21.5.09

Sobre sorrisos e um dia de sol (I)



Da série: " Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."


-Fernando Pessoa -


ontem na papelaria

vi um caderno

de páginas azuis turquesa


meus olhos encheram de água

quando descobri que não poderia

embrulhar o sol de presente

para te dar


vi naquelas páginas

um céu vazio

para o

-eu e você-

enfeitar


eu não posso

[te dar o sol]


e os meus olhos

se encheram de lágrima

porque eu lembrei

que eu também não posso

te dar nuvens

e nem gaivotas


e eu odeio

não poder

te dar

essas coisas


eu não posso

te dar de presente

nada disso


eu só posso te dar

a minha respiração ofegante

ao sentir que seu coração

também bate forte

à medida que a sua respiração

fica cada vez mais

próxima


mais ofegante

-de mim-

mais forte

-em mim-


eu só sei que

não posso deixar você ir

e que a gente

tem que aprender

a respirar


[inspirar,expirar]


vagarosa e lentamente

-respirar-


eu não posso deixar você ir

não quero deixar

-você-

ir


e comprei

o caderno

na papelaria


sei que não posso

te dar

minha sombra,

minha pele,

nem canções de amor

sem propósito


naõ posso te presentear

com coqueiros

e nem com gaivotas


é tão bom te ver nas páginas vazias

de um caderno azul turquesa

que mesmo que eu não possa

montar um céu tradicional

-com peças originais-

como o sol e suas nuvens


eu sei que posso

lembrar de você


e desenhar

Sobre insônia e lindos sorrisos (II)





Da série: "acordo de noite subitamente.

E o meu relógio ocupa a noite toda

(...)"


-Fernando Pessoa-


pesadelo só aparece

no sonho

de quem tem medo

do escuro


lembro que uma vez

você disse

que raras vezes

você teve um


-eu tenho-

medo do escuro,

da noite,

do breu


[ao inverso de você]


eu tenho medo, muito

medo

e meus sonhos quase sempre

são invadidos por monstros,

fantasmas, alienígenas


e também por homens

[aterrorizantes, ameaçadores]

com facas em punho

e armas engatilhadas

que apontam pra minha cabeça

sem pena


eu tenho medo do escuro

da noite

quando você

não está ao meu lado

-feito uma bolsa à tiracolo-

que guarda

todos os meus pertences

e segredos

-dentro-


você me tira os medos

-supostos e existentes-

e me protege dos pesadelos

nas noites de breu

e na escuridão

que nos impede

de dormir


quando você me acalma

e canta suas angústias, vivências

e desejos no pé do meu ouvido

e sussurra baixinho, bem baixinho...

eu te amo


sinto um sopro

um arrepio...

e digo que

te espero

“de dia, de noite, sem hora e nem porquê”


e eu te amo também

-t-e-a-m-o -

a mais pura e simples

forma de amar


foi você quem mostrou para mim

que o monstrinho que mora embaixo da cama

não vai me morder, machucar

nem assustar


e que ele nunca vai virar sonho ruim;

maldade


-com você eu esqueço do medo do escuro-


ao seu lado

eu não tenho

mais


pesadelo

Sobre cafuné e canções de ninar (I)

-Versão 2-

Da série: "agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês"

ou

mais um poema em duas versões

ou

Baudelaire; talvez.


