14.5.09

Festa Araka - no 00

Gean Q., Adriana M. de Barros, Tavinho Paes e João José de Mello Franco

DA SÉRIE: Noite feliz nem sempre é música de Natal

Delícia de noite. Delícia amar essas pessoas, esses amigos, esses poetas, essas almas sedutoras e seduzidas - passar a noite com elas. Posar para fotos. Sorrir.

Esses homens e mulher preenchem a minha vida de calor, idéias e afeto.

Eles me aquecem o coração e me fazem companhia quando me sinto perdida e sozinha. Eles entendem meus medos e cicatrizam minhas dores.

Para esses incríveis, talentos e importantíssimos habitantes do meu coração - o meu mais caloroso beijo.

13.5.09

sobre conjugações verbais e contestações (II)


fragmentos, recortes, frases soltas

gosto de palavra na boca
palavra solta

-bamba-

na boca

poema solto no
vácuo
do tímpano

livre no espelho
da orelha
-no ouvido-

palavra torta
bóia
no cérebro

escorrega no túnel
-da ideia-

poema preso
seco
solto
na jaula do pensamento

no invisível
da idéia
no infinito

poema dito
falado

-"estranhoesquisito"-

solto preso
na mente
-como ideia-

o poema insconsciente
não é mentira
não mente

dele a mente
se tira
ele
se tira
da mente
do inconsciente

o poema música
reverbera
-canta-

a palavra poema
vai livre
solta

[não se faz presa à rima]


a palavra não encerra
não acaba
não apaga

[reverbera]

a palavra é o sentido da vida
dá sentido á existência

a palavra existe
insiste
habita

a palavra frita os miolos
gera estranhesa

mesmo a palavra errada
está certa

[a palavra empresta sentido à vida do poeta]

*escrito depois de ver o documentário - Palavra encantada

sobre passarinhos e asas de borboleta (I)


Da série: "Hey sleeping beauty come back to sleep"

ou

Síndrome de Estocolmo


refém de si mesma

dormiu no calabouço

durante anos


não tinha força para subir as escadas

-escapar-


alimentava-se de excessos

de sono, formigas

e outros pequenos insetos


- folgados insetos-

ousavam despertá-la

de vez em quando


ela os esmagava com os dedos

ainda sonâmbula

e os levava à boca.


bastavam dois

ou três

para alimentá-la

por uma semana


ela

retornava ao transe

quase que instantaneamente

e voltava para o mundo

onde era seguro

estar


- o mundo dos sonhos –


ela tinha tudo!

banquetes, baile, dança, festa

príncipes, sapos, patos

passarinhos, borboletas

vestidos coloridos e mangas bufantes.


ela tinha um quarto

uma cama

luxo, riqueza, conforto

e uma coleção enorme

de sapatinhos de cristal

-alguns com pés perdidos-


ela os guardava assim mesmo

-solitários, sozinhos, sem utilidade –


ela os guardava,

pois lembrava de cada príncipe

que deixara

de devolver o outro pé


ela se lembrava do exato momento

em que deixou o sapatinho na escada

lembrava o porquê


sabia porque

alguns príncipes não acharam os sapatos

sabia que ou eles estavam atrasados

ou distraídos

ao descer a escada


-outros acharam e devolveram-


esses outros

são os que tiveram coragem

os que acreditaram

no “para sempre”


[exatamente aqueles que não foram “para sempre”]


por causa desses ela teve algumas vezes força

para subir as escadas e sair

do calabouço,

mas a cada crescer

ela encontrava menos força,

a respiração se fazia mais rarefeita

e ela tinha vontade zero

de perder sapatos

tomar goles à mais de champanhe

ficar altinha, zureta

e esquecer displicentemente

sapatos na escada


ela não queria mais isso

estava cansada

de perder sapatos

e lágrimas

de borrar o rímel

de esfacelar o coração

de sentir-se como uma uva pisoteada

na vinícula à cada novo término

à cada amanhecer sem aquele amor do lado

sem dia seguinte de dor e desespero

de pedaço que falta


ela dormia no calabouço

refém de si mesma

aguardando

um príncipe

corajoso

que quebrasse o cadeado

escorregasse pela escadas

-sem medo dos leões e dos camelos-

e beijasse com volúpia e delicadeza

o rosto adormecido

suas pálidas bochechas

resgatasse nova cor para elas

fizesse lentamente seus olhos abrirem

o brilho voltar

alguém que fizesse ela sorrir


ele subiria então as escadas correndo

e deixaria o sapato no degrau


aquele presente

a acordaria


então a vida

seria

"para sempre"


sobre atmosfera e um papo no banheiro (I)


