21.5.09

Sobre imaginação e sorrisos (II)


Da série: não foi escrito por mim, mas para mim
ou
sempre surpreendida;
lágrimas em suspenso
ou
troca de cartas

-A RESPOSTA-

Querida Hollanda,

Parece até que sou um outro país mandando uma carta pra minha vizinha Hollanda, ou seria, uma prima distante de outro continente? Não sei se sou Itália, ou se sou França, ou Brasil mesmo, mandando uma carta agradecendo pelas influências que vieram daí. Enfim. Cá estou na tessitura de um tenor a cantar novamente as palavras que você me faz sentir. Sou um pouco lírico, mas nem tanto quanto você, pois, a gentileza e o cavalheirismo me fazem ser assim, Inglês.

No teatro sou criança e pareço um pouco com um olhar que vi você fazer ontem, é essa ternura infantil, de criança feliz que tento manter o tempo todo.

Ontem você passou aquele estado de concentração, tão difícil a quem lê e faz poemas longos como os teus, pois, vindos de você, são música, vendo você de pé com o microfone a caminhar entre nuvens, de branco, maquiagem borrada pelas lágrimas e uma voz que desafina lindamente... é ópera.

Assim, espantando as meninas que não se libertaram ainda, trazendo sorriso a quem sabe o que você faz bem, ontem, você disse quem era a quem não te conhecia. Claro que fiquei preocupado quando quase caiu entre os livros, e fiquei um pouco chateado, por pouquíssimos momentos quando entrou no seu transe empurrado pelo Camões. Você ficou falando da dor, da dor, da dor, que vem de dentro, que dói dentro, ou algo assim.


O poema do Camões:

Em prisões baixas fui um tempo atado,
Vergonhoso castigo de meus erros;
Inda agora arrojando levo os ferros
Que a Morte, a meu pesar, tem já quebrado.

Sacrifiquei a vida a meu cuidado,
Que Amor não quer cordeiros nem bezerros;
Vi mágoas, vi misérias, vi desterros:
Parece-me que estava assi ordenado.

Contentei-me com pouco, conhecendo
Que era o contentamento vergonhoso,
Só por ver que cousa era viver ledo.

Mas minha estrela, que eu já agora entendo,
A Morte cega e o Caso duvidoso,
Me fizeram de gostos haver medo.

Estamos aí, almas-gêmeas ou não, nos encontramos. Você me disse várias vezes que me adora, e pode dizer outras mais, pois, eu também te adoro, muito.

Um beijo do seu,

Lord Lake

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