18.5.09

Sobre cafuné e canções de ninar (I)


Da série: "ando tão a flor da pele

que qualquer beijo de novela

me faz chorar"


seus dedos longos

navegam nas ondas

dos meus cabelos

e começo

a adormecer

em seus braços


- tal qual a menina esquecida nos sonhos perdidos da infância -


a dificuldade de dormir

sem você ao lado

aumenta

com o passar dos minutos

que fogem das horas


e os dias

se tecem mais longos

distantes da ternura

do seu olhar doce,

verdadeiro

e sensível


a sua fragilidade

e o meu medo

-de quebrar seu coração em cacos -

e a minha fragilidade

-diante das impossibilidades -

misturam-se

no seu medo

de que alguém me quebre

mais uma vez


o seu proteger ansioso

e voraz

afaga meus cabelos

como ondas de um mar

observado por horas

- no sobe desce das marés-


entre o esconder do sol

e o surgimento da lua


para mim,

seria necessário

que o tempo parasse

como um carro

que perde o fôlego

numa ladeira


e para ti

– ao contrário –


precisaríamos que o tempo

voasse em velocidade de Ferrari

numa pista de corrida reta

e sem sinalização


seria necessário

que o sinal vermelho

aparecesse em minha vida

e me impedisse de atravessar a rua

-por alguns anos –

para que

eu não fosse atropelada

e nem me machucasse mais

com as cicatrizes dos dias


dessa forma,

eu estaria limpa

e livre

para você

quando o seu sinal

reluzisse em verde

diante de meus olhos

num dia qualquer,

tarde de sol

ou noite


numa esquina movimentada,

num cruzamento encruzilhada

ninguém teria importância maior

que nós dois

– quando o amarelo do sinal finalmente desbotasse-


assim,

nós poderíamos sorrir

e selar tudo com um beijo infinito

– com nossos lábios grudados com cola-


tal qual envelope selado,

lacrado

onde se passa a língua para guardar

esconder,

proteger

uma carta de amor

que não vamos enviar


seja por vergonha,

falta de segurança

ou por não querermos expor

mais do que o nosso peito rasgado,

dilacerado

– o coração em frangalhos-


a porta aberta,

as mãos trêmulas,

o batom borrado,

os narizes gelados de frio,

medo, fúria

e paixão.


seus dedos longos

agitam o mar

dos meus cabelos

e te encontro veleiro

- dentro de mim –

a navegar.

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