Da série: E-mails que viram cartas
ou
tecnologia inversa


Querido A.,

Para te responder sobre a parte: "Perdi o papel em algum lugar. Que bom que você é uma garota esperta e anteviu a situação, se bem que meu estado "um pouquinho embriagado", mas consciente, já indicava uma possivel perda, seja de memoria, seja do próprio rascunho."

Só posso te dizer que papeis têm vida própria. Sei bem o que é isso. Também sei o que é uma leve embriaguez, sei das perdas e dos rascunhos que viram obra de arte. Na verdade estou procurando esse saber.

Sinto mais do que aprendo, mas passando o que sinto - acabo captando tanta, mais tanta energia boa... - Nossa! Ultimamente tem me chegado à cabeça cada pensamento transcendental... que tô achando que vou acabar virando budista, ou hippie ou criar uma nova religião ou uma seita e me enfiar no mato - numa casa com horta, jardim...

Sim, quinta foi bom, mas sabe porquê? Por causa do clima, da energia, da atmosfera. Eu saí leve de lá... as fotos estão incríveis: http://picasaweb.google.com.br/MaysaBritto. Confesso que nem sempre nesse meio de poesia o clima é assim tão fluido, tão bom... - às vezes o teto pesa para baixo e a vontade que você tem é de sumir. Tem até que fazer massagem no dia seguinte.

Eu tenho facilidade de pegar carga das pessoas, olho ruim, olho gordo.Talvez por causa da minha expontaneidade, da minha liberdade e do meu olhar o mundo que é diferente em demasia e mal entendido algumas vezes, e aí ... o clima desanda. O - meu clima- desanda e atualmente tenho parecido um pouco implicante. Quinta foi bom, bom, muito bom.

Seus textos chegarão à mim no momento "oportunico" - que é mais especial- e fruto do acaso que -o oportuno.

Assim como o destino agiu - para nos colocar frente à frente - do jeito que ele gosta de agir: inesperada, repentina e subitamente. - Não tenho pressa. "Todo mundo tem 15 minutos. Só a pressa que não tem".

De repente. A vida é de repente.

Keep in touch.

B_Ju

12.5.09

Sobre fragilidade e árvores centenárias (I)


- Versão 2 -



[eu e você]

vaso de cristal
ou louça racha
com qualquer
vento mais forte

para quebrar-se
basta um sopro
música
grito agudo
ou grave

[corações]

cacos finos
espatifam-se pelo chão
de madeira

camuflam-se nas frestas
do sinteko
causam cortes
minúsculos
não só no pé


e esse pé vai sangrar
até que as portas das feridas
fechem
com uma cicatriz

o coração também é feito
dessa matéria prima
-transparente e frágil-

a diferença é
que os ventos
que passam
dentro dele
conseguem rachá-lo

[uns pedaços]

ele se fortalece
com o voar dos anos

-ao longo do tempo-
ele se racha tanto...

que quanto mais anos
somamos aos nossos anos
mais dores
e tristezas vivemos

-anotem!-
mais aprendemos
com as desilusões

as mútuas desilusões

-a cada uma, uma nova lição-

quanto mais aprendemos
mais rápido
os cortes se fecham
e menos cacos se espalham
pelo chão do coração

o coração
- finalmente -
se fortalece

[não minto quando digo que
os desamores fogem dos olhos]

e o cristal do coração
vira busto de bronze
ou lápide
Da série: “il faut que le coeur se brise ou se bronze”

*Com sugestões de Gershom Nor

11.5.09

Sobre fragilidade e árvores centenárias (I)