seus dedos longos navegam nas ondas dos meus cabelos

e começo a adormecer em seus braços

- tal uma a menina anestesiada nos sonhos perdidos da infância -


a dificuldade de dormir

sem teu corpo ao lado

cresce

com a morte dos minutos

que fogem das horas


e os dias

se esticam

distantes da ternura

do seu olhar doce,

forte

quente


sua falsa fragilidade

e o meu imenso medo

-de quebrar seu coração em cacos -

e a minha falsa fragilidade

-diante das impossibilidades -

misturam-se

no nosso medo

de que algo nos quebre

de novo


o seu abraço ansioso

e voraz

afaga meus desejos

como ondas de um mar

observado por horas

- no sobe desce das marés-

entre o esconder do dia

e o nascimento da noite


para mim,

seria necessário

que o tempo parasse

como um carro

que perde o fôlego

numa ladeira


e para ti

– ao contrário –


peço que o tempo

voe como uma Ferrari

numa pista de Formula reta

e sem parada


seria necessário

que um sinal vermelho

aparecesse em minha vida

e me impedisse de atravessar a rua

-por alguns anos –

para que

eu não me fosse desta

e nem me machucasse mais

com as cicatrizes dos dias


dessa forma,

eu estaria limpa

e livre

para tudo

quando seu sinal

virasse verde

diante de meus olhos

num dia qualquer


numa esquina movimentada,

num cruzamento encruzilhada

ninguém teria importância maior

que nosso amor

– quando o amarelo do sinal finalmente desbotasse-


assim,

nós poderíamos cobrir

nossos corpos com calores longos

– com nossos ocos grudados com cola-


tal qual envelope selado,

lacrado

onde se passa língua para guardar

esconder,

proteger

uma mentira

que não devíamos enviar


seja por vergonha,

falta de segurança

ou para revelar

nossos asperezas

rezas

– sempre

fracas em evitar frangalhos-


a porta aberta,

as mãos trêmulas,

o batom borrado,

os narizes gelados de frio,

medo, fúria

e paixão.


seus dedos armas

agitam o mar

dos meus desejos

e te encontro veleiro

- dentro de mim –

a navegar.


*Com sugestões de Gershom Nor

20.5.09

Sobre imaginação e sorrisos (II)


Da série: a verdade do sentir

Querido Poeta,

Lago que transborda e vira mar - nos meus olhos, ouvidos e coração - toda vez que te percebo, escuto, olho. Todas as vezes que te sinto perto e mergulho - no sorriso que suas palavras dão quando abraçam as minhas. Todas as vezes nado nesse calmo mar que é um lago - um lago que transborda - feito àgua que ultrapassa os limites do copo - feito corpo que pulsa ao ouvir a música que sai dos lábios do seu coração.

É tanta verdade que sinto, que vejo em você... - que não posso nomear-te com outras palavras senão delicadeza, pureza, particularidade, minúcia , gentileza, singeleza, beleza, gentileza, elegância, simplicidade, leveza... - desfiaria o dicionário (todos os dicionários) se fosse preciso, mas sei que não é - e por quê não é? - porque simplesmente eu sei que você entende - e você me entende e isso me faz feliz.

Eu te admiro muito e não me canso (nem cansarei) nunca de te olhar. Como já te disse antes: vc é o anjo poeta de cabelos cacheados e olhos negros que sorri para mim e me faz sorrir. O anjo poeta de cabelos cacheados e olhos negros que despertou-me do (des)encanto e me fez despertar do sono profundo - da cama morta - onde eu estava adormecida. Dormente. Anestesiada.

Eu te agradeço por querer-me perto e por olhar-me com admiração e carinho.

Estava falando de você para um menino que trabalha comigo (uma espécie de confidente) na hora do almoço e simples e finalmente percebi o meu real sentimento por você - pode até soar esotérico demais - mas percebo em nós (eu e você) ou de mim para você uma energia que parece uma coisa de "almas-gêmeas", mas não "alma-gêmea" no sentido de casal, de ter encontrado a "alma-gêmea" para dormir junto - e sim "alma-gêmea" irmã, sabe? - é algo que a gente de alguma forma trouxe de uma outra vida quando eu devo ter nadado no seu então riacho, antes de virar lago ou mar. De uma outra vida - quando você era o rio e eu a então projeto de sereia que aprendia a nadar. É sim... é isso que sinto... e por sentir, preciso falar/escrever/dizer para você essas coisas (deixo meus dedos seguirem o caminho que desejam e não penso neste momento no que estou escrevendo - deixo meus dedos como barcos de pesca - colecionar letras e formar palavras. Posso até estar pescando tubarões, mas eles me fascinam então não ligo se eles vierem morder-me a ponta dos dedos. Não ligo. Sinto e só sinto peixinhos dourados a esbarrar em meu corpo e me fazer lembrar de tudo de ontem - até do que eu esqueci. E por falar em esquecer...

