29.9.09

Festival do Rio - + 1 filme

(500) dias com ela

sobre alma e reflexos no espelho (IV)




rituais são gatos de sete vidas
que vivem dezessete anos
e morrem dormindo

são o tipo de coisa para se fazer uma vez na vida
em um momento muito, mas muito especial
e guardar a sensação
-para sempre-
assim como quem não quer nada
porque já tem tudo

aquele sentir pontinho luminoso
que brilha no peito

aquele instante a girar sozinho, quieto
no trilho do metrô
no vagão elétrico que trafega
no mesmo circuito
-todo dia, tarde, noite-

no eterno, a crina do cavalo
esvoaça com o vento

lembranças se movem nos orgãos internos
e sempre se renovam
com a brisa

se deixam lavar com as lágrimas que escorrem
descobertas pelo rosto
e deixamos guardadas no gosto
de 35 goles de Rum

uma música se divide na dança
num beijo roubado,
no lavar das janelas

momentos não evaporam feito a àgua do arroz
nem se dissolvem em sopa quente

afeto se guarda
e se sente
nas pequenas coisas

no regar das flores do túmulo,
no abraço mudo
no falar calado

na fotografia,
num filme francês,
nas sombras, nos azuis,
nas nuances ...

nos olhares, nos sonhos

guardar momentos nas gavetas quietas
do coração que impulsiona
a vida que pulsa
pelo que vivemos
até que finde o ar das narinas

até o último suspiro
dos pulmões

*escrito depois de assistir no Festival do Rio 2009 ( 35 goles de Rum)


Sinopse:

O viúvo Lionel vive num complexo habitacional com sua filha, Josephine, com quem tem fortes laços por tê-la criado sozinho. Enquanto Lionel atrai a atenção de uma mulher de meia-idade, um taxista que começa a rodar pelo bairro flerta com Josephine e eles passam a sair. Quando o namorado de Josephine aceita um trabalho no exterior e se muda, deixando a moça balançada, Lionel percebe que a filha está ficando independente e que talvez seja hora deles confrontarem seus passados.

25.9.09

Alfonsina Storni





RAZONES Y PAISAJES DE AMOR



I

AMOR:


Baja del cielo la endiablada punta
con que carne mortal hieres y engañas.
Untada viene de divinas mañas
y cielo y tierra su veneno junta.

La sangre de hombre que en la herida apunta
florece en selvas: sus crecidas cañas
de sombras de oro, hienden las entrañas
del cielo prieto, y su ascender pregunta.

En un vano aguardar de la respuesta
las cañas doblan la empinada testa.
Flamea el cielo sus azules gasas.

Vientos negros, detrás de los cristales
de las estrellas, mueven grandes asas
de mundos muertos, por sus arrabales.


II

OBRA DE AMOR:


Rosas y lirios ves en el espino;
juegas a ser: te cabe en una mano,
esmeralda pequeña, el océano;
hablas sin lengua, enredas el destino.

Plantas la testa en el azul divino
y antípodas, tus pies, en el lejano
revés del mundo; y te haces soberano,
y desatas al sol de tu camino.

Miras el horizonte y tu mirada
hace nacer en noche la alborada;
sueñas, y crean hueso tus ficciones.

Muda la mano que te alzaba en vuelo,
y a tus pies cae, cristal roto, el cielo,
y polvo y sombra levan sus talones.


III

PAISAJE DE AMOR MUERTO:


Ya te hundes, sol; mis aguas se coloran
de llamaradas por morir; ya cae
mi corazón desenhebrado, y trae,
la noche, filos que en el viento lloran.

Ya en opacas orillas se avizoran
manadas negras; ya mi lengua atrae
betún de muerte; y ya no se distrae
de mí, la espina; y sombras me devoran.

Pellejo muerto, el sol, se tumba al cabo.
Como un perro girando sobre el rabo,
la tierra se echa a descansar, cansada.

Mano huesosa apaga los luceros:
Chirrían, pedregosos sus senderos,
con la pupila negra y descarnada.

