29.5.07

Alexandre França (é o cara!)

"esquecimento

não se esqueça de mim, prédio
não se esqueça de mim, céu
não se esqueça de mim, asfalto
não se esqueça de mim, perdão
não se esqueça de mim, porta
não se esqueça de mim, janela
não se esqueça de mim, casa
não se esqueça de mim, solidão
lembre-se de me lembrar
e de me falar e de comentar
que estive aqui, falando coisas
lembrando coisas, lutando contra
o esquecimento
não se esqueça de mim
não se esqueça do meu olhar
do meu sorriso, da minha embriagues
e de como eu fico engraçado embriagado
e de como eu fico arrogante pela manhã
e de como peço licença
e de como eu caminho pela madrugada rumo ao sol
não se esqueça de mim, sol
não se esqueça do meu abraço
não se esqueça da minha carne
não se esqueça de tecer a carne
dos meus olhos nas facas da sua cabeça
não se esqueça
os que me odeiam
não se esqueçam de me odiar
e de comentar como sou imaturo
inconsequente, intolerante, indecente
os que sentem nojo por mim
lembrem-se da minha saliva, do meu gozo
do meu sangue escorrendo nas valas
do seu desgosto
não se esqueçam
dos dias que perdi
das noites que perdi
da esperança que me deu tchau
no ano novo
não se esqueçam de me atender
no dia de ano novo
e de me ligar e de me mandar mensagens prontas
e de ligar o botão rosa da ilusão e de falar "parabéns"
quantas vezes for necessário
e de me deixar ganhar a partida de sinuca
e de me deixar tomar a saideira
e de me lembrar de que já é tarde demais
para nascer, para lembrar, para esquecer
para dormir
para ter sono."

28.5.07

Stop the Clash of Civilizations

Snow Patrol - Open Your Eyes

Meu sereno

Eu tinha decidido “sair do sereno”.
Ser mais comportada, menos livre, “bukowskiana”, bohêmia, louca, desvairada, descabelada, de olhos borrados.
Ser mais calma, patricinha. Menos despachada na hora de sentar no chão. Voltar a ser “fresca” e só sentar em cadeiras para não sujar minhas calças jeans, remanescentes de outras fases da vida, de lama.
Voltar a usar saltos altos e menos All-Star.
Ser mais contida. Menos.
Menos o eu que descobri há pouco.
Voltar a ser meu eu antigo, um eu que achava não gostar mais.
Tinha decidido a voltar a ser meu eu antigo mesmo – isso por alguns arrependimentos, umas coisas que sinto vão contra minha natureza e que eu cogitei fazer por liberdade só.
Por que meu eu recém descoberto estava detestando ser chamado de careta e porque tinha sido chamado de careta e tinha achado uma ofensa. Então, tinha cogitado fazer coisas que depois dariam uma ressaca moral fdp!
E o eu continuava a ser tentado a seguir em frente da forma errada. Até que depois de muito pensar no fim de semana, o meu eu antigo resolveu passar por cima do novo.
E eu tinha decidido voltar a fazer todas as coisas bobas que eu achava maravilhosas quando era mais nova, quando não tinha me descoberto com ser pensante, livre.
Quando eu me importava com o que as pesssoas iam pensar de mim.
Quando eu me continha e andava a passos curtos.
Quando eu ainda não era verdadeiramente eu.
Quando eu não tinha me encontrado ainda.
Quando eu era uma simples bonequinha perfeita pra enfeitar a estante.
Quando eu era um sachêt só para perfumar gavetas.
Quando eu não tinha dado meu grito de SOU! –mas aí...

... eu chego no blog da Clarah Averbuck e leio o texto abaixo e me identifico de bate e pronto porque o meu eu certo, liberto grita dentro de mim:
-Ei! Eu também não quero sair do sereno!
– Eu quero pegar chuva. Beber conhaque no frio e cerveja no calor. Eu quero continuar vagando sozinha e trôpega por aí.
-Eu tô crescendo assim , porra!

Me afirmando como pessoa, pelo menos pra você, porra!
Eu tenho livre arbítrio. Eu tenho que ser tanto.
Sim! Mesmo sem conter seus exageros.
Você tem que ser livre e se deixar ir com o vento.

Controle? Poxa! Você já foi tão controlada...
Você era tão sem graça e tão sem opinião. Você era tão medrosa e desenxabida... – Linda sim. Boas roupas. Maquiagem sempre impecável. Perfumada... mas você era besta até doer.
Achava que não prescisava das pessoas.

