4.8.09

sobre fagulhas e pudim de leite (IV)

decepção é uma bruxa que tira a capa preta na hora do banho e nua, pelada, desnuda mostra a bunda para quem quiser ver. é bom que ela se revele assim feiosa e com verruga no nariz, pois feiticeira, em outras horas, utilizava a vassoura para varrer seus defeitos para baixo do tapete persa de ilusões trançado com os melhores sentimentos de amor, amizade e confiança.

feiticeira, a desilusão de muitas caras se transmutava em beleza, em fantasia, em cervejinhas na varanda e em risadas ao cair do sol.

a desilusão fazia das madrugadas mais frias calor com um cobertor quentinho nos pés e carinho, cuidado, mas era tudo engano. a desilusão jogou o chapéu pontudo em cima da pia, tirou a roupa e mostrou a bunda na hora do banho.

a sujeira debaixo do tapete explodiu em fofoquinhas e historinhas inventadas e começou a fazer cócegas no nariz de quem estivesse por perto. parecia até essa gripe nova que vem dando tiro perdido nos pulmões de quem espirra e mesmo que seja simples alergia, rinite alérgica e só, logo vem alguém e arregala os olhos e diz: é gripe? – parece até propaganda de analgésico, mas não é.

não é propaganda nenhuma, é uma descoberta de que a desilusão é traiçoeira e as aparência enganam e enganam demais; trapaceiam, fingem, mentem, dissimulam e é ruim quando descobrimos que acreditamos em uma imensa mentira, que fomos enganadas pelo nosso coração que sempre disse: nela, você pode confiar. ela é sua amiga. sim. ela gosta de você! e o coração, coitado, sempre fez essas afirmações, pois não acreditava ser possível que alguém fosse dissimulado assim de te abraçar e beijar e ouvir, receber e ajudar, aquecer que não gostasse de verdade e de você, mas até ele coitado, se enganou.

a sua mente se enganou. você se enganou por nunca imaginar que a desilusão tivesse uma bunda branca e caída, pois andava sempre bronzeada vestida de vermelho, camuflada em uma cigana bela e vaidosa. só que a desilusão era uma bruxa e utilizava a vassoura para esconder defeitos e varrer a falta dos dentes e o sorriso amarelo para baixo do tapete voador sem pilhas para que você nunca descobrisse seus disfarces mais sórdidos e sua falta de escrúpulos. sua facilidade de manipular e toda uma dissimulação digna de Oscar de melhor filme estrangeiro.

2 comentários:

Anônimo disse...

Aloha!
Grande amiga de palavras profundas
bjo

Rafael Sperling disse...

Olá!
Fico feliz que tenha gostado meu poema.
Não sei se você se lembra, mas já nos vimos no Corujão da Poesia, do Leblon.
Depois paro pra ler com calma o seu blog também, são 5 da manhã agora... AhuAhau
Bjs