13.10.08

sobre nuncas e crises de ansiedade (II)


Palavras por dizer, por Juliana Hollanda

Por pouco ele não te ligou de novo ontem a noite. Você pensou o tempo todo que ele fosse te ligar novamente ontem a noite? Ele pensou em te ligar outra vez ontem a noite. Ele se imaginou ligando para você ou te encontrando por acaso.

Dependendo da temperatura, ele imaginou você num daqueles seus vestidos floridos de algodão ou num jeans desbotado com um casaco de lá bem grossa por cima de uma camisetinha tomando café de uma caneca e olhando através daqueles seus óculos de casco de tartaruga para um livro de poesia enquanto chove. Ele pensa em você com o cabelo amarrado na nuca e aquele cheiro doce característico do seu cangote. Ele imagina você desse jeito quando ele está no trem, no supermercado, na casa dos pais dele, a noite sozinho e até quando ele está com outra mulher.

Ele está enganado. Você não lê poesia e ele queria que você lesse poesia, mas você não lê. Se pressionado ele confessa uma enormidade de coisas que você lê e, não foi o que você lê que começou isso. Foram as risadas e o anúncio de coca-cola colado na parede do seu quarto, o tentar de tudo enquanto amigos, a imprevisibilidade de tudo que veio antes de você, a corrente, os telefonemas, as piadas espirituosas, a música instantânea, a luz do sol que você carrega contigo, o jeito que ele se sentiu quando você conheceu os pais dele, as faculdades que você não terminou, o segredo do seu sucesso, as casas alugadas na praia, a sua calcinha de renda branca, a sua dança sensual entre quatro paredes, a falta de expectativas, a família, a páscoa, o clássico, o moderno, o pós-moderno, o orgasmo, o feminino, o feminismo e o jeito que você muda tudo quando começa a preparar uma salada.

Um comentário:

Lais Mouriê disse...

Muito, bom, como sempre, Ju!
Bjão!