Cartões postais que a gente recebe com o texto espremido ou palavras soltas falando de como a praia está boa e você deveria estar aqui porquê afinal, só falta você - são bons de receber; assim como aqueles em que vem escrito: (continua...) e a continuação nunca chega. Tem outros que você recebe num envelope, sem nada escrito mesmo, só para que você veja a paisagem.
Eu sempre tive mania de mandar cartão-postal, mas nunca soube escrevê-los. Sempre faltava cartão e a letra espremia-se pelas beiradas ou subia pelas bordas e eu nunca consegui dizer o que queria ou devia. Nunca consegui expressar o que sentia. Eu sempre senti muito e escrevi muito e fui prolixa ao extremo. Eu sempre escrevia muito ou minha letra era grande.
Cartões postais nunca foram suficientes ou a minha pseudo-auto-suficiência me fazia acreditar que nada bastava e eu nem ficava tonta naquela época e hoje, nem sempre eu fico, tonta, mas algumas vezes, em sua maioria aliás, eu tenho tentado fazer com que isso não aconteça mais.
Eu ando tão feliz que nem sei sobre o que escrever, mas sei que se ficar melhor estraga, aliás, tudo fica melhor a cada dia que passa, mas a distância, a saudade aumenta e isso é o que ajuda e atrapalha ao mesmo tempo; porque a saudade é tanta que eu vivo com lágrimas nos olhos e saudade e eu escuto uma música e lembro dele e choro e eu lembro de uma coisa que aconteceu e lembro dele e choro e falo com ele no tel e ouço a voz dele e choro e eu preciso dele do meu lado e não adianta eu mandar um cartão postal nessa época de e-mail, eu queria ser capaz de me postar no correio. Colar selos em mim e num piscar de olhos estar lá. Ser sempre a formiguinha, o mosquitinho, o grão de areia que gruda no chinelo, as gotas de chuva, o vento, o calor, o sabonete, a pasta de dente... eu queria ser a toalha e estar sempre com ele, secando e cuidando dele, daquele corpo que sinto meu quando perto. Uma parte, uma extensão de mim que eu sinto e ouço e quero e gosto e amo e sinto saudade.
Eu descobri que essa noite a gente dormiu e acordou insone as 3 da manhã e descobri também que a gente ficou pensando um no outro até dormir de novo e a gente dormiu e acordou e não parou de pensar, um no outro. A gente não pára de pensar um no outro e a gente tá longe, mas tá perto, conectado e, a gente se absorve e um quer ser só do outro e é. E eu imagino a carinha da minha filha com ele e a nossa casinha montada, os vasinhos de planta na janela, a luz do sol entrando pelas cortinas e a mesa da sala posta e o café da manhã ali suculento e colorido e a cena eternizada num cartão postal e a gente ali sentado lendo jornal e discutindo as notícias do dia e o beijo de até breve quando ele sair pra trabalhar e naquele dia eu tô de folga e vou escrever um pouco pela manhã e à tarde, limpar e arrumar a casa, preparar o prato preferido dele, tomar banho, me perfumar, encher de velas e cheirinhos o quarto, esperar ele em cima da cama de cinta-liga, babydoll... Jantar? Só depois, só depois...
Minha vida com ele eternizada num postal dentro de uma gaveta cheia de surpresas felizes.
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