era uma palavra triste
tão tristonha que nem sei...
morava num lugar longe
quase não tinha vizinhos
e chorava sozinha..
o coração apertado por um jeans skinny
soltava olhares de raio
e fazia muita força para bater
quase explodindo naquele corpo
espremido naquele zíper
e ela; a palavra triste,
triste de dar dó
a palavra nó na garganta.
palavra solidão
escondida na tristeza do não ter.
a palavra choro
camuflada na lágrima da tempestade
no olho do furacão.
na falta de sorte,
a palavra soluço
fantasiada de versos de amor
a palavra dor
cheia de botox na cara
tentando mentir a idade
a palavra saudade.
quanta saudade a tal da palavra deve sentir
dos entes queridos,
do amor esquecido,
das noites,
dos sorrisos em volta da mesa
das apostas perdidas
das molas tortas naquele colchão
da palavra tesão.
que sempre quando perto
acendia fósforos incendiando tudo
e a palavra triste
tristonha
na casa quase sem vida
escondida nos escombros do que imaginou ser ou ter;
tanto faz.
uma palavra perdida
só, triste, sem vida
sem cor, gosto, sabor.
uma palavra mascarada como o pierrôt que esqueceu
a colombina no baile de carnaval.
uma palavra que chora
um amor que pede esmola
e uma dor que não demora
para cavar um buraco bem fundo
fundo mesmo, muito fundo
no meio do labirinto que a ausência
desenhou dentro de mim.
Um comentário:
Enquanto eu dormia
A chuva caía
Os barrancos despencavam
E as luzes dos morros indicavam
Que nessa estranha geografia
Dormir é morrer aos pouquinhos
Enquanto eu dormia
Um tempo arrevesado se extraiu
Do tempo de sono que perdi
E esse tempo inexato desbarrancava
Dentro do conceito de tempo que eu reinventava
Ricardo Soares
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