Que os outros diferentes de você não faziam sentido. Que as diferenças eram impossíveis de conviver em harmonia. Você se perguntava a toda hora igual a uma criança de cinco anos se poderia, deveria fazer determinada coisa.
Você tinha medo de ser e parecer ridícula.
E agora que você começou a se jogar sem medo da vida, por ter desaprendido a viver de menos vem com esse papinho de eu quero recuar, quero recuar, quero recuar!!!

Seja sim! Seja livre. Seja simplesmente o que está sendo e está bom!
Pare com esse medo dos outros, não deixe que esses resquícios de um passado cada vez mais passado venham te assombrar as noites.
Se achar que exagerou demais, peça desculpas.
Contenha-se um pouco, mas não se deixe levar por pudores que tinha esquecido.
Sente no chão, no meio fio, suje a calça jeans de lama, ande para lá e para cá como uma barata desvairada, ande com garrafas nas mãos, fume, fume muito, escreva, se inspire.
Só faça o que tiver vontade, mas não tenha medo de ser chamada de careta se realmente achar que determinada coisa está fora do seu alcance.
Não tenha medo de recuar. De recusar.
Só não se deixe ficar algemada a valores que não te servem mais, pois você cresceu e deixou de ser a “neném da mamãe e do papai ” para ser mulher e você mesma.
Liberte-se! Seja! Viva!
A vida é tão significativa que você não pode passar insignificante diante dela.
Deixe-se viver, porque amanhã você morre e a única coisa que restarão... serão as lágrimas dos que te viram passar.
E se você não marcar mesmo que ridiculamente seus passos pelo asfalto, pelos becos, pelas esquinas, calçadas, areias, elevadores... ninguém vai lembrar de você como aquela menina louquinha e divertida, livre e nem aí... as pessoas nem vão lembrar e as lágrimas não cairão sobre o seu caixão cheio de flores.

Não “sairei do sereno”!

Tá decidido e ponto final.

**mais uma vez, obrigada a ClarahAverbuck por me abrir os olhos para o orvalho**

Clarah Averbuck

"eu não vou sair do sereno.
eu preciso do sereno, sabe?
eu preciso da rua, eu preciso da noite, eu preciso da lua lá em cima da minha cabeça,
eu preciso do conhaque esquentando as minhas veias,
eu preciso, eu preciso de tudo isso.
a nina simone também precisava.
a amy winehouse também precisa.
o bukowski também precisava.
o leminskão, nem se fala.
todo o meu universo fica debaixo do sereno.
eu não vou sair do sereno.
eu não vou ser serena.
eu não sou serena, eu nunca fui serena e eu não vou sair do sereno.
eu tenho vinte e oito anos e vivi todos eles assim.
eu vou ficar aqui no sereno
e é assim que as coisas saem do jeito que saem.
debaixo do sereno.
senão não faz nenhum sentido.
pra que ter voz se eu não tiver o que cantar?"

Clarah Averbuck - Pego emprestado em http://adioslounge.blogspot.com

27.5.07

pergunta e resposta

-amor, você está bem por aí nessa montanha de nuvens tão longe do céu?

-amor, estou triste aqui no chão. cheia de esperas.

cry

choro uma inércia deslavada encoberta por movimentos involuntários
lágrimas decimais de sentimentos decrescentes de angústia e solidão
penso no impalpável como o mais certo a sentir naqueles dias
sem vontade,
sem idéias
como sopas de sobras.

pedaços e partes do que não
quando foi nunca
sempre fez hoje

ontem fui feliz
trsite faz calor
frio fica aqui
láfalou o vento
chuva cai enfim
agora sol chegou
quando nunca estive.
... é um pedaço de papel laranja virgem de tinta que tenho na frente
um inventário de idéias ocas na cabeça
e uma vontade de ficar só.

should I

devia gritar um céu de estrelas sabor hortelã para cansar o abismo de cheiros ainda não descobertos.

céu como telhado da noite que surge do não
submerso de precariedades escondidas

{chão de escolhas}

um viver dividido entre nuncas,
sempres e desilusões.

arco-íris pintado de lama
o sol da tarde que se esconde atrás do banco na praça
para revisistar a chuva.

ah! como é suave

o tempero dos dias tranquilos onde nada acontece...
faz frio ao mesmo tempo em que as paixões esvaziam-se como balões de ar.

dias turbulentos aquecem e escrevem
notas musicais insistem em choramingar
consolando vazios
corações vadios de lágrima
cheios pesados de dúvida
pesares, medidas
levam peso palpitante que me leva
para a outra margem de.