Alfonsina Storni





Soy un alma desnuda en estos versos,
Alma desnuda que angustiada y sola
Va dejando sus pétalos dispersos.

Alma que puede ser una amapola,
Que puede ser un lirio, una violeta,
Un peñasco, una selva y una ola.

Alma que como el viento vaga inquieta
Y ruge cuando está sobre los mares,
Y duerme dulcemente en una grieta.

Alma que adora sobre sus altares,
Dioses que no se bajan a cegarla;
Alma que no conoce valladares.

Alma que fuera fácil dominarla
Con sólo un corazón que se partiera
Para en su sangre cálida regarla.

Alma que cuando está en la primavera
Dice al invierno que demora: vuelve,
Caiga tu nieve sobre la pradera.

Alma que cuando nieva se disuelve
En tristezas, clamando por las rosas
con que la primavera nos envuelve.

Alma que a ratos suelta mariposas
A campo abierto, sin fijar distancia,
Y les dice: libad sobre las cosas.

Alma que ha de morir de una fragancia
De un suspiro, de un verso en que se ruega,
Sin perder, a poderlo, su elegancia.

Alma que nada sabe y todo niega
Y negando lo bueno el bien propicia
Porque es negando como más se entrega.

Alma que suele haber como delicia
Palpar las almas, despreciar la huella,
Y sentir en la mano una caricia.

Alma que siempre disconforme de ella,
Como los vientos vaga, corre y gira;
Alma que sangra y sin cesar delira
Por ser el buque en marcha de la estrella.

24.9.09

+ 3 filmes

8) Barba Azul








 7) 35 doses de Rum




6) Julie & Julia

22.9.09

Não
entendi
pq
os
vídeos
ficaram
desformatados,
ou melhor,
deformados.


não importa nada disso...
mesmo q a estética tenha ficado
estranha
eu já estou com meu passaporte
na mão

e na sexta-feira 25 começo
a minha viagem...
rumo ao desconhecido
do cinema.

Até dia 8/10.

Tenho que arrumar as minhas malas... rsrsrsrrsrsrs

;)

Meus primeiros 5 do FESTIVAL DO RIO/ 2009

5 )TRÁFICO DE ALMAS



4) AS PRAIAS DE AGNES



 

3) HAIR ÍNDIA



2) O PAI DE MEUS FILHOS



1)ARRANCA-ME A VIDA

16.9.09

sobre cor de rosa e bebidas destiladas (II)


cabeça vazia
 - vaga -
neste mundo
de enchentes
e incompreensões


gotas de chuva deslizam
cachoeira pelas ruas
feito o pão líquido
que mergulha
 - esta noite -
em minha garganta

sinto-me só
enquanto espero tocar o sinal
para fugir da escola

sinto-me só
quando não ouço a sua voz

tenho preguiça de correr
para o seu medo
de abraçar seu corpo num sorriso

de me envolver
de ser suas assim
tão simplesmente
entregue
e delicada

uma renda negra
num vestido de festa


sobriedade é um estado de alcolismo
invisível
que mistura as ideias
e deixa tudo
vagar num vazio
- no vácuo -

parece que o mundo é uma seringa gigante cheia de ar
e assim que a agulha
penetrar a minha veia ...

ela vai explodir e o sangue vai escorrer pelos lençois,
imprimir na parede vermelha um "Pollock"
e o sangue vai escorrer
até que a poça aumente, auMENTE, AUMENTE...

o vento vai entrra pela janela e fazer cócegas no meu rosto pálido,
- inerte, -
sem vida

e eu não estarei mais só

perto de mim
 - no céu -

os anjos e as núvens.


Sinfonia do amor em três movimentos  -  no VERSOS DE FALÓPIO

14.9.09

Alfonsina Storni




Diante do mar

Tradução de José Agostinho Baptista


Oh, mar, enorme mar, coração feroz
de ritmo desigual, coração mau,
eu sou mais tenra que esse pobre pau
que, prisioneiro, apodrece nas tuas vagas.

