29.7.08
declaração
eu adoro quando você me toca e nossas pernas se enlaçam num abraço apertado até a manhã seguinte. e eu adoro quando eu respiro o que você respira e a gente acorda no meio da noite sufocado porque o ar ficou pouco para nossa respiração. eu eu acho gostoso demais quando você se mexe e sussurra palavras que eu nunca entendo e quando você entende que meus gemidos são a melhor resposta para suas perguntas. e quando seu braço é o travesseiro mais fofinho e o cafuné que eu te faço é a maior delícia e a gente dorme e respira e se enrosca e se ama e acorda e se toca e se olha e se lambe se sente se toca se beija se deixa levar. eu amo você e tudo o que amar você soma na minha vida.
eu adoro quando você me surpreende e me acende e me faz a mulher mais feliz do mundo. eu adoro o agora com você o ontem o amanhã e o sempre.
Esse "reply" do post "PARA BIA" feito pela Bia - vale a publicação, pq...
Para Juju... por Bia Provasi
ju, depois da primeira leitura que me deixou sem palavras e cheia de lágrimas da boas, dessas que trazem uma umidade gostosa para o ar seco que respiramos todos os dias nos rachando narizes e bocas..., voltei porque precisava de palavras pra vc. palavras são o nosso alimento, o que umedece o nosso ar e nos faz respirar. e as suas são o alimento mais gostoso, desses que não só satisfazem nossas necessidades biológicas, mas nos enchem de água na boca só de sentir o cheirinho ao longe... que nos fazem até esquecer a educação e bater na casa do amigo na hora do almoço só pra filar o rango! que deixa o cachorrinho fissurado no meio da rua olhando o frango rodar na padaria... que faz a gente gastar os tubos no restaurante mais caro, pq a comida do seu cardápio é sempre melhor que a de casa! e vc alimenta os amigos, os vira-latas, os ricos, os pobres, os mendigos e os travecos da lapa!!!... vc nos alimenta de graça e ainda faz questão de servir vc mesma numa bandeja de prata! vc é incrível! é uma benção respirar o mesmo ar que vc, esse ar úmido, gostoso, com cheiro de amizade, poesia e perfume francês! cheiro das comidas dos desenhos animados, que penetram nos narizes e nos fazem levitar nos guiando pelo caminho até te encontrar, suculenta, gostosa, o prato principal dos nossos melhores banquetes! te amo, amiga! e as asas que tenho nos pés, a coragem de entrar nos labirintos e a sagacidade para sair deles, tudo isso eu devo a vc e a todos os meus amigos! a liberdade não nos serve de nada se o vôo é solitário... se não temos com quem dividir o sorvete de limão ou o nascer do sol! aliás, dividir não, somar, multiplicar, transformar em algo mais!... obrigada por ser sempre mais na minha vida! por me fazer ser bia. por construir comigo o kaos e a calmaria... beijos!
Na próxima quinta, dia 31/7, a Madame Kaos (grupo poético formado por mim, Beatriz Provasi e Marcela Giannini) vai se apresentar no evento Amostra Grátis, do projeto Geringonça, no SESC Tijuca. Vai ser uma experiência nova pra gente, e não sei no que vai dar, mas tô bem animada! A gente vai se apresentar no workshow, com o Fausto Fawcett e a Orquestra Charles Bronson, que a gente só vai conhecer no dia, pq a idéia é a coisa rolar meio de improviso... É a primeira vez que vão fazer o workshow com poesia. Espero que dê certo! Mas eu adoro o Fausto e tenho certeza de que ao menos eu vou me divertir bastante!... E quem quiser curtir também, é só aparecer por lá. A partir das 17h, com entrada franca.
Leia a Crônica/ Veja o Curta
Foi num dia daqueles em que o centro fica vazio e o pessoal do escritório joga papel picado pela janela. Final do ano e do expediente. Você apareceu, sorriu meia dúzia de amigas e sentou na mesa ao lado. Bebeu cerveja de garrafa e comeu amendoim, cabelo preso num coque. Depois de você ali, a cidade calou. No meio do povaréu, pude ouvir seus dentes quebrando os amendoins, goles descendo pela sua garganta, cílios se roçando num piscar de olhos.
Sua chegada condenou toda aquela gente a morte instantânea.
Naquele momento, fiquei sabendo de tudo. Que iríamos nos conhecer em cerca de meia hora, quando eu me levantasse para tentar falar bonito, entre goles e nossos olhares de espadachim. Sabia que treparíamos poucos dias depois como dois desesperados, pais de filhos natimortos, nos enlevando como quem precisa. Fiquei sabendo, olhando para você na outra mesa, que nossa persistência mútua seria comparável a teimosia de ditadores, cães loucos e donas de casa. Que nosso amor arrancado a fórceps seria perdido para ser encontrado depois, reencontrado depois, muitas vezes, quantas vezes fosse preciso.
