31.3.09

sobre imensidão e terremotos (IV)



algo em mim
agoniza
tal qual
asqueroso rato
no canteiro

ele não sabe ler
avisos de perigo
e guincha

veneno deve deixar
gosto amargo na boca
assim como ausências

elas escapam
de lábios
e despertam
desejo

lábios
que nunca
encostaram
nos meus
e desejo
beijar

[é amargo este gosto]

um fim de filme
sem final

gosto ruim
de morte
na saliva

feito durex
no papel
[grudado]

é amargo
o gosto da busca;
do novo.

[conquista que se faz estranha]

igual à do rato
que entrou no canteiro
não sabe ler placas,
avisos -
[perigo!]

e mesmo assim,
não lhe falta
coragem.

é amargo o gosto
de uma boca inexplorada
-que se deseja explorar-

assim como podem ser doces
outros sabores
em lábios azuis de "jazz"

e talvez
eu encontre

quando entardecer.

30.3.09

sobre imensidão e terremotos (III)


veleiros no mar

do posto 9


onde foram parar

as gaivotas

e todas as suas virtudes?


a areia não pode

grudar

na minha pele


o grito virá

de longe

[do voo das minhas asas]

como um pedido de socorro


o trânsito está livre

e não tenho pressa

prefiro

observar os ambulantes

à procura do freguês

e as senhoras que

que caminham

com suas viseiras

pela ciclovia


elas confundem

"Smashing Pumpkings"

com "Iggy Pop".


fumei uns cigarros

ontem a noite-

hoje -

tosse habita

minha garganta


o vento está forte

e o mar cor de petóleo

se faz manso

ao contrário

do bicho indomável

que

para fugir,

para escapar do paraíso

faz força -

não sabe nadar.




Sobre paisagem e movimento (VII)


a rainha dança no tabuleiro

nunca aprendi a jogar xadrez

não sei qual o correto a fazer

movimentar o cavalo

ou a torre? rei, bispos, peões? -

para qual direção seguir?

jogos de tabuleiro

não são meu forte

acho difícil

decorar regras

e escalar montanhas quadradas

em preto e branco

a rainha está no tabuleiro

e espera um movimento -

me ensina a jogar xadrez?

sobre janelas e portas abertas (II)


você deita na grama e é tão europeu -

você e sua pele perfeita.

você e seu amor pelo sol.


sua ingenuidade durante o verão, suas nuances intensas.

a sujeira embaixo das suas unhas.

você tem o cabelo tão fino e anda sem nenhuma pressa.

você é bonito e fotogênico de uma maneira impossível de explicar.


você é calmo- rí devagarinho


todo mundo presta atenção quando você fala e sorri

enquanto cuidadosamente conversa com estranhos

você é educadíssimo e tão bacana que faz tudo parecer fácil.


você não tem medo-

chora na frente dos amigos próximos

quando seu coração está partido e

tem muitos amigos.


eles adoram você

eles sempre falam as melhores coisas

sobre você

quando você está ausente -

principalmente nessas condições.


você está protegido

e é uma dessas pessoas

que nunca falam nada negativo

sobre alguém que não conhece

e ninguém pensa que você é um hipócrita.


você sempre escuta as melhores músicas -

novas ou velhas.

você sempre veste roupas simples e básicas

de um jeito que está sempre bem vestido.


você é fofo quando está cantando

ninguém se ofende quando você diz não

pessoas sempre organizam as melhores festas surpresas

para você

e você faz sempre as melhores viagens.


suas fotografias na tailândia

me deixam nostálgica

por uma coisa que

eu não vivi.


você sempre tirou boas notas na escola

e foi para os melhores festivais de música do mundo.


você é jovem e

anda com pessoas que saem nas revistas mais descoladas.


você nunca pareceu pretensioso

você não sabe cozinhar, nem dirigir ou cortar seu próprio cabelo.


seu cabelo perfeito toca a grama antes do meu.

eu vou te amar para sempre do mesmo jeito que todo mundo ama

e você

nunca vai saber.