Depois me manda o poema do Camões que eu lí. Achei tão lindo... e como você viu, me inspirou de alguma forma tal e tão profunda que lembro apenas que emendei/costurei com outra coisa - só que eu não lembro o que/nem qual... (Você conseguiria refrescar a minha memória aliás dos poemas que eu senti ontem? O que eu disse?) - Lembro-me apenas que criei asas e as abanava como leque de aristocrata pelo salão. Meus pés bailavam e os sapatos de cristal estavam no meu pé o tempo todo. Não perdi nenhum lado na escada e isso me fez lembrar de que adoro andar descalça e sentir a textura da terra, do asfalto, da grama, sob meus pés.

Beijo,

J.

P.s- Ouço agora o som da sua voz e ele faz lembrar o canto do passarinho que mora dentro de mim...

P.s2- Vou apertar o SEND e mandar o e-mail sem revisar. A vida fica mais divertida assim...

P.s3- Eu já disse que te adoro?!

Do livro: Marco Polo e a Princesa Azul

De Thereza Christina Rocque da Motta

(8)

A ODALISCA
A Carolina Yolen

Meus pés têm guizos
que movem meus passos.
Danço para ti
sobre o tapete
entre almofadas de Damasco.
Tiro os véus de seda dourada
e vou-me despindo ao ritmo
de tambores e gaitas
e teu olho me percorre
a extensão da pele,
me atiça, me acende
e me movo mais
para fazer dançar
tuas pupilas,
as sobrancelhas alteadas,
a boca semi-aberta,
teus dentes úmidos
se deleitando
com os bicos dos meus seios.
Como será teu beijo?
À distância,
amo teus lábios
que me beijam.

Ipanema, 16/08/2001 – 4h30

sobre soluços e algodão-doce (I)


Da série: esse poema é uma carta de amor
ou
sobre a coragem de parecer ridícula

essa pálida ausência

que escorre pelas pernas

entra nas frestas

cantos quinas de parede

e esconde da língua

os (di)sabores do mundo


um sorvete sem gosto

pode ser invisível

às papilas gustativas


–apenas o gelado-

é percebido

e só

só isso

nada mais.


já àquele sorvete

artesanal

feito com muito creme

e carinho

-aerado,bem batido-


feito com fruta de verdade


não ultrapassa

o gosto bom da tua boca

do teu beijo

em minha boca


-não passa por cima. não some.não aparece-


o seu gosto não desaparece

e eu penso que ele

não pode ser comparado

nunca

com o melhor sorvete

– apenas com o pior –

que é sem gosto


– sem gosto de não ultrapassar o seu –


não passar por cima

do seu


que é sempre melhor

do que o gosto

do melhor

sorvete

e da casquinha mais crocante


é docinho,

suave

- geladoquente –

eloqüente

enlouquecedor


é a minha língua em seu corpo

e seu beijo em meu corpo

em minha boca


a sua boca

à me sugar

o mamilo

faz com que eu fique

ereta e molhada

- em ponto de bala –


puxa-puxa, de canhão

– à ponto de explodir e gritar –


deixando nós dois

embebidos

em líquidos

e cheiros

– sabores –


deixando você

escorrer

por minhas pernas

feito riso frouxo

– que não pode ser contido –


feito crise de riso

de tirar o fôlego

de deixar sem ar


feito o ar que você me tira

-quando–


o gosto que você me deixa na boca

-quando-


o cheiro doce

que gruda na minha pele


seus dedos longos

acariciam meus cabelos

feito gatos sorrateiros

que se arrastam no telhado

– para não fazer barulho –


seus dedos longos

e seu braço firme

embaixo do meu pescoço

-quando-


seu coração forte

e sua firmeza

em me chamar

de amor

em me sentir

amor


e o meu

hipnotizada

por você

completamente

-quando-


tão derretida

quanto

um sorvete bom

que não tem a menor graça

quando estamos perto

um do outro


[eu de você]


