...Mãe
meus filhos
não são de carne e osso,
mas possuem alma
[alma em forma de poema]
frases encaixam-se
cirurgicamente
uma embaixo das outras
palavras dão as mãos
abraçam-se; beijam-se
meus poemas são filhos
que ainda não tive
e não são necessariamente do mesmo pai
[não que eu seja infiel nos relacionamentos porque não sou]
mas sim,
porque eles são fruto de diferentes estados de espírito,
fases de vida, estudos, estrutura emocional.
às vezes brotam do nada,
como se eu fosse ar
e só isso
às vezes necessitam de fecundação, gozo, óvulos
às vezes escapam pelo DIU
burlam a menstruação
[sim, mulheres sangram!]
eu sou mulher,
logo...
eles,
como as crianças
[filhos, serão sempre crianças para as mães]
por mais que cresçam e insistam em ser maiores que elas
sentem fome, sede, medo
reclamam de ter que freqüentar a escola,
acordar cedo
e sempre se acham crescidos o suficiente
para ir sozinhos
na festinha na casa do amigo
poemas,
como filhos
não retornam ligações de celular
e não avisam quando vão dormir fora de casa
meus poemas
me enchem de preocupação
e orgulho
[mais de orgulho que preocupação]
não é sempre possível
pensar no que os outros vão pensar
como cada coisa
ou ato vai ser
interpretado
e o que pode ser peneirado deles
[sentido ou mal entendido]
meus poemas são meninos e meninas
ás vezes assexuados,
às vezes libidinosos
escrachados, mal educados
mau humorados, desgostosos, emburrados
e em muitas vezes leves e azuis como o céu e suas nuvens
meus poemas gostam de roupas caras, grife
mas também do que é simples, baratinho
gostam de sentar no chão, brincar com lama,
tomar café quente...
de viajar
assim como eu gosto de viajar
e viajo
sendo assim,
como meus filhos,
eles viajam comigo
me enchem de orgulho
e não têm vergonha da mãe
que zelosa
sempre os busca no fim das festinhas
na casa do amigo
num prédio
qualquer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário