5.10.09

sobre pipoca e formigas na cadeira (I)




o dia passa e não me reconheço
nas gotas da chuva que cai lá fora

estou trancada numa sala escura
com os pés esticados sob a poltrona da frente
enclausurada num filme profundo
-no purgatório-

as idiotas da poltrona ao lado
-riem de nervoso-
não percebem que a vida é densa
como um filme em preto e branco
acham esquisitos os contos de Juan Rulfo
e fazem comentários bobocas que me irritam profundamente

a vontade de mudar de lugar em contraponto
com outra vontade
a vontade de continuar no lugar que escolhi,
no qual estou confortável demais

espero o fim do filme mesmo desejando que ele nunca acabe
e recomece imediatamente depois do "THE END", 
mas ele termina mesmo assim
antes que eu me dê conta
do que ele mudou dentro de mim

é assim como ver um bebê voador
com asas de pássaro e imaginar que um anjo
ganhou vida terrena numa película leve
e inspiradora de François Ozon
por um segundo então, perceber que anjos voam pela minha vida
mesmo que sua existência não seja percebida
no Zoológico Humano  em que me sinto
presa

na jaula em que me sinto presa
dia após dia
sejam estes  domingos chuvosos
ou não

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