-um sorvete bom desperdiçado-


ao seu lado

o bom

vira sem graça

o ruim

fica invisível


sabor?

só o seu

que me invade

e faz com que

eu

desfaleça

-adormeça-

e acorde

na manhã seguinte

com seus braços

em volta do meu pescoço


sem você

é tudo

pálida ausência


[azul]


que me escorre

das pernas.

19.5.09

complemento de final de série


sobre acaso e cachos de uva (VII)


vamos chamar assim:
ela é uma metáfora que
adoece aqui comigo.
devo admitir, não servi para
degolar a sua nem a minha solidão.
não é de hoje que
vou até o fundo verificar quanto é
silente e silenciosa a
falta, essa musa do não.
é ela, não você, é a falta que
joga na minha cara
por birra, ou porque é burra
ou por essência, não sei
sei que esmurra meu rosto com
esses destroços de algo que
não acaba só porque já acabou.
salvo-me apenas
porque conheço o
gosto das lágrimas antes
delas se poluírem publicamente e
meu rosto virar um
abismo mastigador de
negros morcegos-bem-te-vis
de metralhados-mimimis
de adocicados diz que diz.
eu sei, fomos alegres destruindo.
estávamos juntos
mas a solidão já nos rondava.
está bem óbvio para mim
aquela alegria era
uma espécie de falta
com maquiagem de palhaço.

- Luiz Felipe Leprevost -


Combina com o final da série (acima)
- ah! se combina... -


Emprestado do blog: http://notasparaumlivrobonito.blogspot.com/

Se você fosse um livro? Qual seria?


Eu sou o acima certo? Certíssimo!!!

"Antologia poética", de Carlos Drummond de Andrade

"O primeiro amor passou / O segundo amor passou / O terceiro amor passou / Mas o coração continua". Estes versos tocam você, pois você também observa a vida poeticamente. E não são só os sentimentos que te inspiram. Pequenas experiências do cotidiano – aquela moça que passa correndo com o buquê de flores, o vizinho que cantarola ao buscar o jornal na porta – emocionam você. Seu olhar é doce, mas também perspicaz.

"Antologia poética" (1962), de Drummond, um dos nossos grandes poetas, também reúne essas qualidades. Seus poemas são singelos e sagazes ao mesmo tempo, provando que não é preciso ser duro para entender as sutilezas do cotidiano.



Faça você também o teste:
http://educarparacrescer.abril.uol.com.br/leitura/testes/livro-nacional.shtml

sobre acaso e cachos de uva (VII)


[Fim de série]

"há paredes
mas são
pré-escombros."

- Luiz Felipe Leprevost

Da série: "Hello stranger!"

ela nem deveria escrever. ela não queria - estar escrevendo - no gerúndio mesmo. na verdade não deveria ser possível que ela escrevesse nada - agora.

[ela não sente nada neste momento - além de certeza.]

ela não sabe de nada neste momento que seja diferente de falta de coragem - da sua falta de coragem para não dizer covardia.

você sempre se gabou em dizer que era adulto e ela criança. de dizer que ela, "metida à artista" ,precisava crescer... - só que sua atitude - prova exatamente o contrário e só isso.

quem fugiu? quem tem medo? quem espera que forças ocultas dêem rumo à vida?