Da série: “il faut que le coeur se brise ou se bronze”

vaso de cristal é sensível
racha
com qualquer
vento mais forte

para quebrar-se
basta um sopro
música alta
grito agudo
ou grave

cacos finos
espatifam-se pelo chão
de madeira

camuflam-se nas frestas
do sinteko
causam cortes
minúsculos
no pé

e esse pé vai sangrar
até que as portas das feridas
fechem
com uma cicatriz

o coração também é feito
dessa matéria prima
-transparente e frágil-

a diferença é
que os ventos
que passam
por ele
só conseguem rachá-lo
momentaneamente

ele se fortalece
com o passar dos anos
-ao longo do tempo-
ele se racha tanto...

que quanto mais anos
são somados à nossa vida
quanto mais dores
e tristezas nós vivemos
mais aprendemos
com as desilusões

-a cada uma, uma nova lição-

quanto mais aprendemos
mais rápido
as cicatrizes fecham
menos sangue espalhado
e cacos de cristal vermelho
pelo chão

o coração se fortalece
-os anos fogem dos olhos -

e o cristal do coração
vira bronze

+ Leprevost


sempre achei que
o melhor amigo do homem
é o radinho de pilha
muito mais que o cachorro.
de todo modo
um coração chiando
se assemelha muito
a um cão carente que
entre dentes choraminga.
às vezes um radinho de pilha
preenche o quarto.
noutras vezes a pilha acaba.

Emprestado de: http://notasparaumlivrobonito.blogspot.com

Fever Ray Lyrics - When I Grow Up

When I grow up, I want to be a forester
Run through the moss on high heels
That’s what I’ll do, throwing out boomerang
Waiting for it to come back to me

When I grow up, I want to live near the sea
Crab claws and bottles of rum
That’s what i’ll have staring at the seashell
Waiting for it to embrace me

I put my soul in what I do
Last night I drew a funny man
with dark eyes and a hanging tongue
It goes way bad, I never liked a sad look
From someone who wants to be loved by you

I’m very good with plants
When my friends are away
they let me keep the soil moist
On the seventh day I rest
for a minute or two
then back on my feet and cry for you oooh oh

You’ve got cucumbers on your eyes
Too much time spent on nothing
waiting for a moment to arise
The face in the ceiling and arms too long
I wait for him to catch me

Waiting for you to embrace me


8.5.09

Madame Kaos e Pablo Neruda

Como chamar esse coquetel que mistura vodca com relâmpagos?

O que é que irrita os vulcões que cospem fogo, frio e fúria?

Não sentes também o perigo na gargalhada do mar?


De que ri a melancia quando a estão assassinando?

Não se incendiou a pradaria com os vagalumes selvagens?

Onde pode viver um cego a quem perseguem as abelhas?

Quantas abelhas tem o dia?

Não é melhor nunca que tarde?


Por que os imensos aviões não passeiam com seus filhos?

Há algo mais triste no mundo que um trem imóvel na chuva?


Por que as árvores escondem o esplendor de suas raízes?

Por que se suicidam as folhas quando se sentem amarelas?

Se termina o amarelo com que faremos o pão?

Para quem sorri o arroz com infinitos dentes brancos?


As lágrimas que não se choram esperam em pequenos lagos?

Ou serão rios invisíveis que escorrem até a tristeza?


Onde termina o arco-íris, em tua alma ou no horizonte?

E onde termina o espaço se chama morte ou infinito?


Não será nossa vida um túnel entre duas vagas claridades?

Ou não será a vida um peixe preparado para ser pássaro?

Como se chama uma flor que voa de pássaro em pássaro?

Quando lê a borboleta o que voa escrito em suas asas?


Onde encontrar um sino que soe dentro de teus sonhos?

É verdade que no formigueiro os sonhos são obrigatórios?


Que pesam mais na cintura,

as dores

ou as lembranças?



*Todas as frases foram retiradas do "livro das perguntas" de Neruda.

*O poema foi criado pela cabeça e capacidade de concisão de Madame Kaos.


*Madame Kaos é Juju Hollanda, Beatriz Provasi e Marcela Gianini.


*Este poema foi apresentado no VERSOS DA MEIA NOITE

- em 07/05/2009 -

na Fosfobox.

