21.5.09

Sobre cafuné e canções de ninar (I)

-Versão 2-

Da série: "agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês"

ou

mais um poema em duas versões

ou

Baudelaire; talvez.


seus dedos longos navegam nas ondas dos meus cabelos

e começo a adormecer em seus braços

- tal uma a menina anestesiada nos sonhos perdidos da infância -


a dificuldade de dormir

sem teu corpo ao lado

cresce

com a morte dos minutos

que fogem das horas


e os dias

se esticam

distantes da ternura

do seu olhar doce,

forte

quente


sua falsa fragilidade

e o meu imenso medo

-de quebrar seu coração em cacos -

e a minha falsa fragilidade

-diante das impossibilidades -

misturam-se

no nosso medo

de que algo nos quebre

de novo


o seu abraço ansioso

e voraz

afaga meus desejos

como ondas de um mar

observado por horas

- no sobe desce das marés-

entre o esconder do dia

e o nascimento da noite


para mim,

seria necessário

que o tempo parasse

como um carro

que perde o fôlego

numa ladeira


e para ti

– ao contrário –


peço que o tempo

voe como uma Ferrari

numa pista de Formula reta

e sem parada


seria necessário

que um sinal vermelho

aparecesse em minha vida

e me impedisse de atravessar a rua

-por alguns anos –

para que

eu não me fosse desta

e nem me machucasse mais

com as cicatrizes dos dias


dessa forma,

eu estaria limpa

e livre

para tudo

quando seu sinal

virasse verde

diante de meus olhos

num dia qualquer


numa esquina movimentada,

num cruzamento encruzilhada

ninguém teria importância maior

que nosso amor

– quando o amarelo do sinal finalmente desbotasse-


assim,

nós poderíamos cobrir

nossos corpos com calores longos

– com nossos ocos grudados com cola-


tal qual envelope selado,

lacrado

onde se passa língua para guardar

esconder,

proteger

uma mentira

que não devíamos enviar


seja por vergonha,

falta de segurança

ou para revelar

nossos asperezas

rezas

– sempre

fracas em evitar frangalhos-


a porta aberta,

as mãos trêmulas,

o batom borrado,

os narizes gelados de frio,

medo, fúria

e paixão.


seus dedos armas

agitam o mar

dos meus desejos

e te encontro veleiro

- dentro de mim –

a navegar.


*Com sugestões de Gershom Nor

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