- ela? vc? -


quem desliga o celular? quem não dá notícias? quem esconde o que por aqui? quem se esconde?
ela se mostrou com todas as garras, acertos, erros, defeitos, sorrisos. e você?

ela não sabe quase nada de você e ela tentou saber de praticamente tudo. você contou para ela todas as vezes que você chorou sozinho? e das vezes em que você se escondeu debaixo da cama para parecer que não estava em casa (?) para sentir-se em algum lugar aconchegado, quentinho, escuro? e sobre as vezes em que você virou um paninho de chão escondido no canto - você contou para ela?

ela, ao contrário de você, te contou às vezes em que ela caiu do cavalo em detalhes. ela te falou que não estava pronta, não se sentia pronta, mas queria tentar. ela disse que estava tentando acertar e ela se expôs - apresentou você para os amigos e confiou em você. e por ela? o que você fez ? além de fugir como um cavalo, da cocheira, quando encontra a porta aberta?

só que ao contrário dos homens - os cavalos sempre sabem o caminho de volta e não se importam em fugir - então eu estaria me contradizendo quando disse que você quis fugir, sumir, desparecer dos olhos dela...

você, acredito, só quis respirar e por não ser cavalo - propriamente dito - digo, o animal, mas o homem - precisa mesmo de um caminho confortável a trilhar. você não tem ferraduras, nem quatro patas para dar coice - não tem pernas musculosas e veias saltando dos braços e nem um abdomen forte.

você é homem, deve ser frágil e tem um coração - não assim, vermelho como o dela - e vai encontrar na sua busca tantas outras - mas tantas... - tantas que vão querer se aproveitar do que você eventualmente possa proporcionar, alguém que vai sentar na cadeira ao seu lado sem querer e só por interesse, alguém diferente dela - que só queria as suas palavras, o seu aconchego, o seu sorriso, o seu estar perto, o seu bom dia ...

você vai... certamente encontrar alguém que vai reclamar da pochete que você usa e dos seus shorts largos e camisas apertadas e vai rir de você e vai te chamar atenção por isso. e aparentemente, - isso - é o que você quer.

uma mulher assim, presa à regras - avessa à breguices. alguém que aparentemente se importe mais que ela com você, mas ao contrário - livre e sincera como ela... solta e feliz. sorridente e verdadeira como ela... ah! meu amigo... dificilmente você vai encontrar.

ela só quer que você seja feliz, já que desviou-se do caminho com ela - e deixou ela dobrar a esquina e ficou lá em cima da ponte; olhando.

ela só quer ter dizer agora que quando arriscamos escolher o caminho e ele nos afasta do lugar seguro - é importante lembrar que tem um lado bom, que faz valer o frio na barriga.

ela quer te dizer que o tempo todo estamos presentes, lembrados, considerados e que ela, às vezes, lamenta a liberação feminina -só que - ao mesmo tempo, ela acredita que - se as mulheres perderam algumas seguranças, por outro lado, elas correm muito menos risco de terminar machucadas, conduzidas como um saco de batatas.

ela sabe, ao contrário de você, que os caminhos mais interessantes não levam para o curral e sabe também que - isso - um dia você vai aprender.

seja feliz, adulto!

P.s - Se você ligar para ela, ela vai te atender.

P.s2
-Você deveria ligar para ela
- até para dizer que -
não dá mais
ou explicar o porquê
de ter
novamente
sumido.

P.s3
- Ela merece essa transparência.

P.s4
- Você tem coragem de ser sincero?

18.5.09

Sobre [o que pode ser]

...realidade ou um abraço apertado (I)


Da SÉRIE: esta é uma carta de amor verídica
ou
sobre a impossibilidade do amor
Querida Amiga,

Preciso conversar.

A cada dia que passa tenho mais necessidade de conversar para entender porquês e também para me entender e sentir o que pode ser essa explosão de sentimentos que a cada dia que passa solta mais fogos de artifício no meu coração.

