27.11.08
Sobre agulhas e tempo (IV)
era quando
uma certa manhã
o ir-se de passarinhos avoados
na janela
sozinhos com você
dando risada
risada de tudo que foi
do que já foi de você
ali pendurada naquela varanda
sem tirar os olhos da rua
com o coração aos sobressaltos
jogando abaixo seu armário
enchendo as pernas de creme hidratante
a cada respirar
passando perfume nos punhos...
cena mais patética de toda a patetice do mundo
todas as tardes perdidas a escolher roupas
sonhos esmagados nas solas de sapato sem salto e
todas as bolhas no pé
e os dias sem comer
e todos os goles de água com açúcar
e todas as lágrimas e o vinho desperdiçado
todo o amor e caretice junto com seus cabelos no ralo do chuveiro
toda a criatividade que você deixou que levassem
todos os ombros em que já derramou desafios
os arrotos que deixou de dar.
toda essa sua babaquice
[tiros no pé]
fios de ovos e toda a pólvora que você já comeu serviram para algo
além de te deixar com enjôo e anemia?
e todos os passarinhos que deixou de contemplar enquanto perdia tempo?!
isso valeu para te alimentar?
hoje, um beija-flor visita a sua varanda todas as tardes
para ele não há flores como antigamente
apenas folhas secas, vasos vazios, adubo e casca de ovo ressecada.
não há mais flores e você gargalha
ele te espera retomar o fôlego e vai
você espera pelo dia seguinte
olha no espelho e avista a saída.
Há! Saída.
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3 comentários:
Juju sempre borrifando palavras interessantes por aqui..adoro!
:*****
Sou palavra perdida no silêncio
Gerada no ventre do Mar
Grinalda de perdidos sonhos
O passado do verbo amar
Amei!
Voar na chegada de cada Primavera
Pintar de luz as cores do verão
Pisei o tapete das folhas de Outono
Acendi em cada inverno uma fogueira de paixão
Convido-te ao encontro com o meu “Eu”
Bom domingo
Mágico beijo
andava com saudade de passear por aqui... e continuo com saudade de passear com juju por aí!... beijo, linda!
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