Eu tinha decidido “sair do sereno”.
Ser mais comportada, menos livre, “bukowskiana”, bohêmia, louca, desvairada, descabelada, de olhos borrados.
Ser mais calma, patricinha. Menos despachada na hora de sentar no chão. Voltar a ser “fresca” e só sentar em cadeiras para não sujar minhas calças jeans, remanescentes de outras fases da vida, de lama.
Voltar a usar saltos altos e menos All-Star.
Ser mais contida. Menos.
Menos o eu que descobri há pouco.
Voltar a ser meu eu antigo, um eu que achava não gostar mais.
Tinha decidido a voltar a ser meu eu antigo mesmo – isso por alguns arrependimentos, umas coisas que sinto vão contra minha natureza e que eu cogitei fazer por liberdade só.
Por que meu eu recém descoberto estava detestando ser chamado de careta e porque tinha sido chamado de careta e tinha achado uma ofensa. Então, tinha cogitado fazer coisas que depois dariam uma ressaca moral fdp!
E o eu continuava a ser tentado a seguir em frente da forma errada. Até que depois de muito pensar no fim de semana, o meu eu antigo resolveu passar por cima do novo.
E eu tinha decidido voltar a fazer todas as coisas bobas que eu achava maravilhosas quando era mais nova, quando não tinha me descoberto com ser pensante, livre.
Quando eu me importava com o que as pesssoas iam pensar de mim.
Quando eu me continha e andava a passos curtos.
Quando eu ainda não era verdadeiramente eu.
Quando eu não tinha me encontrado ainda.
Quando eu era uma simples bonequinha perfeita pra enfeitar a estante.
Quando eu era um sachêt só para perfumar gavetas.
Quando eu não tinha dado meu grito de SOU! –mas aí...
... eu chego no blog da Clarah Averbuck e leio o texto abaixo e me identifico de bate e pronto porque o meu eu certo, liberto grita dentro de mim:
-Ei! Eu também não quero sair do sereno!
– Eu quero pegar chuva. Beber conhaque no frio e cerveja no calor. Eu quero continuar vagando sozinha e trôpega por aí.
-Eu tô crescendo assim , porra!
Me afirmando como pessoa, pelo menos pra você, porra!
Eu tenho livre arbítrio. Eu tenho que ser tanto.
Sim! Mesmo sem conter seus exageros.
Você tem que ser livre e se deixar ir com o vento.
Controle? Poxa! Você já foi tão controlada...
Você era tão sem graça e tão sem opinião. Você era tão medrosa e desenxabida... – Linda sim. Boas roupas. Maquiagem sempre impecável. Perfumada... mas você era besta até doer.
Achava que não prescisava das pessoas.
Que os outros diferentes de você não faziam sentido. Que as diferenças eram impossíveis de conviver em harmonia. Você se perguntava a toda hora igual a uma criança de cinco anos se poderia, deveria fazer determinada coisa.
Você tinha medo de ser e parecer ridícula.
E agora que você começou a se jogar sem medo da vida, por ter desaprendido a viver de menos vem com esse papinho de eu quero recuar, quero recuar, quero recuar!!!
Seja sim! Seja livre. Seja simplesmente o que está sendo e está bom!
Pare com esse medo dos outros, não deixe que esses resquícios de um passado cada vez mais passado venham te assombrar as noites.
Se achar que exagerou demais, peça desculpas.
Contenha-se um pouco, mas não se deixe levar por pudores que tinha esquecido.
Sente no chão, no meio fio, suje a calça jeans de lama, ande para lá e para cá como uma barata desvairada, ande com garrafas nas mãos, fume, fume muito, escreva, se inspire.
Só faça o que tiver vontade, mas não tenha medo de ser chamada de careta se realmente achar que determinada coisa está fora do seu alcance.
Não tenha medo de recuar. De recusar.
Só não se deixe ficar algemada a valores que não te servem mais, pois você cresceu e deixou de ser a “neném da mamãe e do papai ” para ser mulher e você mesma.
Liberte-se! Seja! Viva!
A vida é tão significativa que você não pode passar insignificante diante dela.
Deixe-se viver, porque amanhã você morre e a única coisa que restarão... serão as lágrimas dos que te viram passar.
E se você não marcar mesmo que ridiculamente seus passos pelo asfalto, pelos becos, pelas esquinas, calçadas, areias, elevadores... ninguém vai lembrar de você como aquela menina louquinha e divertida, livre e nem aí... as pessoas nem vão lembrar e as lágrimas não cairão sobre o seu caixão cheio de flores.
Não “sairei do sereno”!
Tá decidido e ponto final.
**mais uma vez, obrigada a ClarahAverbuck por me abrir os olhos para o orvalho**
28.5.07
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Um comentário:
Quanto fôlego para se falar do que se sente, viu!
adorei...
abração.
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