Sobre agulhas e tempo (VII)


um nome gritado repetidamente, acorda ansiedades antigas. você pensou que estava escondido no jeito mais doce - de forma que - seus medos pudessem correr para longe de sua espinha. você rodopiava, rodava, girava uma roda de sonhos diários. o nome gritava: possibilidades.

ninguém pode trancar o futuro numa prisão feita de planos: você se deu conta de que não é nada mais que um castelo de cartas e elas resistem desprotegidas das suas asas.

27.3.09

sobre lembranaças e fotografias (I)


hoje vovó faria 99
quase 100
de qualquer coisa

[de idade, não seria]


de bagagem, vivência, lágrimas e sorrisos;
talvez

99 de "efortil"
de pressão baixa
de pão francês sem miolo
com margarina

[bochechas rosadas]

mãos finas
que retiravam do forno
sem pano nem luva
travessas quentes de inox
recheadas com bolos, pudins
bombocados, queijadinhas

a ponta dos dedos
no forno quente
unhas sempre pintadas
e bem pintadas
de um rosa cintilante

[coragem para aventurar-me
em formas de inox quentes]

herdei dela.
da vovó de joelhos lisos,
poucas rugas, cabelos curtos
um terço do estômago
um rim

e assim ela se foi
sobrevivendo

de uma doença
que só permitia a ela
lembrar do passado

[um passado
que se fazia presente]

aos 88,
só podia saber dos dez, dos 15, 20, 30...
40? nem pensar!
franzia a testa e se enfezava;
já estava velha aos 40.

[para quem estava por perto
como eu, mamãe, vovô...
era infernal!
não sabia mais nossos nomes
misturava as bolas
foi difícil, muito difícil]

-vovó, a senhora tem quantos anos?
40?
- Menos!- ela exclamava.
abria um sorriso aos 35, 33...
quanto menos, melhor.

devem ter sido bons anos

bons como os outros que se seguiram,
as lembranças da vovó
rebobinavam como VHS

quanto mais velha, mais rejuvenecia

minhas memórias
me permitem lembrar de uma cena
no mínimo engraçada

vovó e vovô
cada um numa ponta da mesa
retangular
jogando cartas

ele, se metendo na paciência dela
ela com calma
a passear pelas cartas
corrigindo distrações

matriarca
não me deixou usar calças jeans
até meus nove, dez anos
era coisa de homem - dizia
tentando ensinar para mamãe
maneiras de mulher

preconceitusa a vovó,
mas uma boa mulher.

pensamento de gente antiga
quando tudo era dividido em clubinhos
separado, setorizado

comportamento de quem nasceu
quando o mundo
os costumes
não representavam essa liberdade toda

[gente antiga
é preciso entender
essa gente]

hoje ela faria 99
com o mesmo olhar infantil,
o mesmo brilho nos olhos

joelho lisinho, sorriso maroto
espírito de aventura
e coragem

muita coragem
para enfiar a mão no forno
sem pano nem luva,
sem proteção.

sobre margaridas e canções de amor (III)


olhos negros
juntos de espanto
fulminam meu olhar
castanho de saudade

vontade nada impossível
de te ver
guardada na retina

um sorriso alado
teu
tão característico
que nem sei...

primeira impressão
permanece
como lembranaça
no peito
guardada

coração que pulsa
aplaude
revive um dia
uma noite
feliz

penso nos teus olhos
juntos
negros de espanto

meus olhos castanhos
saudosos
meu olhar
flechado
te vê.

26.3.09

Sobre ser ou fazer toda diferença (I)



perder-se do abstrato
no concreto que se encontra
numa imagem; na paisagem
é mistura de sabores
opostocomplementares
na língua.

o agridoce ácido demais
aguça a rinite alérgica
e traz no espirro
tudo que se precisa expurgar.

excessos de nuance
em cores; aromas

desafino de uma música
perdida
em notas desferidas
inconstantes. incoerentes.
dissonantes
como o golpe certeiro
de uma faca cega
no olho do estômago.

tudo se faz perceber
quando fica difícil enxergar
sem óculos
o pequeno pássaro
paralisado
na montanha,
na estante,
na fotografia.