7.5.09

Pequenos e lindos gestos

Turistas devolvem pedra retirada do Coliseu há 25 anos

Carta anônima chegou a Roma dentro de uma caixa de papelão, juntamente com a rocha

07 de maio de 2009 - BBC Brasil


Um casal de turistas americanos, arrependido por ter levado embora uma pedra do Coliseu, o monumento mais importante de Roma, resolveu devolver o "suvenir" para as autoridades romanas, acompanhado de um pedido de desculpas.

"Deveríamos ter feito isso muito antes, mas pedimos desculpas e devolvemos o que pegamos no Coliseu 25 anos atrás, para que volte ao lugar ao qual pertence", escreveu o casal.

A carta anônima chegou a Roma dentro de uma caixa de papelão, juntamente com um pequeno pedaço de travertino - um tipo de pedra muito usado na cidade desde a antiguidade para a construção de palácios, casas e monumentos.

O pacote foi enviado da cidade de Greensboro, no Estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, para a secretaria regional de promoção turística de Roma.

"O casal deve ter ficado com receio de possíveis repercussões legais", disse Federica Alatri, presidente da secretaria de Promoção Turística, ao jornal La Repubblica.

Satisfação
No texto da carta, divulgado pelos jornais italianos, a mulher escreve que ficou com remorso nesses 25 anos.

"É uma pedra que peguei como recordação com meu marido. Ao longo dos anos, pensei que se todos os visitantes daquele belíssimo monumento levassem um pedaço, não sobraria nada. Nosso gesto foi egoísta e superficial."

Segundo Federica Alatri, nunca houve um caso parecido na cidade.

"Este é um caso sem precedentes que nos deixa muito satisfeitos. Nos sentimos confortados pelo senso de responsabilidade que esta pessoa mostrou."

Segundo a descrição dos jornais, a pedra devolvida é pequena e caberia dentro de um bolso. Agora ela está sendo examinada pela superintendência arqueológica de Roma, que deve estabelecer sua autenticidade.

Se ficar comprovado que a pedra é mesmo do Coliseu, o caso vai ser usado como exemplo para todos os turistas.

"Se o texto da carta for verdadeiro, vamos reproduzi-lo ao lado dos monumentos e nos guias turísticos da cidade para explicar aos turistas quanto é errado levar para casa certas lembranças" disse Claudio Mancini, secretário regional do Turismo.

O Coliseu é um dos monumentos mais visitados no mundo. Foi construído entre os anos de 72 e 80 d.C. pela dinastia Flavia no local que antes era ocupado pela casa do imperador Nero, conhecido por martirizar os cristãos e incendiar Roma.

O anfiteatro, considerado como o maior da antiguidade romana, recebia até 70 mil pessoas que lá assistiam a lutas de gladiadores e à caça de animais selvagens.

BBC Brasil - BBC BRASIL.com - Todos os direitos reservados.

sobre acaso e cachos de uva (VI)


estou gelada

numa temperatura que beira

a temperatura

da morte,

mas estou viva

muito viva


que de tão assim

se estivesse morrendo

não perceberia


é que esse gelado

tem uma temperatura

que se assemelha

a sangue

pulsando nas veias


-queimando nas veias-


estou tão viva

de uma temperatura

quase de morte

que se tivesse sorte

não morreria


-viveria apenas-


[agora e mais e mais]


estou tão gelada e tão viva

que chega a ser incoerente

essa comparação


incoerente como eu

e o meu sentir

e o meu estar viva

e o meu estar perto

longe


“pertulonge”

de você

de seus olhos brilhantes

e transparentes

e do reflexo

do meu olhar

na parede do seu quarto

-que não conheço-

ou na lente

dos seus óculos

sobre desafios e cobertores de lã (I)


“Era uma casa muito engraçada.

Não tinha teto.

Não tinha nada.

Ninguém podia entrar nela não,

porque a casa não tinha chão...”


(Vinicius de Moraes)


não tinha, mas agora

tem

tem chão, paredes, teto, telhado


tem um quarto com janelas amplas

uma cerca branca e muitas flores no jardim


quando um casal decide dar o primeiro

de tantos primeiros

passos

na trilha que escolheram seguir

a casa passa a ter tudo


-quadros na parede, crianças correndo no quintal -


é uma nova vida que se inicia

um dois

querendo ser um


– ser único-


um eu e você

que vira nós

e vira um nó

e é um só


amarrados no eterno infinito

no infinito enquanto dure o amor

no mergulhar fundo

na vida do outro

um ajudar, partilhar,

dividir


um cafuné, um café quente

aquele ovinho estalado

com gema mole

em cima do arroz


-é a descoberta-


a porta e o coração

abertos

é o mobiliar a casa

do jeitinho dos dois


é muito carinho e vontade

de estar perto,

e estar junto

de crescer

de renascer dentro do outro


em uma casa

“muito engraçada”

cheia, repleta,

preenchida

de todo o melhor

de um homem

e de uma mulher

que juntos

de mãos dadas

desejam caminhar

para sempre

e

se chamar,

meu bem.

sobre acaso e cachos de uva (V)


Da série: Esta carta poderia ser um tête-à-tête


Querido X,


Sou melhor com as palavras no papel.

Na verdade, as palavras não se modificam - elas são as mesmas, mas assim eu consigo organizá-las melhor.

Você já deve ter percebido algumas das minhas dificuldades...


Estou escrevendo para te dizer que estou feliz. – mas isso eu já te disse e tantas vezes... - que você até deve estar cansado de ouvir. De ouvir isso. Essa simples palavra. Tão infantil, tão breve – mas lúcida, sabe?


[Nenhuma melhor para traduzir esse estado que você causa em mim – estado de felicidade.]


Eu sei que às vezes quero voar em velocidade rápida.Mais rápida que o vento, que meus pensamentos, que esse furacão que é o meu viver. O meu querer viver. - E isso tudo se acelerou com a sua presença. Com o seu estar perto de mim. Com a sua vontade de estar comigo.


[E isso me deixa feliz – porque eu também quero estar perto. Perto de você.]


Só escrevo porque como eu disse antes, a velocidade às vezes assusta e a gente está em processo de conhecimento, então, por isso, eu quero te dar a liberdade – não para me prender, me enclausurar – mas para dizer que eu estou indo rápido demais e que as coisas não podem ser assim.


Quero te dar a liberdade de querer ir dormir. De querer me deixar em casa antes de você dormir. Sei que às vezes exagero em função da minha necessidade de sono ser pouca e de eu ficar feliz na presença de amigos e mesmo em função da minha necessidade de viver – mas quero que saibas que o estar com você ultrapassa tudo isso, então você pode pisar no freio. No meu freio. Até puxar o freio de mão se for preciso, tá?


Eu, no máximo, vou dar um cavalo de pau, mas nada que me deixe machucada e nem machuque você. Só tome cuidado para ver se não vem outro carro do outro lado da rua para não causar acidentes, mas puxe. Puxe mesmo o freio de mão se for preciso.


A vida pulsa e é tão "curta para ser pequena” que necessita ser grande e na verdade, neste momento, sinto essa vida grande – por ter você por perto. Não necessariamente ao lado. Para não assustar você, e só por isso, para não espantar você de perto – desejo você ao meu lado.


Sinto que estás aqui e isso me conforta como um cobertor felpudo, um travesseiro fofinho.


E eu queria de antemão te pedir desculpas por alguma coisa. Por qualquer coisa que já tenha acontecido ou que venha a acontecer que te chateie e possa te afastar de mim.


Eu queria que a gente conversasse sobre as coisas, e, dessa forma, a gente vai conseguir sempre se entender. Entender o eu e você – assim como o apartamento que a gente começou a mobiliar.


Nunca esquecendo do eu e nem do você, mas sendo nós – entende?! – nunca deixar o nós passar por cima do individual, mas também respeitando nossa individualidade, mesmo que às vezes - essa individualidade possa machucar ou chateie o outro e - por isso - já te peço desculpas.


Na verdade, na verdade mesmo acho que devo agradecer, como aquele dia: “Obrigada Lua, estrelinha, moto, rua...” – Obrigada por trazer você novamente para perto, realmente para perto. Perto de mim.


