3.6.09
Sobre agulhas e tempo (VIII)
esta chuva
me aquece
-a alma-
e me faz alegre
[radiante nesta tarde cinzenta]
oportunidade ímpar
de usar meu guarda-chuva
com imagem de Renoir
e pensar que estou na França
a degustar queijos
com croissant
e uma taça de vinho
Bordeaux
as lembranças
me inquietam
e me fazem
saltitar
feito menina
que ganhou
nova boneca
distância
que começou longa
e agora estreita-se
por um caminho florido
e silencioso
rumo ao desconhecido
mais alinhado
-em linha reta- em suas setas
e obstáculos
permeados
por unhas médias
pintadas
de azul marinho
que arranham
e repelem
toda a dor
que outrora
alguém pudesse
sentir
mesmo como o estômago
cheio de água,
vícios
e vontades
um gritar à plenos pulmões:
-estou viva!
e uma voz que sorri
quando o telefone toca
e escutamos:
-Alô. Algo como vender um pedaço de hora infeliz para comprar lá na frente um segundo de hora feliz quando chove?
-chove-
chovem cântaros
e canções celestiais
desse céu Londrino
que
nos encobre
a testa
e ofusca os olhos
nesta tarde cinzenta
e feliz
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