24.3.09

Sobre como (ainda) não ser ... (III)



...Mãe

meus filhos

não são de carne e osso,

mas possuem alma


[alma em forma de poema]


frases encaixam-se

cirurgicamente

uma embaixo das outras


palavras dão as mãos

abraçam-se; beijam-se

sorriem, choram, doem

gritam, esperneiam, caminham...


meus poemas são filhos

que ainda não tive

e não são necessariamente do mesmo pai

[não que eu seja infiel nos relacionamentos porque não sou]

mas sim,

porque eles são fruto de diferentes estados de espírito,

fases de vida, estudos, estrutura emocional.

às vezes brotam do nada,

como se eu fosse ar

e só isso


às vezes necessitam de fecundação, gozo, óvulos

às vezes escapam pelo DIU

burlam a menstruação

[sim, mulheres sangram!]

eu sou mulher,

logo...


eles,

como as crianças


[filhos, serão sempre crianças para as mães]


por mais que cresçam e insistam em ser maiores que elas

sentem fome, sede, medo

reclamam de ter que freqüentar a escola,

acordar cedo

e sempre se acham crescidos o suficiente

para ir sozinhos

na festinha na casa do amigo


poemas,

como filhos

não retornam ligações de celular

e não avisam quando vão dormir fora de casa


meus poemas

me enchem de preocupação

e orgulho

[mais de orgulho que preocupação]


não é sempre possível

pensar no que os outros vão pensar


como cada coisa

ou ato vai ser

interpretado

e o que pode ser peneirado deles


[sentido ou mal entendido]


meus poemas são meninos e meninas

ás vezes assexuados,

às vezes libidinosos

escrachados, mal educados

mau humorados, desgostosos, emburrados

e em muitas vezes leves e azuis como o céu e suas nuvens


meus poemas gostam de roupas caras, grife

mas também do que é simples, baratinho


gostam de sentar no chão, brincar com lama,

tomar café quente...


de viajar

assim como eu gosto de viajar

e viajo


sendo assim,

como meus filhos,

eles viajam comigo

me enchem de orgulho

e não têm vergonha da mãe

que zelosa

sempre os busca no fim das festinhas

na casa do amigo

num prédio

qualquer.


sobre brincadeiras infantís e desejo (I)


acho importante lembrar que sonhos foram inventados para tornarem-se realidade
e a receita mágica dessa história é simples:

crianças brincam de polícia e ladrão.
meninas são polícia, pois correm menos e meninos são ladrões.

quando crescem, adolescentes, adultos - homens roubam nossas almas, nossos corações (e aqui falo enquanto menina).
meninas, por sua vez prendem os meninos em suas arcas de tesouro internas e trancam com cadeado - cuidando deles, ajudando-os a crescer, alimentando-os, etc.

meninos e meninas, quando homens e mulheres - apaixonam-se, enamoram-se, moram/vivem juntos, procriam, casam e continuam - correndo atrás e prendendo; libertando-se e à procura; caçando e encontrando, etc.

meninos desejam ser bombeiros, quando adultos, tornam-se advogados, empresário, médicos - mas adoram fazer churrasco - é essa a brincadeira - acender e apagar o fogo, etc. - continuam bombeiros, mas por um outro olhar.

está aí a mágica do sonho, da imaginação, da vontade tornada realidade

isso pode ser utilizado em todos os momentos da vida - basta permitir que nossa criança interior continue respirando.


da série: esta reflexão surgiu enquanto nascia um e-mail

sobre margaridas e canções de amor (II)



particular
como o barulho da onda nas pedras
é o meu amor

distribuído aos pedaços
tal qual chocolate
dividido em micro-retângulos

pétalas no chão
de flores despetaladas

não quero resgatar esse sentimento
dos outros

[ele é meu, somente]

puro, leve, perfumado e meu!

posso amar o mar e todas as cicatrizes
olhares, desmoronamentos ...
e causar terremoto ao andar em círculos

[ser mistério na claridade]

derreter como sorvete ao te sentir

soprar bolhas de sabão e pólem
em direção aos meus outros sorrisos
[deles todos!]

uma ação não invalida
nem desvaloriza todas as outras

apenas tento não me deixar afogar
em excessos

desejo livrar-me deles
e isso leva tempo
muito tempo e lágrimas
para longe de mim.