O despertar do amor é perigosíssimo, mas é tão lindo também... e quero entender a beleza dos olhares doces e dos apertos de mão, para me sentir menina outra vez e também para participar do crescimento de um outro que pode estar renascendo.

As pessoas se preocupam comigo, com a minha fragilidade e sei que você também se preocupa. Quero apenas te dizer que ele também se preocupa e é muito mais adulto que eu e, por isso, quando temos oportunidade de conversar - isso vira uma necessidade e dessa necessidade - surge a obrigação - e essa obrigação se faz presente - sempre!

Por isso escrevo para te tranquilizar, pois sei que você também se preocupa e por ser um assunto assim tão delicado - sinto-me no dever de te dar explicações e - peço ajuda - pois é tudo delicado demais e muita gente pode se machucar e não devia, né?!

Te confesso que essa história ( por mais que eu não possa vivê-la plenamente) é a história mais linda que já apareceu na minha frente.

É como um presente, uma flor arrancada de um jardim, o cheiro do melhor perfume e a vodka mais suave.

É bonito sentir meu coração bater forte e sentir as batidas do dele num apertar de mãos.

É muito doce e simples isso tudo por mais que se faça complicado diante de todas as implicações, barreiras, obstáculos e impossibilidades.

Confio em você e te amo!!!

Beijos,
S*

É amanhã e ...

vai ser I-M-P-E-R-D-Í-V-E-L!!!!


sobre desafios e cobertores de lã (I) - Vídeo

sobre passarinhos e asas de borboleta (I)




-Versão 2 -

Da série: "Protect me from what I want"
ou
mais um poema em duas versões
refém de si mesma
dormiu no calabouço
durante séculos

não tinha força para subir as escadas
-escapar-

alimentava-se de excessos
de sono, formigas
e outros insetos

- folgados insetos-
ousavam despertá-la
de vez em quando

ela os esmagava com as unhas
ainda sonâmbula
e os levava à boca.

bastavam dois
ou três
para alimentá-la
por um mês

ela
retornava ao transe
instantaneamente
e voltava para o fosso
onde era seguro
estar

- o mundo dos sonhos –


ela tinha tudo!
banquetes, baile, dança, festa
príncipes, reis, amores
saias coloridas e mangas bufantes.

ela tinha quarto
uma cama
beleza, riqueza, conforto
e uma coleção enorme
de sapatinhos de cristal
-alguns com pés perdidos-

ela os guardava assim mesmo
-solitários, sozinhos, sem utilidade –

ela os guardava,
pois lembrava de cada príncipe
que deixara
de devolver o outro pé

ela se lembrava do exato momento
em que deixou o sapatinho na escada
lembrava as saudades e o porquê

sabia porque
alguns príncipes não acharam os sapatos

ou estavam atrasados
ou distraídos
ao descer a escada

-outros acharam e devolveram-

esses outros
são os que tiveram coragem
e acreditaram
no “para sempre”

[exatamente aqueles que não foram “para sempre”]

por causa desses teve força
para subir as escadas e sair
do poço,
mas a cada crescer
ela encontrava menos força,
a respiração se fazia mais lenta

e ela tinha vontade zero
de perder sapatos
tomar goles à mais de champanhe
ficar altinha, zureta
e esquecer displicentemente

sapatos na escada
ela não queria mais isso
estava cansada
de perder sapatos
e lágrimas

de esfarinhar o rímel
e esfacelar o coração
de sentir-se como uma uva pisoteada
na vinícula à cada vindima

à cada amanhecer sem aquele amor do lado
sem dia seguinte de dor e desespero
de pedaço partido

ela dormia no poço
refém de si mesma
aguardando
um príncipe
corajoso
que quebrasse o cadeado
escorregasse pela escadas
-sem medo dos leões e dos camelos-
e a beijasse por inteira

o rosto adormecido
suas pálidas bochechas
-resgatasse nova cor para elas-

fizesse lentamente seus olhos abrirem
o brilho voltar
alguém que fizesse ela sorrir

ele subiria então as escadas correndo
e deixaria o sapato no degrau

aquele presente
a acordaria

então o sopro
seria
"para sempre"