Sabia que brigaríamos como nunca fizemos com ninguém antes, e nos xingaríamos de nomes que você teria vergonha de contar até para si mesma. Mas depois faríamos as pazes, doentes de paixão. Bêbados, dançando e rindo do que só nós dois poderíamos entender. Trocando a noite pelo dia, trancados por semanas em casa, ouvindo música, vendo filmes, dormindo abraçados. Sabia que, rapidamente, ganharíamos intimidade: banheiro de porta aberta, beijo sem escovar os dentes, você fazendo café de calcinha. E sabia que você diria, alguns meses depois, que eu era o melhor amante que você já teve. E que nunca mais iria querer outra pessoa.
Antes de você terminar a cerveja do seu copo, eu já sabia como iria gostar de ouvir todas essas mentiras.
E como iria te retribuir com outras.
Mesmo assim, apesar e por causa disso, ficaria ciumento e obsessivo como um psicopata de cinema. Faria perguntas insidiosas sobre seu passado, ex-amantes e namorados. Sobre quem te levou para a cama, e quem te deixou lá. Descobri que ficaria com taquicardia e mãos trêmulas ao imaginar você com outra pessoa, no futuro ou no passado. Descobri que você iria despertar o meu melhor e o meu pior, em proporções igualmente febris. E que também iríamos superar isso.
Você me ensinaria, com seus modos calados, a viver melhor. Tomar banho lavando as costas, comer várias vezes por dia, pensar menos. Você iria combater meu impulso suicida contra o nosso amor. Não sei se você chegou a descobrir isso ainda, mas não é que o amor simplesmente acabe. O amor é morto em dias claros como esse. Carrega em si a semente desse assassinato. Às vezes o crime é culposo. Em outras, cheiramos a fumaça que sai do buraco da bala com prazer dissoluto. Mas o normal é que seja morto corriqueiramente, como um tropeço. Com você seria diferente. Descobri, só de olhar o jeito do cabelo cair na sua testa, que você lutaria até o fim para que eu não esquartejasse o nosso amor. Você iria conseguir.
Sabendo disso tudo, foi como se não tivesse escolha. Deixei uns trocados na mesa, levantei e lancei um último olhar na sua direção, já quase virando a esquina. Em alguns meses, esqueci dos seus olhos verdes e, com eles, tudo que descobri, em não mais que cinco segundos, num dia daqueles em que o centro fica vazio e a gente do escritório joga papel picado pela janela.
O amor é morto em dias claros como esse.
P.s- Pq eu sou TARADA por esse TEXTO!!!!!!
25.7.08
Ser Bia
"Uma mulher que goza"(*) – goza a alegria, o viver. Uma mulher que emociona, se emociona. Chora.
Fenômeno da natureza. Estação do ano. Bebida preferida. Sorvete cremoso.
– Sim! Ela pode ser tudo que você imagina, mas não é fruto da sua imaginação; é real.
Ela existe e você pode tocá-la.
Abraçar, beijar, fotografar, brindar, sorrir, chorar com ela. Falar poemas, escutar, ouvir o que ela tem a dizer, acender um cigarro ou escrever versos para ela. Dividir uma cerveja ou um prato de batatas-fritas na madrugada ou amanhecer na padaria tomando sorvete de limão.
Ela escreve poemas. Ela te surpreende com um poema que escreveu em sua homenagem. Ela é vidente. Ela lê a sua alma. Ela te lê como um livro. Ela observa as estrelas, a luz da lua e o despertar do sol.
Ela é música! Ela é pop, rock, folk 'n roll. Ela pode ser funk, mas rima com samba, dança forró e se esbalda.
Ela é mulher – sabe o que quer, mas no fundo no fundo – escondidas entre o coração e o estômago; estão as coisinhas da infância que ela nunca jogou fora. A boneca preferida, os laços de fita, o beijo roubado atrás do elefante no jardim da infância, os brigadeiros que comeu, as guerrinhas de pipoca, o aprender a ler e escrever.
No fundo, lá, escondidinho num lugar que só quem é amigo mesmo sabe está a menina Bia. Aquela cheia de sonhos – que sabe o que quer – que corre atrás de realizá-los. Aquela menina risonha que sabe chorar. A menina que emburra a cara quando algum desejo não lhe é realizado. E isso não é mimo – é porque ela nasceu para ser rainha. Ela encanta todos em volta e ela sabe que ainda mora dentro dela aquela menina que de saia rodada chegava na festa e roubava a cena.
