Da série: "ando tão a flor da pele
que qualquer beijo de novela
 me faz chorar"
seus dedos longos
navegam nas ondas
dos meus cabelos
e começo
a adormecer
em seus braços
 
- tal qual a menina esquecida nos sonhos perdidos da infância -
a dificuldade de dormir
sem você ao lado
aumenta
com o passar dos minutos
que fogem das horas
 
e os dias
se tecem mais longos
distantes da ternura
do seu olhar doce,
verdadeiro
e sensível
a sua fragilidade
e o meu medo
-de quebrar seu coração em cacos -
e a minha fragilidade
-diante das impossibilidades -
misturam-se
no seu medo
de que alguém me quebre
mais uma vez
o seu proteger ansioso
e voraz
afaga meus cabelos
como ondas de um mar
observado por horas
- no sobe desce das marés-
entre o esconder do sol
e o surgimento da lua
para mim,
seria necessário
que o tempo parasse
 como um carro
que perde o fôlego
numa ladeira
e para ti
 – ao contrário – 
precisaríamos que o tempo
voasse em velocidade de Ferrari
numa pista de corrida reta
e sem sinalização
seria necessário
que o sinal vermelho
 aparecesse em minha vida
e me impedisse de atravessar a rua
-por alguns anos – 
para que
eu não fosse atropelada
e nem me machucasse mais
com as cicatrizes dos dias
dessa forma,
 eu estaria limpa
e livre
 para você
quando o seu sinal
 reluzisse em verde
diante de meus olhos
num dia qualquer,
tarde de sol
ou noite
numa esquina movimentada,
num cruzamento encruzilhada
ninguém teria importância maior
que nós dois
– quando o amarelo do sinal finalmente desbotasse-
assim,
 nós poderíamos sorrir
e selar tudo com um beijo infinito
– com nossos lábios grudados com cola-
tal qual envelope selado,
lacrado
onde se passa a língua para guardar
esconder,
proteger
uma carta de amor
que não vamos enviar
seja por vergonha,
falta de segurança
ou por não querermos expor
mais do que o nosso peito rasgado,
dilacerado
– o coração em frangalhos-
a porta aberta,
 as mãos trêmulas,
o batom borrado,
os narizes gelados de frio,
medo, fúria
 e  paixão.
 
seus dedos longos
agitam o mar
dos meus cabelos
e te encontro veleiro
- dentro de mim –
a navegar.





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