Oh, mar, dá-me a tua cólera tremenda,
eu passei a vida a perdoar,
porque entendia, mar, eu me fui dando:
"Piedade, piedade para o que mais ofenda".

Vulgaridade, vulgaridade que me acossa.
Ah, compraram-me a cidade e o homem.
Faz-me ter a tua cólera sem nome:
já me cansa esta missão de rosa.

Vês o vulgar? Esse vulgar faz-me pena,
falta-me o ar e onde falta fico.
Quem me dera não compreender, mas não posso:
é a vulgaridade que me envenena.

Empobreci porque entender aflige,
empobreci porque entender sufoca,
abençoada seja a força da rocha!
Eu tenho o coração como a espuma.


Mar, eu sonhava ser como tu és,
além nas tardes em que a minha vida
sob as horas cálidas se abria...
Ah, eu sonhava ser como tu és.

Olha para mim, aqui, pequena, miserável,
com toda a dor que me vence, com o sonho todos;
mar, dá-me, dá-me o inefável empenho
de tornar-me soberba, inacessível.

Dá-me o teu sal, o teu iodo, a tua ferocidade,
Ar do mar!... Oh, tempestade! Oh, enfado!
Pobre de mim, sou um recife
E morro, mar, sucumbo na minha pobreza.

E a minha alma é como o mar, é isso,
ah, a cidade apodrece-a engana-a;
pequena vida que dor provoca,
quem me dera libertar-me do seu peso!

Que voe o meu empenho, que voe a minha esperança...
A minha vida deve ter sido horrível,
deve ter sido uma artéria incontível
e é apenas cicatriz que sempre dói.


Alfonsina Storni



Biografia

Nascida na Suiça, emigrou com os seus pais para a província de San Juan, na Argentina em 1896, Em1901, muda-se para Rosário, (Santa Fé), onde tem uma vida com muitas dificuldades financeiras. Trabalhou para o sustento da família como costureira, operária,atriz e professora.
Descobre-se portadora de cancro no seio em 1935. O suicídio de um amigo, o também escritor Horácio Quiroga, em 1937, abala-a profundamente.
Em 1938, três dias antes de se suicidar, envia de um hotel de Mar del Plata para um jornal, o soneto “Voy a Dormir”. Consta que suicidou-se andando para dentro do mar — o que foi poeticamente registrado na canção "Alfonsina y el mar", gravada por Mercedes Sosa; seu corpo foi resgatado do oceano no dia 25 de Outubro de 1938. Alfonsina tinha 46 anos.

11.9.09

Luiz Felipe Leprevost

balbucios de blues


é melhor terminar antes que chegue o fim
e não olhar para trás se não tem ninguém mais por lá
é melhor desistir do que desesperar diante de quem não ama
mesmo que nunca, que não, que em hipótese alguma
é melhor acreditar que alguém vai chegar e
que você será tocado pelos dedos mornos, não da esperança
mas disso que um dia chamou “tecnologia do afeto”

(...)

10.9.09

Sobre lugares distantes ou o voo de uma gaivota (II)

  
tudo queima
- arde em mim -

quando vem de você

um raio doce
de sentimentos macios
hidrata minhas dobras dos braços,
das pernas

-cotovelos e joelhos retém cheiro por mais tempo-

o cheiro manso do suor do seu corpo
misturado com meu sorrir
de gata mansa no telhado

o seu corpo azul turquesa
- ronrona -

e eu me esfrego nele

certa de encontrar abrigo
-  em dias tristes de distância -

 mesmo quando não podemos
estar embrulhados no mesmo cobertor
-de abraços e beijos -
a dividir roncos no travesseiro

e nem nos é possível
fazer travessuras

quando nasce a noite
e se prepara o dia
para ser aberto
tal qual um presente esperado
em que rasgamos a embalagem com volúpia
para descobrir o que se esconde dentro
do pacote

