7.7.08

Sobre praias e pontes…

Estar aí? Só que agora é impossível! Estou perto da sua ilha e o meu bote está furado, como você pode ver. O celular sem sinal e os isqueiros não mais acendem para que eu te mande sinais de fumaça perfumados com esse creme que eu tenho aqui. Eu uso e você tanto gosta. Os fósforos estão molhados e a garganta seca, sem gás. Há um abismo mar que me separa de você. Eu sei nadar, mas não colocar a areia em perspectiva quadro negro. Escrevi (com esse palitinho) milhares de coisas que a água apagou e você não pôde ler. Eu faço gestos no ar e eles são repetitivos, mas vejo que você sorri aí do outro lado com minhas cambalhotas e caretas. Aí do seu lado tem frutas e folhas para fazer chá; aqui – só água de coco e eu não consigo abrir as embalagens “tetrapak”, pois não tenho faca e nem abridor. A minha sede é salgada e a fome é do tamanho do meu amor. Se eu pudesse… nadaria até você, mas minha perna está machucada e os tubarões sentiriam gosto de sangue e fariam de mim banquete se eu me arriscasse. Não nasci para domar peixes enormes com dentes afiadas e nem para ficar longe de você. Faço fotos com a retina e a noite, durmo sob o teto céu e mando beijos que se refletem na lua e chegam aos seus lábios. Sinto que você os manda de volta, pois são mais saborosos e puros e perfeitos. Me aquecem. Vamos combinar uma coisa: amanha de manhã, bem cedinho, quando um acordar chama o outro? De repente amanhã na minha garganta já terá voz para te gritar. Vamos construir uma ponte? Eu começo do meu lado do abismo e você continua do seu; no meio nos encontraremos. Se eu tivesse braços elásticos iria até aí te buscar, se bem que: você prefere morar na ilha ou na praia? Se tivéssemos asas, poderíamos voltar para casa e alimentar os gatos. Deitaríamos naquele colchão macio que tanto sabe de nós e adormeceríamos abraçados para sempre. Envoltos no calor das nossas paredes pintadas com amor e discussões. A paisagem agora é tão livre e por causa de teimosia, acabamos aqui, náufragos, cada um para um lado, sem pele, sem sorte, com pressa daquele abraço apertado, do sentir sem as próprias mãos, de sentir pela pele do outro, do nariz embriagado com o cheiro misturado de nossas flores, do cobertor quente de nossos braços e de nossas bocas entrelaçadas, línguas, molhadas e quentes, satisfeitas, felizes, sorridentes, sábias de prazer. Agora, só lágrimas com a distância e o gosto das minhas você não consegue sentir.

Um comentário:

Beatriz Provasi disse...

Lindo, Juju, como sempre! Tô com saudade de conversar com vc, os últimos encontros foram tão rapidinhos... escrevi um poema que fala de fósforos molhados (usei de epígrafe os versos teus). Tá confirmada a Madame Kaos dia 31, vamos aproveitar pra nos reunir antes? Assim a gente trabalha e mata as saudades ao mesmo tempo! Que tal vir pro Corujão Niterói dia 17?! Fica aqui em casa. O que houve com teu celular, que eu nunca consigo te ligar? Me liga. Beijos!