Que seja infinito esse estado de felicidade que você me causa e que não se finde o nosso conversar, conhecer, ajudar... até que os dias mais distantes passem e a gente envelheça sem enferrujar, oxidar, quebrar, sujar ou qualquer adjetivo outro que se faça válido.


Imagino que você deve ter ficado chateado e hoje eu estou chateada pelo meu te fazer chatear. Eu sei que você é adulto demais e eu busco esse crescer, mas às vezes escorrego, por isso, prefiro sempre minhas sandálias de plástico e meus tênis de pano aos saltos.


Por isso escrevo – para dizer que gosto de ter-te perto.

Por perto. Bem perto

de mim.

Beijos,


J.

5.5.09

sobre acaso e cachos de uva (IV)


telefone que toca
frio na barriga
encontro marcado

depois de tudo...

ela feliz
com "o não adeus"
dormiu
até perder a hora
no dia seguinte.

4.5.09

sobre acaso e cachos de uva (III)


Da série: "I am not for sale, before I am sold!"

ou

clichês e quase lágrimas


viver é estranho-“ultrapassa todo o entendimento”, como disse Lispector. ela sabia de tudo! absolutamente tudo, mesmo quando se questionava sobre o nada, o não saber, o “apesar de”.


ela sabia de tudo e eu tenho uma amiga que não sabe; o que ela sabe? sabe ? nada. não sabe de nada. não entende nada da sua falta de respostas, dos seus celulares desligados, do seu sumiço.

não entende o porque da sua falta de coragem em assumir que estava se envolvendo e estava feliz e ela. ah! ela... estava também tão feliz... em estar te conhecendo. feliz em se deixar envolver com seu carinho, cuidado. em se permitir estar feliz.


ela estava feliz. tão feliz!


não tem informação sobre o que aconteceu e evita pensar que aconteceu algo de grave contigo e recusa-se a pensar na hipótese de ter feito alguma coisa que causasse este afastamento. recusa-se desta vez a colocar a culpa nela e, você, em parte, também não tem culpa.


você só pisou no freio, mas o diálogo de vocês era tão aberto... tão sincero, sem máscaras, jogos, invenções e fingimentos.


o que você se permitiram compartilhar – enquanto troca- tudo o que vocês normalmente manteriam escondido e escancararam?! – as suas dores e até mesmo a expectativa, a entrega. foi tudo tão de repente. do início ao fim.


de repente vocês se esbarraram e ficaram conversando até o amanhecer naquela mesa de bar e de repente você largou seu futebol e a chamou para sair no dia seguinte e disse para ela: - “durma bem, princesa. minha princesa.” – na noite anterior - domingo a tarde vocês sairam e ela te deixou escolher o filme e ela gostou do filme.


ela não ia obrigar você a ver um filme “mulherzinha” e ela deixou você livre para escolher o filme e quem sabe não foi ali o erro. o desacerto?!


vocês iam almoçar na quinta a tarde e você tinha todos os contatos dela e ela também tinha os seus e vocês sabiam como se encontrar e ela respeitou a sua ida a aula e foi pro cinema para esperar a sua ligação e você sumiu.

ou puxou o freio

ou não teve coragem de assumir seus sentimentos para você mesmo,

mas de uma coisa ela tem certeza;

aliás

de duas,

só que, na verdade,

uma resposta ela já tem.


ela só quer saber: porquê você sumiu... sem dizer adeus?!


e espera.

Sobre imaginação e sorrisos (I)


Da série: Uma carta.

Querido Poeta,

Só agora consegui parar em casa para escrever. Na verdade para pensar - porque, por mais que tenha pensado - ou que sempre pense muito - os pensamentos ainda bóiam em minha mente naufraga.

Minha vida ficou subitamente agitada de quinta a tarde até hoje e há muito - não - tanta coisa me acontecia e em tão curto espaço de tempo.
Parece loucura, mas ontem, quando cheguei no evento, estava exausta!
Meu corpo gritava - "Pare!!! Preciso dormir! Quero minha cama, minha casa!!!" - e eu lá, puxando o limite e a minha mente não conseguia juntar mais nenhuma peça.

