11.5.09

Sobre fragilidade e árvores centenárias (I)



Da série: “il faut que le coeur se brise ou se bronze”

vaso de cristal é sensível
racha
com qualquer
vento mais forte

para quebrar-se
basta um sopro
música alta
grito agudo
ou grave

cacos finos
espatifam-se pelo chão
de madeira

camuflam-se nas frestas
do sinteko
causam cortes
minúsculos
no pé

e esse pé vai sangrar
até que as portas das feridas
fechem
com uma cicatriz

o coração também é feito
dessa matéria prima
-transparente e frágil-

a diferença é
que os ventos
que passam
por ele
só conseguem rachá-lo
momentaneamente

ele se fortalece
com o passar dos anos
-ao longo do tempo-
ele se racha tanto...

que quanto mais anos
são somados à nossa vida
quanto mais dores
e tristezas nós vivemos
mais aprendemos
com as desilusões

-a cada uma, uma nova lição-

quanto mais aprendemos
mais rápido
as cicatrizes fecham
menos sangue espalhado
e cacos de cristal vermelho
pelo chão

o coração se fortalece
-os anos fogem dos olhos -

e o cristal do coração
vira bronze

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