é isso que também quero do meu amor
livrar-me dele!

para que ele voe livre
para os outros

para que ele saia de mim como suor

exercício físico de alto impacto

para ele pingar aos montes!!!

deixar que o tempo faça papel de água
sabonete líquido e esponja

banho
para que toda tesoura fique cega
em amanheceres
quando nada pode ser cortado
em se tratando do meu amor.

sobre paraísos e diálogos imaginários (I)



Para A. Ginsberg

quando Ginsberg desceu à terra e como ilusionista
transformou palavras em frases; poemas

sol e performance nasceram como flor
frutos da semente voz

[gestos e sons]

panos de fundo da atitude música
enquanto mola para impulsionar lágrimas
a pular dos dentes

[bocas entreabertas de espanto]


palmas, vaias e uivos
a dançar tango nos ouvidos.

a vida como palco
de uma sede que
não morre.

23.3.09

sobre margaridas e canções de amor (I)



um floco de neve

com medo de cair

na superfície quente

e derreter.


derreter como extermínio; fim de existência.

impossibilidade de chegar à idade adulta; envelhecer.


permitir o surgimento de cabelos brancos

a não cor

como parte integrante

do que se faz moldura para o quadro rosto

mutação do utilizado para seduzir


síndrome das madeixas longas

no que se deixa solto pelo vento;

exposto aos fenômenos naturais.


preso o coque

antes "rabo de cavalo"

deveria ser livre

como uma penugem de folhas

no alto de qualquer árvore.


o cansar dos olhos na leitura de um texto longo

falta de foco e vontades

permitem que o abstrato evolua

em qualquer canção,

estrofe, parágrafo

ou verso livre

medo de que a rima estrague tudo.


procurei por você nos meus sonhos

e você não veio


fechei a porta da gaiola

para que permanecesse

presa em meu ninho


os travesseiros

estão moles demais

e faz frio


o que não se completa;

são reticências

espera infinita

de um oito horizontal


subir escadas até o último degrau

e sentir cheiro de especiarias no ar

mãos tecem colchas de jasmim

ou qualquer flor


páprica doce na pasta de atum

para alegrar a língua


festa em qualquer lugar que não aqui.


[agora pode ser nunca]


esperei você

em meus sonhos

e você não veio.

sobre elas e eles (I)




meninos não choram

meninas derramam lágrimas
por qualquer idiotice
qualquer mentira

meninas morrem de rir
independente de estar envoltas
em redes de mentiras
e de guardar lágrimas no canto dos olhos

meninas dizem eu te amo
mesmo quando em dúvida

meninos choram
meninas
(fingem que eles não)
choram

elas fazem qualquer coisa
para tê-los do lado
e eles...
quando querem elas por perto
fogem.

20.3.09

sobre orquídeas e velhas canções (I)


Encantamento


um cobertor de estrelas

aquece sentidos e sentires

numa noite clara


pela primeira vez o vi recitar poemas próprios, -


recapitulando...


na primeira vez que o vi. ponto.

ponto;

porque foi a primeira e só isso.

nunca o tinha visto antes,

nem ouvido falar sobre,

por isso

- a surpresa ao vê-lo ali-

no palco-degrau improvisado

com o papel na mão

a recitar poemas.


não estava nervoso

por ser sua primeira

também vez;

seguro de si

e do que tinha a dizer


[na verdade não precisaria falar]


mudo

acelerou meu coração

e me fez querer fazer música

ou ter asas,


ser fada para saber voar

ou ficar invisível.


meus olhos só perseguiam os dele


[perseguir, no sentido bom da palavra]


por instantes

enquanto ele falava o poema,

o mundo parou

e

como no cinema

as outras vozes ficaram inaudíveis

e só a dele se escutava,

somente ele eu via


[ver no sentido de enxergar e sentir]


fiquei arrepiada, com os olhos cheios d’água

como se tivesse acabado de aparecer na minha frente

um alguém que já fazia parte da minha vida

ou

talvez tenha feito em algum momento anterior


dezenas de anos, centenas ou milhares


[ou uma assombração].


