a rasar o
chão
a rasar a fenda
da lua
no menstruo:
por entre a fenda das pernas
Às vezes é o aço
que se prende
na luz
A dobrarmos o espaço?
Bruxas:
pomos asas em vassouras
de vento
E voamos
Como as asas
lhe cresciam nas coxas
diziam dela:
que era um anjo do mar
Rondo alto,
postas em nudez de ombros
e pernas
perseguindo,
pelos espaços,
lunares
da menstruação
e corpo desavindo
Não somos violencia
mas o voo
quando nadamos
de costas pelo vento
até à foz do tempo
no oceano denso
da nossa própria voz
Sabemos distinguir
a dormir
os anjos das rosas voadoras
pelo tacto?
Somos os anjos
do destino
com a alma
pelo avesso
do útero
Voamos a lua
menstruadas
Os homens gritam:
– são as bruxas
As mulheres pensam:
– são os anjos
As crianças dizem:
– são as fadas
Fadas?
filigrama cintilante
de asas volteando
no fundo da vagina
Nadamos?
De costas,
no espaço deste século
Mudar o rumo
e as pernas mais ao
fundo
portas por trás
dobradas pelos rins
Abrindo o ar
com o corpo num só golpe
Soltas,
viando
até chegar ao fim
Dizem-nos:
que nos limitemos ao espaço
Mas nós voamos
também
debaixo de água
Nós somos os anjos
deste tempo
Astronautas,
voando na memória
nas galáxias do vento...
Temos um pacto
com aquilo que
voa
– as aves
da poesia
– os anjos
do sexo
– o orgasmo
dos sonhos
Não há nada
que a nossa voz não abra
Nós somos as bruxas da palavra.
( Maria Tereza Horta )
10.11.08
7.11.08
Bienal dos Piores Poemas VI
6.11.08
eu querooooooooooooooooooooo!!!!
Regressão? Complexo de Cinderela? ou ... [complete os pontinhos]