-Versão 2-
Da série: "agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês"
ou
mais um poema em duas versões
ou
Baudelaire; talvez.
seus dedos longos navegam nas ondas dos meus cabelos
e começo a adormecer em seus braços
- tal uma a menina anestesiada nos sonhos perdidos da infância -
a dificuldade de dormir
sem teu corpo ao lado
cresce
com a morte dos minutos
que fogem das horas
e os dias
se esticam
distantes da ternura
do seu olhar doce,
forte
quente
sua falsa fragilidade
e o meu imenso medo
-de quebrar seu coração em cacos -
e a minha falsa fragilidade
-diante das impossibilidades -
misturam-se
no nosso medo
de que algo nos quebre
de novo
o seu abraço ansioso
e voraz
afaga meus desejos
como ondas de um mar
observado por horas
- no sobe desce das marés-
entre o esconder do dia
e o nascimento da noite
para mim,
seria necessário
que o tempo parasse
como um carro
que perde o fôlego
numa ladeira
e para ti
– ao contrário –
peço que o tempo
voe como uma Ferrari
numa pista de Formula reta
e sem parada
seria necessário
que um sinal vermelho
aparecesse em minha vida
e me impedisse de atravessar a rua
-por alguns anos –
para que
eu não me fosse desta
e nem me machucasse mais
com as cicatrizes dos dias
dessa forma,
eu estaria limpa
e livre
para tudo
quando seu sinal
virasse verde
diante de meus olhos
num dia qualquer
numa esquina movimentada,
num cruzamento encruzilhada
ninguém teria importância maior
que nosso amor
– quando o amarelo do sinal finalmente desbotasse-
assim,
nós poderíamos cobrir
nossos corpos com calores longos
– com nossos ocos grudados com cola-
tal qual envelope selado,
lacrado
onde se passa língua para guardar
esconder,
proteger
uma mentira
que não devíamos enviar
seja por vergonha,
falta de segurança
ou para revelar
nossos asperezas
rezas
– sempre
fracas em evitar frangalhos-
a porta aberta,
as mãos trêmulas,
o batom borrado,
os narizes gelados de frio,
medo, fúria
e paixão.
seus dedos armas
agitam o mar
dos meus desejos
e te encontro veleiro
- dentro de mim –
a navegar.
*Com sugestões de Gershom Nor
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