pensando bem,

só pelo que me fez arrepiar,

mas não assustar

não poderia ser uma assombração.

na verdade,

o que assombrou

foi a maneira com que meu corpo e alma

entraram em estado de festa

depois de tanto tempo de clausura.


pela acomodação da vida,

eles estavam presos

e

libertaram-se quando ele surgiu.


ao vê-lo ali com a mão direita apontada para o alto,

levemente arqueada,

os cabelos negros em caracol,

sobrancelhas expressivas,

olhos que sorriam como se dançassem

foi paixão à primeira vista!


[paixão no sentido do “apaixonamento”, não se tratando de desejo]


não cheguei a desejá-lo como homem

não que não merecesse ser tratado assim

em forma de desejo

no sentido literal

do binômio “macho x fêmea”

-por tantas vezes incontrolável e indomável-

no sentido sexual do desejo

de levá-lo para cama

ou do deixar-me levar.


apaixonei-me instantânea e intuitivamente

por um anjo de asas escondidas

que despertou em mim desejo de levitar,

pentear os cabelos e sorrir.


desejo de ser um unicórnio,

ter poderes mágicos,

viver sem medos,

mágoas,

ansiedade,

tristeza

ou qualquer outra coisa que o valha.


estávamos ali,

só eu e ele

só a voz dele e o “tum-tum” do meu coração

os olhos e as estrelas ao redor.


a lua fez papel de holofote e

nem os travestis,

o grau etílico das idéias,

a algazarra e os celulares

fizeram com que eu saísse do transe em que me encontrava

efeito da hipnose provocada pelo olhar dele no meu

ou meu olhar no dele.


despreocupada com a ordem das coisas,

só me resta dizer que

depois, veio a vontade incontrolável

e daí a coragem para falar com ele

para dar parabéns, para agradecer,

para ouvir mais daquela voz

e oferecer um presente surgido de mim

como o livro meu

que coloquei

naquelas mãos

e foi tão bem recebido.


idéias minhas e dele

como elo, ligação


o falar e pensar de dois

utilizado como conexão de pensamento,

alma, vida, olhar, sorriso, calmaria,

asas.


sensação tão gratificante

quanto decifrar o segredo do cadeado

daquela arca empoeirada

e esquecida no porão

de um navio no fundo do mar

vontade de me jogar do alto da montanha mais alta

em direção ao mais verde dos vales.


encantada com a certeza

de ter conhecido um “ele”

que vê pessoas como seres humanos

e não como coisas

alguém que transforma palavras em anéis de diamante

e ondas do mar


um ser que sabe o que significa

sou

porque antes de tudo

ele é

e só é

porque se deixa ser


ele sabe que há muito mais em qualquer coisa que se faça,

em qualquer atitude que se tome,

em qualquer iniciativa

de colocar a chave

na fechadura

e abrir a porta

do que em simplesmente

abrir a porta.


um “um”,

mas não qualquer um,

que percebe a beleza em janelas abertas,

pássaros no céu

e café quente ao amanhecer.


feliz por guardar meu ontem como fotografia.


tranqüila no meio da festa

isso,

foi ele

e não por acaso.


não, por acaso,

não foi.


[será espero.]


...


seremos qualquer “algo”

que caia no olho feito cisco.


qualquer cisma

ou página amarelada de livro.


seremos com o tempo

qualquer "Baudelaire"

ou papel amassado.


estaremos como ontem

unidos

por uma linha imaginária

que não se desfaz

em raios de olhares,

velas sem pavio

ou

lâmpadas queimadas.


