31.10.08

sobre nuncas e crises de ansiedade (IV)

"EDITADO" por Thereza Christina Rocque da Motta

há um momento no meio da tarde em que o buraco se instala
numa certa parede colorida dentro da alma
e não é possível esconder documentos em gavetas
e nem procurar canetas perdidas debaixo dos sofás

aquele momento em que o buraco se instala
faz com que tudo ao redor pare
e tudo que anda girando em sua cabeça continue a girar

é mais ou menos como a taquicardia que adquiriu por tomar remédios para
emagrecer
ela aparece quando menos se espera
numa certa porta aberta dentro do coração

é difícil entrar e subir as escadas
ao mesmo tempo você lembra que deixou a chave do portão no trinco
vê que a piscina está suja e está tudo uma bagunça e se desespera e não
quer mais que a noite chegue
e nem que dias passem
peneirando a alma

perfurada

por buracos abertos
no meio da tarde

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Crítica do editor, poeta e amigo, João José de Mello Franco

Juju, perfeito é ser profundo e claro ao mesmo tempo. E é isso que, em geral, diferencia, o pequeno do grande poeta. O grande poeta não conta com a sorte e o acaso. Essas coisas ele(a) as incorpora e as transforma em parte de sua visão e técnica. Por isso esse poema é tão bom. Ele é a sua cara (leia-se visão e técnica) e isso é perfeito.

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