29.5.08

Aniversário

(olhares.com)

Muitos objetos passaram pelas minhas mãos. Tanto que se perdeu. Tudo que já quebrou.
Tudo o que eu quis. Que já não quis. Tudo que se partiu e até o que restou.

Cadernos, blocos, post-it's, cartões postais, cartas amareladas, fotografias... durante 30 anos, guardados.

Gavetas. Caixas. Caixotes. Lembranças. Muitos fazem falta. Alguns já fizeram. Preferia não ter conhecido outros.

Variedade de lugares. Entranhas, frestas, estrados; - espaços onde estão preservados: queridos e distantes. Os presentes, os presentes e os ausentes. Os que nunca mais vi. Os que ajudaram. Os que me geram lembranças boas. Os que atrapalharam passagens e meios de caminho. Os que atravancaram estradas. Os que inspiram saudade. Os que me fazem rir; os que me fazem chorar. Os que penteiam meus cabelos. Os que limpam minha maquiagem; os que gostam dela borrada. Os que me cobrem quando tenho frio. Os que gostam do mesmo que eu; os que não gostam tanto.

Os que respeitam minhas escolhas certas, erradas. Os que me deixam doer. Os que me fazem dançar. Os que entendem minhas idiossincrasias, perguntas, respostas...

Os que me tiram do chão. Os que me deixam na dúvida. Os que me enchem de asas e beijos; abraços, anseios, vontades, carinho.

Durante 30 anos, foram muitos os cadernos, blocos, álbuns de fotografia, perfumes, sabonetes e cremes hidratantes que chegaram ao fim. Muitas unhas quebradas, olhos borrados, lágrimas e gargalhadas. Muitos sustos e surpresas.

Hoje mulher, ainda menina, às vezes boba sei que fiz. Realizei. Sou!

A maior parte de mim são os cacos de vidro, as flores, as asas, sorrisos, palavras que ouvi. A maior parte de mim são os tapas e tombos e puxões de cabelo. Os vestidos cor de rosa, as calças rasgadas, os vinis arranhados, cd's importados.

A maior parte de mim são os amigos que conquistei, os poemas que escrevi, os livros que li, os sonhos que realizei e até o que eu ainda não fui. Não sei. Não vi. Não sou!

A maior parte de mim é tanto... que agora, enorme e preenchida por vozes e passos de todos e tudo. Cheia de tanto e plena de tudo tô até achando que essa de chegar aos 30 me amadureceu.

Um comentário:

Anônimo disse...

Balzaca eu não sei... mas algumas mulheres privilegiadas como você, conseguem passar para uma poesia seguinte da vida, com arte e leveza excepcionais.
Belo texto. Beijos.