da série: "dancing in the moonlight"

ou

isso não é um poema

19.3.09

sobre realidade de contos de fada (I)


pensei em brincar de ser feliz

e fazer de conta que tudo estaria certo

na avalanche de erros

que persegue a existência entorpecente


esse existir fez com que os dias

durmissem e acordassem sinfonia

em quandos de chuva ou sol


depois de um tempo

adivinhei em nadar

o melhor remédio para escapar da tempestade

que insiste em implantar na alma;

problemas


percebi que distribuir belos sorrisos

e pintar os olhos

são presentes esperados

pela manhã

e não há dinheiro que pague por eles


transformar pequenezas em grandes valores

é a sorte que poucos percebem

ao pisar num tapetinho de boas vindas

em uma porta qualquer

e jogar os dados para saber a previsão do tempo

pode ser um jogo melhor do que qualquer baralho

ou dominó


a luz aparece de onde menos se espera

e tentar perceber o que os olhos

pintados ou não

dizem

é o peixe que todo pescador

deseja ter no barco de madrugada


a lua pode ser tão valiosa

quanto um anel de diamante

para um pedido de casamento

ou anúncio de gravidez


eu te amar

independente de qualquer subida íngreme

ou pneu furado

é a tranqüilidade

que o coração precisa

para tocar rock n’roll

em santas veias

por noites, dias

e preguiças intermináveis


um banho de cachoeira

até que os dedos

adquiram textura de sapo ou peixe

sequestra qualquer peso que

os ombros não consigam carregar


respirar o seu perfume

lá longe

no travesseiro

é o brilho que em meus olhos;

purpurina


a voz do homem amado

faz de mim eletrochoque


e mais um mês passou enquanto fomos felizes

brincando na gangorra de altos e baixos

que nos faz ser um do outro


esse jogo sem estratégia

que nos molda e faz pensar em ser eternos

é o beijo que até agora arde e hidrata meus lábios

da pimenta de você

17.3.09

sobre não ser ... (II)


...um coração




palavras mudas

discursos surdos

atitudes doces

e qualquer outra coisa que cruze

um certo espaço

inexistente de tempo

ou paisagem

poderia ser o que basta para acabar com tudo

que angustia e apodrece

incinerar todo o lixo que se avoluma

em frestas de sofá e nos cantos da casa,

mas isso,

seriam apenas obviedades e clichês,

e não representaria nada do que seria necessário

perder por aí...


deixar cair um papel displicentemente pela rua

ou ser atirado como um filtro ainda aceso de cigarro pela janela

são ações que não representam algo que seja político e nem correto

incêndios sempre podem representar a finitude de algo

ou mero acidente

os bombeiros estão aí para isso

apagar o fogo surgido de fagulhas, restos de vela, explosões

e são extremamente necessários nessas horas


os trabalhadores, a água e os fósforos

a pólvora têm o poder exterminador das balas perdidas

e da incompetência dos governos

da corrupção dos governantes

e da falta de pudor dos que fazem algum tipo de política

em causa própria

que lese o próximo

descumprindo assim algum dos 10 mandamentos

acelerando dessa forma o desenvolvimento das doenças,

o buraco na camada de ozônio, a troca das geladeiras antigas

o derramamento de óleo no oceano, o degelo dos icebergs,

o extermínio das praias paradisíacas e

tudo que pode ser confundido com esse ser complicado

e filho da puta que se chama amor.

Please listen carefully and try to hear what I am not saying.

(Charles C. Finn)

sobre não ser ... (I)


... uma ilha.



brigadeiro de colherada
pudim recém saído do forno
e bolo quente
não dão dor de barriga

é tudo invenção da vovó

entrar na piscina ou tomar banho
depois do almoço
também não deixa ninguém torto
como eu quando criança imaginava

sonhar com o príncipe encantado
é o mesmo que brincar com núvens
e amigos inexistentes

sempre pensei
que um belo dia
no meio do nada
fosse surgir um cavalo branco
uma cerquinha de madeira
um jardim bem cuidado
uma casa com telhado no meio disso tudo
e o coração ficasse tranquilo

ao contrário de tudo
no que eu sempre acreditei
percebo agora que
o amor certamente
não foi feito
para tolas como eu

encontrei o príncipe,
mas ele não é tão príncipe
e nem eu tão princesa
a ponto de me encontrar
cercada de beleza
e calmaria
por todos os lados.