Não é a toa que ela fez cinema e agora faz teatro. Para roubar a cena! Para ser a cena, para estar em cena, para ser vista. Não por egocentrismo como muitos, porque se acha o máximo, porque no mundo só existe: ela, ela, ela dentro do seu eu, eu, eu – como muitos, repito- mas para plantar algo dentro dos passantes, dos ouvintes, dos espectadores, dos amigos, dos amantes, dos amores, dos fãs, dos críticos, dos poetas, dos observadores.
Bia veio como um feixe de luz para iluminar aquela plantinha que ainda não nasceu dentro de nós. A planta tem água, tem cérebro, mas não tem luz e Bia traz essa luz. Bia é o raio de sol que falta para aquecer o mais rochoso coração. Ela é a peça que falta naquele quebra-cabeças que há anos você tenta montar. Ela é o panfleto do candidato do partido da utopia que devia ser o da realidade. Ela é tudo aquilo que você sempre procurou, mas não tinha esperanças de encontrar.
Ela é o jardim mais florido e a tarde mais quente. É o acampamento mais divertido e a ponte mais longa. Ela é o sapato mais confortável e a bolsa mais cara do armário. Ela é tudo aquilo que você pode imaginar, mas não conseguiria, pois ela é única e deveria estar guardada num potinho protegida de dores, sustos, má-sorte, ingratidão, tristezas, males do mundo.
É ela deveria ser protegida, mas lembram quando lá em cima eu falei de liberdade? Então, ela não precisa ser protegida, pois é essencialmente livre e tem asas nos pés que a livram das quedas quando pula do abismo. Ela carrega nas costas um pára-quedas que às vezes não abre quando ela se joga do precipício. Ela cai, mas com uma rapidez nunca antes vista, aciona as molas que tem na sola dos pés e... ressurge.
Ela tem coragem que a guia por labirintos e tem habilidade para escapar deles. Ela tem um dispositivo que transforma lágrimas em combustível e perfume francês em alegria. Ela tem cabelos que voam como pássaro e olhos-holofotes capazes de iluminar uma cidade inteira. Ela tem um duplex com piscina, sauna e varanda dentro do meu coração. Ela pode ser "kaos" e calmaria.
Não! Ela é mais, muito mais do que isso. Ela é Bia. Gaivota livre. Essencialmente sensível. Asas longas sobre o mar. Desliza. Borboleta delicada. Forte avião-máquina. Linda humana. Alimento leve. Ave linda. Beija-flor. Completa acima de tudo. Estrela brilhante, planeta, cometa.
Bia pode ser tudo o que você pode imaginar e é.
(*)fragmento de um poema da Bruna Lombardi
21.7.08
Caio F. Abreu
"Mas não se pode agir assim, a amiga avisou no telefone. Uma pessoa não é um doce que você enjoa, empurra o prato, não quero mais. Tentaria, então, com toda a delicadeza possível, sem decidir propriamente decidiu no meio da tarde — uma tarde morna demais, preguiçosa demais para conter esse verbo veemente: decidir. Como ia dizendo, no meio da tarde lenta demais, escolheu que — se viesse alguma sofreguidão na garganta, e veio — diria qualquer coisa como olha, tenho medo do normal, baby. Só que, como de hábito, na cabeça (como que separada do mundo, movida por interiores taquicardias, adrenalinas, metabolismos) se passava uma coisa, e naquele ponto em que isso cruzava com o de fora, esse lugar onde habitamos outros, começava a região do incompreensível: Lá, onde qualquer delicadeza premeditada poderia soar estúpida como um seco: não. E soou, em plena mesa posta.Tanto pasmo, depois. Sozinho no apartamento, domingo à noite. Todas as coisas quietas e limpas, o perfume adocicado das madressilvas roubadas e o bolo de chocolate intocado no refrigerador — até a televisão falar da explosão nuclear subterrânea. Então a suspeita bruta: não suportamos aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós. Afirmou, depois acendeu o cigarro, reformulou, repetiu, acrescentou esta interrogação: não suportamos mesmo aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós? Não, não suportamos essa doçura. Puro cérebro sem dor perdido nos labirintos daquilo que tinha acabado de acontecer. Dor branca, querendo primeiro compreender, antes de doer abolerada, a dor. Doeria mais tarde, quem sabe, de maneira insensata e ilusória como doem as perdas para sempre perdidas, e portanto irremediáveis, transformadas em memórias iguais