se algo que se esconde
em dias de sol quente e claro

- ou se momentos nublados e frescos -

tal como a ideia firme e leve
de brisa suave do amor
que escorre de mim
para você
nessas noites doces
e nossas

tão nossas

9.9.09

Afonso Henriques Neto



VOCÊ
as mulheres mais belas
habitam você
fragor do mar nos vulcões do meio-dia
espuma lunar a flutuar
fotografia que o sonho grava no invisível
(você vestida em nuvem violeta, você e um gato
branco de patas azuis, você fugindo nua
pela praia do infinito,
você dançando o som do violino-pensamento,
você de olhos de surpresa com o peixe pulsando nas mãos,
você, você)
aprender você
intacta liberdade
amor é saber leveza
no centro da tempestade
queria escrever. não consigo escrever. bloqueio criativo. blank. estou muito afastada de tudo. inspiração zero. aff!

2.9.09

"... Os meus contemporâneos dizem quase sempre que não são moralistas, e é por isso que forçam toda a gente, mesmo quem não quer, a ser livre, saudável e feliz: proíbem o tabaco e o açúcar e se por vezes sofrem, tomam comprimidos porque a alegria é uma questão de química e convém tê-la a horas certas, como o prazer vigiado por preservativos e outros sempre obrigatórios cintos de segurança, pra que um dia possam sentir que morrem cheios de saúde. "

Fernando Pinto do Amaral
in, Colecção “Poesia e Prosa”
Ed. Publicações Dom Quixote,
Visão, Lisboa 2009

CEP 19 ANOS / NA CONTRAMÃO DO DESACONTECIMENTO / SOB O OLHAR CÚMPLICE DO CARLUXO CARA FEIA


por Chacal

O CEP fez 19 anos na quinta passada. Não foi aquela hecatombe de público que comparecia ao Sérgio Porto nos anos 90. Mas, para quem estava indo pela primeira vez, decerto saiu estarrecido. O espaço é muito bom e confortável. Cervejinha accessível. E a programação é um chuá.

...

Sair à noite para ir a algum evento é que são elas. Culpa do CEP ? Não muita. A noite do Rio em particular e do país como um todo, virou uma ficção.

...

Adeus Boemia. Mas o CEP resiste. E lá estavam os guerreiros: Pedro Lage que disparou um poema belíssimo, uma cantiga de escárnio. Alberto Pucheu fez a sala ir ao delírio, com seus jabs e uppercuts, um direto no queijo da letargia. Éber é a quintessência do nada. Tirou seus verbetes esporrantes, suas pílulas do riso da algibeira de uma caixa da sapato. Piriquitinho da sorte. É um deus. As Doidivinas não tem pra ninguém. São musas, entidades supremas. Cantem o que cantarem, eu despenco e saio dançando. Tavinho Paes anunciou alguns megainventos mas fez foi falar um poema em homenagem. Tavinho Gracias aos Céus devia ser tombado. Um herói do lumpesinato poético dessa cidade. Juju Hollanda mandou um texto certeiro em homenagem ao CEP. Outra dama das noites exíguas da antiga maravilha de cidade. Os 7Novos continuam imbatíveis. Mandam vídeos estapafúrdios sobre a vida e a morte de Michael Jack. Depois andam pra trás e cospem pra cima. Augusto imitando Steve Wonder é o que há. Grato muito a Mariano e Domingos, parceiros de sempre, que vestem a camisa e se divertem muito.

...

E teve mais muito mais. Um gringo carioca, Marco, que ficou vidrado com a cena. O Ricardo Rodrigues, um ceguinho elegante. O Pedro Henrique, a Renata e sua mãe que vieram de Floripa para conhecer, saíram felizes. Eram elas, o público.

Enfim, mais um CEP. Dezenove anos de insubordinação. Carregando nas costas o peso pesado da instituição, da burocracia, esgrimando com brigas internas. Assim caminha o Centro de Experimentação Poética. Até quando ? Se Deus quiser, pelom menos, até chegar aos vinte anos. São Paulo já se movimenta para comemorar. Vamos a ver.