*Com sugestões de Gershom Nor

Sobre cafuné e canções de ninar (I)


Da série: "ando tão a flor da pele

que qualquer beijo de novela

me faz chorar"


seus dedos longos

navegam nas ondas

dos meus cabelos

e começo

a adormecer

em seus braços


- tal qual a menina esquecida nos sonhos perdidos da infância -


a dificuldade de dormir

sem você ao lado

aumenta

com o passar dos minutos

que fogem das horas


e os dias

se tecem mais longos

distantes da ternura

do seu olhar doce,

verdadeiro

e sensível


a sua fragilidade

e o meu medo

-de quebrar seu coração em cacos -

e a minha fragilidade

-diante das impossibilidades -

misturam-se

no seu medo

de que alguém me quebre

mais uma vez


o seu proteger ansioso

e voraz

afaga meus cabelos

como ondas de um mar

observado por horas

- no sobe desce das marés-


entre o esconder do sol

e o surgimento da lua


para mim,

seria necessário

que o tempo parasse

como um carro

que perde o fôlego

numa ladeira


e para ti

– ao contrário –


precisaríamos que o tempo

voasse em velocidade de Ferrari

numa pista de corrida reta

e sem sinalização


seria necessário

que o sinal vermelho

aparecesse em minha vida

e me impedisse de atravessar a rua

-por alguns anos –

para que

eu não fosse atropelada

e nem me machucasse mais

com as cicatrizes dos dias


dessa forma,

eu estaria limpa

e livre

para você

quando o seu sinal

reluzisse em verde

diante de meus olhos

num dia qualquer,

tarde de sol

ou noite


numa esquina movimentada,

num cruzamento encruzilhada

ninguém teria importância maior

que nós dois

– quando o amarelo do sinal finalmente desbotasse-


assim,

nós poderíamos sorrir

e selar tudo com um beijo infinito

– com nossos lábios grudados com cola-


tal qual envelope selado,

lacrado

onde se passa a língua para guardar

esconder,

proteger

uma carta de amor

que não vamos enviar


seja por vergonha,

falta de segurança

ou por não querermos expor

mais do que o nosso peito rasgado,

dilacerado

– o coração em frangalhos-


a porta aberta,

as mãos trêmulas,

o batom borrado,

os narizes gelados de frio,

medo, fúria

e paixão.


seus dedos longos

agitam o mar

dos meus cabelos

e te encontro veleiro

- dentro de mim –

a navegar.

Sobre insônia e lindos sorrisos (I)


Da Série: Impossibilidades


cheiro de sonho
na cruel realidade
à minha frente

[nossa]

impossibilidade de estar junto
mesmo sempre
estando

um amor que
se vivido
não pode
aparecer

[por ora]

em algum lugar

que não
diante dos olhos

dos nossos olhos
e sentires
daquilo que transpira
e salta como um grilo
de nossas bocas
e de nossa garganta
[una]

única como um grito em uníssono
o grito que desejamos
dar todas as noites
antes de dormir

um desejo
simples e verdadeiro
que não pode ser
negado

um grito
que se dá
tal qual
algo inaceitável
aos ouvidos
e devaneios da sociedade

nas proibições generalizadas
nos olhares de cara feia

naquilo que não pode ser entendido
por quem não está aqui

[no meio de nós]

dentro de nossos corações
nus
como um ovo sem casca
escapulido das mãos
esborrachado na pia,
no chão

melhor acreditar que a realidade é sonho
e que vivemos no mundo
que a gente mesmo criou

no faz de conta nosso
onde não precisamos
saltar barreiras
nem romper lacres de segurança

um lugar onde podemos
estar juntos
independente
de qualquer abismo
que se posicione à nossa frente

temos asas longas
e sabemos
voar