22.8.08

sempre o MESTRE

Sempre virá. Odeio quando te enganas assim, girando entre as panelas. A vida é agora, aprende. O pó se acumula todos os dias sobre as emoções. Estende a tua pata para o Outro, delicadamente. Cata os piolhos do Outro. Deixa que catem os teus. Esmaga entre os dentes, engole. Fala-me do gosto.
O gosto é bom, eu te dizia. E não impede a asa, a seta disparada em direção a Hydrus, Eridanus. Mas primeiro prova da terra. Depois, voa. Não aprendeste com Ícaro?


Caio Fernando Abreu

Desculpa mas se eu não tocar você agora, vou perder toda a naturalidade, não conseguirei dizer mais nada, não tenho culpa, estou apenas sentindo sem controle, não me entenda mal, não me entenda bem, é só essa vontade quase simples de estender o braço para tocar você, faz tempo demais que estamos aqui conversando, já dissemos muito, dissemos tudo o que pode ser dito entre duas pessoas que estão tentando se conhecer, tenho a sensação impressão ilusão de que nos compreendemos, agora só preciso estender o braço e com a ponta dos meus dedos, tocar você, natural que seja assim: o toque, depois da compreensão que conquistamos. Não diz nada, apenas olha para mim, sorri. Faz pouco despencou uma estrela e fizemos, ao mesmo tempo, dois pedidos. Pedi para saber tocá-lo. Você não me conta seus desejos. Sorri com os olhos, com a mesma boca que mais tarde, um dia, depois daqui, poderá me dizer: não. Há uma espécie de heroísmo então quando estendo o braço, alongo as mãos, abro os dedos e brota. Toca. Perto da minha a boca se entreabre lenta, úmida, chiclete, vinho, vermelha, os dentes se chocam, leve ruído, as línguas se misturam. Naufrago em tua boca, esqueço, mastigo tua saliva, afundo, escuridão e umidade, calor rijo do teu corpo contra a minha coxa, calor rijo do meu corpo contra a tua coxa. Amanhã não sei, não sabemos.
Caio Fernando Abreu

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