18.12.08

sobre nuncas e crises de ansiedade (VI)

(olhares.com)


era uma palavra triste

tão tristonha que nem sei...


morava num lugar longe

quase não tinha vizinhos

e chorava sozinha..


o coração apertado por um jeans skinny

soltava olhares de raio

e fazia muita força para bater

quase explodindo naquele corpo

espremido naquele zíper


e ela; a palavra triste,

triste de dar dó

a palavra nó na garganta.


palavra solidão

escondida na tristeza do não ter.


a palavra choro

camuflada na lágrima da tempestade

no olho do furacão.

na falta de sorte,


a palavra soluço

fantasiada de versos de amor


a palavra dor

cheia de botox na cara

tentando mentir a idade


a palavra saudade.


quanta saudade a tal da palavra deve sentir

dos entes queridos,

do amor esquecido,

das noites,

dos sorrisos em volta da mesa

das apostas perdidas

das molas tortas naquele colchão


da palavra tesão.


que sempre quando perto

acendia fósforos incendiando tudo


e a palavra triste

tristonha

na casa quase sem vida

escondida nos escombros do que imaginou ser ou ter;

tanto faz.


uma palavra perdida

só, triste, sem vida

sem cor, gosto, sabor.


uma palavra mascarada como o pierrôt que esqueceu

a colombina no baile de carnaval.


uma palavra que chora

um amor que pede esmola

e uma dor que não demora

para cavar um buraco bem fundo

fundo mesmo, muito fundo

no meio do labirinto que a ausência

desenhou dentro de mim.

Um comentário:

Ricardo Soares disse...

Enquanto eu dormia
A chuva caía
Os barrancos despencavam
E as luzes dos morros indicavam
Que nessa estranha geografia
Dormir é morrer aos pouquinhos

Enquanto eu dormia
Um tempo arrevesado se extraiu
Do tempo de sono que perdi
E esse tempo inexato desbarrancava
Dentro do conceito de tempo que eu reinventava

Ricardo Soares