7.5.09

sobre acaso e cachos de uva (V)


Da série: Esta carta poderia ser um tête-à-tête


Querido X,


Sou melhor com as palavras no papel.

Na verdade, as palavras não se modificam - elas são as mesmas, mas assim eu consigo organizá-las melhor.

Você já deve ter percebido algumas das minhas dificuldades...


Estou escrevendo para te dizer que estou feliz. – mas isso eu já te disse e tantas vezes... - que você até deve estar cansado de ouvir. De ouvir isso. Essa simples palavra. Tão infantil, tão breve – mas lúcida, sabe?


[Nenhuma melhor para traduzir esse estado que você causa em mim – estado de felicidade.]


Eu sei que às vezes quero voar em velocidade rápida.Mais rápida que o vento, que meus pensamentos, que esse furacão que é o meu viver. O meu querer viver. - E isso tudo se acelerou com a sua presença. Com o seu estar perto de mim. Com a sua vontade de estar comigo.


[E isso me deixa feliz – porque eu também quero estar perto. Perto de você.]


Só escrevo porque como eu disse antes, a velocidade às vezes assusta e a gente está em processo de conhecimento, então, por isso, eu quero te dar a liberdade – não para me prender, me enclausurar – mas para dizer que eu estou indo rápido demais e que as coisas não podem ser assim.


Quero te dar a liberdade de querer ir dormir. De querer me deixar em casa antes de você dormir. Sei que às vezes exagero em função da minha necessidade de sono ser pouca e de eu ficar feliz na presença de amigos e mesmo em função da minha necessidade de viver – mas quero que saibas que o estar com você ultrapassa tudo isso, então você pode pisar no freio. No meu freio. Até puxar o freio de mão se for preciso, tá?


Eu, no máximo, vou dar um cavalo de pau, mas nada que me deixe machucada e nem machuque você. Só tome cuidado para ver se não vem outro carro do outro lado da rua para não causar acidentes, mas puxe. Puxe mesmo o freio de mão se for preciso.


A vida pulsa e é tão "curta para ser pequena” que necessita ser grande e na verdade, neste momento, sinto essa vida grande – por ter você por perto. Não necessariamente ao lado. Para não assustar você, e só por isso, para não espantar você de perto – desejo você ao meu lado.


Sinto que estás aqui e isso me conforta como um cobertor felpudo, um travesseiro fofinho.


E eu queria de antemão te pedir desculpas por alguma coisa. Por qualquer coisa que já tenha acontecido ou que venha a acontecer que te chateie e possa te afastar de mim.


Eu queria que a gente conversasse sobre as coisas, e, dessa forma, a gente vai conseguir sempre se entender. Entender o eu e você – assim como o apartamento que a gente começou a mobiliar.


Nunca esquecendo do eu e nem do você, mas sendo nós – entende?! – nunca deixar o nós passar por cima do individual, mas também respeitando nossa individualidade, mesmo que às vezes - essa individualidade possa machucar ou chateie o outro e - por isso - já te peço desculpas.


Na verdade, na verdade mesmo acho que devo agradecer, como aquele dia: “Obrigada Lua, estrelinha, moto, rua...” – Obrigada por trazer você novamente para perto, realmente para perto. Perto de mim.


Que seja infinito esse estado de felicidade que você me causa e que não se finde o nosso conversar, conhecer, ajudar... até que os dias mais distantes passem e a gente envelheça sem enferrujar, oxidar, quebrar, sujar ou qualquer adjetivo outro que se faça válido.


Imagino que você deve ter ficado chateado e hoje eu estou chateada pelo meu te fazer chatear. Eu sei que você é adulto demais e eu busco esse crescer, mas às vezes escorrego, por isso, prefiro sempre minhas sandálias de plástico e meus tênis de pano aos saltos.


Por isso escrevo – para dizer que gosto de ter-te perto.

Por perto. Bem perto

de mim.

Beijos,


J.

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