( Vi 2 filmes, conversei muito, uma história recém-começada acabou sem que eu soubesse o porque. Pensei, pensei, pensei. Falei muito. Trabalhei e dormi. Pouco. Muito pouco.)

Fiquei preocupada quando você disse não estar me reconhecendo, mas na verdade, aquele momento e - isso muito devido à sua presença - eu só queria sorrir. Olhar para você e sorrir. Sentir a energia do local e sorrir. Te ouvir e sorrir. - além do que, não consigo ouvir elogios - como os seus - que eu sei - são de verdade - sem ficar com as bochechas ruborizadas.

Há tanto tempo não te via e nem ouvia de você - que quando te vi lá - foi uma surpresa demais agradável. Muuuito feliz e eu só queria sorrir. Há muito tempo não sorria com tanta vontade, sabe?
Quero muito aprender a cantar. Há algum tempo penso em ter aula de canto e tenho arriscado soltar minha voz.
Achei fofo ontem você me pedindo para fazer o "dó", mas sem técnica, eu não sei da prática. Sem informação, não consigo compreender muito como é fazer um "dó". O que é isso... - mas você, mesmo dentro da minha intuição, tratou-me como se eu soubesse o que estava fazendo e na maioria das vezes, a minha espontaneidade dá essa impressão, mas na verdade - meu agir é intuitivo em demasia.

Recebi tantos sinais nesses últimos dias. Percebi tanta coisa... e por isso, talvez, não tenha conseguido escrever uma linha, aliás estou tendo uma dificuldade enorme de te escrever.
O teclado não obedece meus dedos.

Estou extremamente lisonjeada e feliz com seu convite para escrever sua orelha e na verdade, já tinha pensado em te mandar um texto que você poderia usar ou não no seu livro, mas agora com a oficialização do convite... ah! meu coração e mente em sintonia - ficarão muito gratificados em te retribuir esse "presente".

O que eu fiz pelo seu livro, não pense que faria com qualquer outro - e eu sei que por isso vc se sente especial, mas - vem cá: vc é especial! Se tornou especial e ter te conhecido me modificou de uma forma brutal - e eu te agradeço por isso, Poeta.

Quando digo, brutal, não pense em nada ruim... está sendo um brutal - bom "pacas"!!!
Não conseguia trocar tanta idéia, pertinente, com um poeta e por isso, o meu "agradeço ter te conhecido" e mais ainda "que você goste de mim enquanto também poeta e da minha fala".

- Isso se dá, pq a nossa interação, identificação é tanta...
- aliás a minha com você -
e o meu perceber sua reciprocidade -
foram imediatas
e nosso ritmo é parecido, ideias e
ideias -
também.
E por isso, estamos construindo - ou melhor - construímos o prédio que temos - se bem que - eu preferiria uma casa no meio da mata - cercada de passarinhos e cheiro de grama - mas o prédio, por hora já tá bom. Temos uma cobertura com varandas e isso já nos deixa um pouco em contato com a natureza que é o mais importante para uma boa qualidade de vida.

A única coisa, confesso, que me entristeceu - causada apenas por mim e meu atraso - foi não ter te visto falar seus poemas. Sentir seus poemas tão lindos... para que isso me desse a mesma sensação da primeira vez. O arrepio. O silêncio. O mundo parar à minha volta e o só existir meu e seu no recinto.
Deixar que seus poemas - mais uma vez e como sempre - me preenchessem e fossem colando caquinhos aqui dentro... como uma superbonder forte ou um bom analista.

A poesia de um grande e querido amigo... um irmão de alma. Um anjo de olhos negros e cabelos em caracol. Ah ! Poeta... é tanta coisa...

Uma felicidade que preenche e uma vontade de acertar sempre, mesmo quando a última coisa importante é falar, se bem que, palavras, ontem, certamente surgiram de meus olhos e o meu sorrir foi o poema mais belo que já tive a capacidade de escrever até o momento.

Agora...
estou sorrindo enquanto escrevo e assim,
te sinto perto.

Beijos,

J.