pesada dimensão
corpo leve que bóia no rio imenso de janeiro
é maio.
desmaio.

ensaio não tremer mais as mãos ao te ver
ensaio não suar ao sumir
ensaio ter você ao meu lado

é impossível conter teu retrato nas mãos quando sei da impossibilidade amarga de ter-te ao meu lado
quando realidade preenche minhas dúvidas de existência insistente
como fardo sobre nuvem
sem a mesa
sobremesas siamesa
sonhos se lambem ligeiros em cima de sofás preguiçosos

seja meu. sonhe junto seus desassossegos.

seja múltiplo em mim
como sobras no canto do prato

seja infarto como fome que não mata

pulo alto de ser abstrato como cores numa tela jogadas

mola propulsora de prazer
pressão despressurizada
pulsa em veias

sem freio seja nada
seja sorte
seja meu

exista aqui
seja tudo aqui
ponto de partida eu
sofra nada!

faz frio
me salve
encontre os pés
horizonte
seja tudo
veja o céu
olhe para mim

[tênis desamarrado cair é inevitável]

Álvaro de Campos

"o horror sórdido do que , a sós consigo,
vergonhosa de si, no escuro, cada alama humana pensa."

blim, blom

você deveria ser aquele que toca a campainha
e espera pacientemente no sofá
enquanto meu gato se esfrega vorazmente em suas pernas

ao contrário d etuso
não há espera,
nem gato,
nem sofá,
nem campainha
nem você.

não há nada
porque não há dia,
nem luz
nem eternidade,
nem amor

não há amplitude no espaço que dois corpos não ocupem

spo existem janelas, parapeitos, giletes e remédios para dormir.

eu queria...

eu queria te falar de tanta coisas
de tanto tempo
de tanta folha
tanto suspiro de vento
tantos olhares
exércitos e formações rochosas

eu te devia dizer tanta coisa
sobre o pouco
o nada
o sendo
o tudo
a ilusão...

eu me devia abster
de explicar a latência do corpo
os dias de febre
as férias

eu me devia deixar menos tonta e vulnerável
quase sem fôlego

eu te devia saber do impossível
da atmosfera e dos icebergs que derretem
no futuro que chega com o sol

eu poderia explicar os mistérios,
mas eles não me foram dissecados
na aula de biologia
que

fonte

escorre vida pelos dedos
como água que faz de um copo quebrado
rio

sorrir é lamentar
a fala
que falta à boca

cacos espalhados pelo chão
obstáculos de existência triste
às vezes
sorte ser
só solidão.

sea

aparece em quebra-mar
a pintura das ondas
busca pela perfeição
incessante me toca
infla o colete salva-vidas
em todas as horas
que me me afogo
em você

ffw>rrw

pessoas somem em nossas vidas
como o estalar de dedos que passa num segundo

pessoas retornam quando verdadeiras
rebobinando o tempo

close your eyes

fecho olhos
respiro
até relembro
queria me embrenhar nos lençois com você
esquecer do tempo
virar do avesso
de cabeça prá baixo
me contorcer
retorcer
estampar os lençóis com suores
sem nexo, cheiros, cheiros, cheiros...
sempre fui péssima aluna de química
sei que
misturas se combinam.

wrong

kilômetros, ruas, itinerário
[distâncias]

ânsia na cidade grande
ansiedade de encontrar alguém que seria
já que existem
tantos bairros, tanta coisa, tantos eus, heins e você.

tantas bocas, olhos, lábios, cores, tamanhos, alturas, larguras, velocidades...
tantos nens, tantos nuncas, nãos...

erros, nojos, repulsas
sinais de trânsito, calçadas, esquinas, encruzilhadas
tantas chances de encontrar alguém...

planos sempre adiados.

não adianta!
querer é não poder
distrair-se é encontrar
às vezes é só uma frase,
um olhar...
o corpo descobre a hora certa de tremer
mesmo que esteja errado.

um dia vc me disse:

sou teu sol
você minha lua

clichê de ser

surto

o amor nasce em pontos finais
paixões mornas morrem
o sofrimento ao contrário que pensam
é menor quando o amor se apaga no outro
ao invés de em você
o amor que morreu em outro
vira o presente de amar aqui

[em si]

íntimo sou eu
paixão enlouquecedora
não percebe a chama

de repente bate o vento
apaga no susto
chama paixão

dor dilacerante que corta, suga, divide, mata
no atravessar da rua
dor se transforma num cruzar de almas
em um manicômio novo,
de repente.