4.5.10

das escrituras escondidas no monte mais alto (V)

escrever poema é difícil à beça!

não é fazer cena,
não é discursar sobre o abstrato

não é correr contra o tempo, falar de beleza e muito menos
de amor.

escrever um poema é gritar toda a dor que se esconde na porta dos fundos de um coração sem esperança
e que não se cansa de tomar porrada de vida.

escrever um poema é morrer um pouco a cada frase
e sem disfarce,
se descabelar diante de uma página em branco.

aos trancos e barrancos,
escrever um poema
não é exaltar a liberdade e nem viver a bohêmia
que salta dos poros a cada gole.

escrever um poema
é desgastante, difícil,
mas possível
em todas as impossibilidades!

escrever um poema é pesado como um elefante
é uma arte que consome a melanina dos cabelos castanhos.

escrever um poema
transforma qualquer cabelo saudável em branco.

escrever poema não é brando como sorrir

escrever poema é um eterno engasgar-se com espinhas de peixe
deixá-las atravessadas na garganta

escrever poema é como arrancar uma espada do peito sem tirar sangue
e sangrar ao mesmo tempo.

é sangrar e sangrar muito até não fazer, mas ter sentido.

escrever um poema não é a morte
e nem a vida
não é a ilusão e nem o concreto

não é um trabalho "stressante"
e nem a falta do emprego

não é o marido relapso
e nem a namorada vadia que dá para qualquer um

não é o cachorro abandonado
e nem o gato maluco que mija em qualquer dos cantos
para marcar território.

escrever um poema é uma casa que desmorona quando chove demais.

é o choro sofrido do trabalhado braçal que perdeu tudo.

escrever um poema
é passar para o papel todo absurdo do mundo em que vivemos
e nunca
se conformar!

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