6.2.09

Sobre camuflagem e pisões no pé (IV)

CARTA 4:


Dear J.,

O bom de todas essas palavras é o desentendimento. Naturalmente que ninguem deixa de apostar no elixir do amor e seus perfumes e delícias sejam eles de carne ou de papel. Afinal se esse sentimento não fosse o que é Dante não escreveria no fim da sua obra prima "o amor que move o mundo e as estrelas". O que eu tentei dizer - e não consegui - repassar - transmitir é que seria interessante uma investigação, um chamado para se pensar num poema, numa escrita que tivesse uma "coluna", um rio submerso que como leitmotiv guiasse a pena da poeta. Uma espécie de conversa entre a poeta e o leitor [eu]. Um desafio como fazem os repentistas no nordeste em que uma palavra puxa uma outra e assim por diante. O rio que eu iria propor, naturalmente, não seria sobre guerras nem violências, nem política mas sobre a identidade nacional, quem somos, o que somos vis a vis o exterior, quem somos nós e quem são os Outros O Brasil o que é mesmo? Durante muitos séculos nós fomos para fora para aprender, mas para aprender o que? O que os Outros tinham para dar para nós? E afinal o que somos nós em relação a eles? Apenas uma fonte de recursos e de exotismo? Ou somos mais? Mais o que? Não somos "cordiais pois não? Somos o que subalternos? Gangsters? Escravos? Tolos? Servis? O que afinal? Nossos poetas tem que copiar, imitar ou podem tb ser vanguarda? Ou somos um só planeta, um só solo dividido por oceanos e preconceitos? Quando não haverá mais nações? Quando desaparecerão os passaportes? As bandeiras? Os hinos nacionais? As Olimpíadas? As competições esportivas, simulacros desta guerra permanente?

Também olho o oceano cor de vinho e bebo água gelada e lambo sorvete de baunilha e faço comida em casa,
e olho o vôo dos pássaros e admiro o rosto das pessoas a passear na orla do mar e mais outras tantas coisa
pequenas na aparência mas grandes na seiva de sentimentos.

Abraços.

G.


RESPOSTA 4:

G.,

Tinha me jurado que a resposta de ontem seria a última para vc, pq realmente, interpretei como prepotência, pedantismo seu ficar citando grandes obras e seus meandros como se insinuasse que eu não havia lido tais livros; o que vinha me deixando profundamente irritada. - mas pela sua resposta hoje, acho que vc finalmente entendeu o meu ponto de vista e respeitou a minha opinião, por mais que novamente tenha tentado fazer a sua prevalecer sobre a minha, mas o importante é que aparentemente vc compreendeu a simplicidade dos meus sentimentos em relação à vida, à poesia e por isso... resolvi te responder.

Engraçado que também ontem, depois de publicar a nossa troca de e-mails no blog, recebi muitos outros de solidariedade falando do quanto escrevo bem e faço com que identifiquem- se com a minha escrita que não é feita com pena e sim com caneta esferográfica comum... e falando o quanto vc tentou "me derrubar" com suas citações e afins e que eu não me deixei abater. Claro que vc vai dizer que não foi sua intenção, etc e tal, mas da próxima vez que tentar se aproximar de alguém e aqui não falo só de mim, mas de qq pessoa - não fique falando de livros e trechos e filosofias, pq parece que vc está tenatando diminuir a pessoa impondo o seu conhecimento que a pessoa também pode ter (e estou falando de mim aqui), mas que para ela este conhecimento todo seja menor do que outro todo aparentemente menor mas que na essência é maior... para não soar arrogante, pedante, sabe... - muito melhor, mais simpático este e-mail seu agora do que os anteriores.

Obrigada.

J.

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