14.8.07
Sobre amor e mãos frias -Clarah Averbuck
Da última vez que nos vimos, ele broxou. Íamos dançar na sala, na frente do sofá vermelho, ouvindo já nem lembro mais o quê. Mas não dançamos. Minhas mãos estavam geladas assim como hoje e, quando deitamos, eu não quis abraçá-lo, quer dizer, não quis tocá-lo, não quis tocar nem suas costas com as mãos geladas. Foram uns abraços meio estranhos, sem mãos, aqueles. Faz tanto tempo. Nunca mais nos vimos. E eu nunca o esqueci. Naquela época eu ainda não sabia que ele era o único homem que eu havia amado. E até hoje é. Eu não sabia como saber isso. Aprendi num filme besta, desses que você vê quando não quer pensar. Amor é quando você quer dar tudo o que tem. O resto, paixão, tesão, posse, o resto que todo mundo confunde com amor é quando a gente quer devorar e consumir o objeto em questão. Eu dei tudo pra ele. Ele não quis e jogou descarga abaixo. Continuo a vida, consumindo quem passa pelo meu caminho. E as minhas mãos estão geladas como no dia que ele broxou e eu não quis tocá-lo. Nenhum calor. Uma tarde de inverno sem sol. Se eu apenas soubesse que era amor.
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