11.3.09

Sobre tubarões e peixinhos dourados (I)

Sobre aquilo que poderia ter sido...

Querido "Z",

Ando perdida na fumaça dos cigarros não fumados. Meus sapatos cor de prata remetem às cinzas que deixei de largar nos cinzeiros, nas esquinas, por aí.
Um sentimento esquisito me invade como frases soltas e me faz pensar no que é e no que seria de mim. No você, nele, nela e no meu eu.
Um lado é espelho. Equilíbrio. Segurança. O outro é diferença. Agitação. Desespero.
A segurança é a dor que não quero sentir daqui uns meses quando descobrir que você voltar para ela. Agitação é o que não devia querer, mas preciso sentir e isso ele me dá com propriedade.
A calmaria que você momentaneamente fotografa na minha vida, só poderá ser vista em álbuns de retrato, porque por mais que você represente para mim aquela casa com cerca branca e margaridas no jardim – eu sei que seria por pouco tempo...
Você não tem maturidade emocional para mim e sim para ela, que é seu cortiço, sua pensão de 412 quartos no subúrbio. E não digo isso porque ache que ela é menos que eu e sim, porque ela é tudo o que eu não posso ser para você.
Ela é seu desespero, seus traumas, seu complexo de Édipo e eu sou só a mulher que você faz feliz por amar demais e esse peso é mais, muito mais, do que seus ombros conseguem carregar.
Eu sei que a gente poderia já ter um filho de 2 ou mais anos e eu poderia estar grávida da nossa filha e a gente poderia dividir um apartamento e ter ido pra Europa de mochilão nas férias, mas eu também sei que ela organiza suas finanças e seus dvd's, seus compromissos e até a hora que você deve escovar os dentes. Ela mantém um pijama azul dobrado embaixo do seu travesseiro e te beija na testa e diz boa noite quando vocês vão dormir. E eu também sei que comigo isso seria totalmente oposto porque assim que você entrasse em casa eu ia tirar a sua roupa toda e te arrastar para o sofá e te contaria o meu dia e te beijaria inteiro e te serviria o jantar à luz de velas e tomaria banho de banheira com você e apararia a sua barba e dormiria completamente nua com a cabeça escorada na sua barriga e te acordaria no meio da noite com beijos e beijos e beijos. A gente nunca ia ter um dia igual ao outro e eu nunca te daria um beijo na testa e as nossas roupas ficariam sempre espalhadas pelo banheiro, pela sala e pelo quarto.
O seu sentimento de segurança comigo, seria sempre a falta de rotina e por mais que o seu consciente queira isso, no fundo seu inconsciente deve estar gritando: - “não. não. NÃOOOOOO!!!”.
Eu sou aquela que vai fazer você andar a 140 km/h porque isso me dá tesão e ela quer que você ande a 60. Ela é a sua chave de cofre e eu sou a porta aberta, as janelas escancaradas.
Por outro lado, você é todas as minhas certezas e ele as respostas que eu nunca vou ter. Ele transforma minha vida, meus sentimentos em montanha russa e você é meu carrossel com cavalinhos, pôneis e unicórnios.
Se você conseguisse se juntar a ponto de verdadeiramente saber que sou eu aquela que vai ser sua eternidade eu ficaria com você e seria sua por inteiro, mas eu prefiro me afastar e deixar que ele e o trem fantasma que ele representa na minha vida continue a seguir o caminho, porque eu sinto por ele uma vontade que é completamente diferente da saudade que eu sinto de você desde que você saiu da minha vida.
Então, se eu sinto saudade de ti, essa saudade vai ser para sempre e dor, eu não preciso mais sentir. Eu sei que não vou mais precisar chorar por você e nem por ele, porque eu vou transformar ele no meu bote salva-vidas enquanto você será sempre me transatlântico inatingível em alto mar. Eu não preciso mais ficar à deriva da fumaça dos cigarros não fumados.
Assim, a gente vai ser feliz; (in)feliz.

Beijos com gosto de eternidade,

"P".
.
Da SÉRIE: "Love hurts (but dancing like an idiot helps)"
ou
"esta pode ser mais uma carta de amor se (...)"