18.10.07

aquela tarde

Não sei se por causa do sol que insistia em brincar de esconde-esconde ou se por culpa da insônia que madrugou durante a noite...
A sensação que ela tinha era de andar esbarrando em fantasmas pelas calçadas. Poderia ser incerta também a miopia.
A verdade é que enxergava vultos e eles insistiam em empurra-la. Ela tinha ombros doloridos por embalar-se torta no sofá. Tinha perdido o direito à majestade cama por causa das visitas e o sono intranqüilo amargurava os já encarquilhados ossos.
Culpa talvez da saudade.
Ela não era nova, nem velha. Alta nem baixa. Feia nem bonita. Magra nem gorda. Não afetava a ditadura da beleza vigente. Era na média. Era normal. Comum.
Há alguns dias por não aguentar mais brigar com o rosto cansado no espelho tinha cortado bem curtos cabelos.
O homem que invadira subitamente seu coração no fim de semana anterior estava de férias e naquele momento em algum lugar desconhecido acima da linha do equador.
A vontade de comer chocolates, a carência, a saudade deixavam-na a cada pensar mais histérica e com gritos mais abafados.
A ansiedade despertava a fome da "pequena suja". O medo do retorno dele sem ele no coração era mais metafísico do que a vontade de reabastecer a serotonina naquele cérebro feminino, sensível, tolo, idiota.
O coração em sobressalto, os fantasmas...
Ela esbarrava em vultos naquela tarde com suas sandálias quadriculadas vermelho sangue.
Talvez ele não a reconhecesse sem cabelos na nuca.

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