pequenos paraísos-perdidos. Que talvez, pensava agora, nem tivessem sido tão paradisíacos assim. Porque havia o sufocamento daquela espécie de patético simulacro de fantasia matrimonial provisória, a dificuldade de manter um clima feito linha esticada, segura para não arrebentar de súbito, precipitando o equilibrista no vazio mortal. Cheio de carinho, remexeu no doce, sem empurrar o prato. Preferia a fome: só isso. Pelo longo vício da própria fome — e seria um erro, porque saciar a fome poderia trazer, digamos, mais conforto? — ou de pura preguiça de ter que reformular-se inteiro para enfrentar o que chamam de amor, e de repente não tinha gosto? De onde vem essa iluminação que chamam de amor, e logo depois se contorce, se enleia, se turva toda e ofusca e apaga e acende feito um fio de contato defeituoso, sem nunca voltar àquela primeira iluminação? Espera, vamos conversar, sugeriu sem muito empenho. Tarde demais, porta fechada. Sozinho enfim, podia remexer em discos e livros para decidir sem nenhuma preocupação de harmonia-com-o-gosto-alheio que sempre preferira um Morrison a Manuel Bandeira. Sid Vicious a Puccini. A mosca a Uma janela para o amor, sempre uma vodca a um copo de leite: metal drástico. Era desses caras de barba por fazer que sempre escolherão o risco, o perigo, a insensatez, a insegurança, o precário, a maldição, a noite — a Fome maiúscula. Não a mesa posta e farta, com pratos e panelas a serem lavados na pia cheia de graxa — mas um hambúrguer qualquer para você que escrevo. Mas os escritores são muito cruéis, você me ama pelo que me mata com coca-cola no boteco da esquina, e a vida acontecendo em volta, escrota e nua. Não muito confuso, assim confrontado com sua explícita incapacidade de lidar com. A palavra não vinha. Podia fazer mil coisas a seguir. Mas dentro de qualquer ação, dentes arreganhados, restaria aquela sua profunda incapacidade de lidar com. Um instante antes de bater outra, colocar uma velha Billie Holiday e sentar na máquina para escrever, ainda pensou: gosto tanto de você, baby. Só que os escritores são seres muito cruéis, estão sempre matando a vida à procura de histórias. Você me ama pelo que me mata. E se apunhalo é porque é para você, para você que escrevo — e não entende nada."
17.7.08
Preparem-se para a chuva de poemas
Lançamento do livro de poesias INVENTOS RAIOS E TROVÕES
Performances:
15.7.08
Pense! Imagine! Sinta!
Medo do escuro
Ouço você chamar: saudade.
Olhe para o céu e ao invés de estrelas; veja margaridas. Elas são meu sorriso.
Quando sinto sua falta olho para o céu e imagino que estrelas são pássaros e eles são beijos.
É quase como brincar de adivinhação.
Agulhas de língua num beijo apaixonado.
Ele tinha certezas. Certezas mesmas de quem amarra uma fita do Senhor do Bonfim no pulso e acredita que quando a fita arrebentar; todos os pedidos serão realizados.
Certezas estas que mesmo sabendo que não vai ter comemoração - ao abrir a porta- festa surpresa!
Pode ser também que de repente o maior urso de pelúcia da loja apareça no seu quarto ou até talvez o riso histérico de quebrar uma cama durante o amor selvagem venha te desopilar o fígado ou você nunca esqueça de ler as letrinhas miúdas no fim do contrato.
Borboletas também sangram - Bayard Tonelli
Borboletas também sangram
Aos suaves talhos de
Ágeis e ásperas plumas
Deslizando ao comando
De artistas celestiais
Na busca cruel e incessante
Da beleza plena
Borboletas também sangram e sofrem
Nos campos de batalhas
Nos lares escritórios
E ao se verem preteridas
Postas de lado por exuberantes
Lagartas oportunistas
Ao tomarem o centro do jardim
Borboletas também sangram, sofrem e choram...
Mágoas perdidas em desencantos
De dias fúteis
Voam em rotas feridas
No atrito de violentas paixões marginais
E se esvaem em atmosfera densa e poluída
Onde entraram inocentes e desprevenidas
Borboletas também sangram, sofrem, choram e se desesperam...
A chicotadas de línguas ferinas a tentar
Diminuir seu esplendor e leveza
E desaparecem em lembranças varridas
Ao canto mais escuro do quarto
Embaixo do velho tapete persa
Puído por desinformadas e vorazes traças
Borboletas sangram
Sofrem choram
E se desesperam
Mas nunca desistem de voar...