Vou voltar pela praia só de raiva. Raiva por ter sido tão perfeito. A gente sente raiva da perfeição? A gente sente raiva daquilo que merece a nossa raiva. Só disso. E não das coisas boas, porra!
Sentir raiva da raiva é o esperado, mas hoje eu to sentindo raiva das coisas perfeitas e das que são e não se sabem assim. Das perfeições tão bem feitas. Das energias bem sintonizadas...
To com raiva de saber que “super gêmeos, ativar!”- um desenho de criança- entre a gente vira brinde de gengibre e maracujá.
Há muito tempo entre a gente, as coisas não se faziam tão perfeitas como hoje e é por isso que eu to com raiva(!), aliás, essa frase é sua. Então, quem tem que descarregar a raiva é você e não eu. Essa sua frase me fez pensar e eu peguei a tal raiva que eu sei que você falou em sentido figurado ou inverso. Você disse raiva querendo dizer outra coisa, mas eu digoi que a minha raiva agora, é do que é perfeito. Do que se faz perfeito... e é raiva mesmo!
Raiva do porquê ser tão perfeito se não é? Da paralisia dos pensamentos em roda gigante girando looping na cabeça. Dos pensamentos perdidos, aflitos. Raiva do calcular de pensamentos e gestos milimétricamente freiado num calculismo imoral e violento comigo. Tudo isso, regido pelo medo de errar. De errar de novo e estragar o que hoje ta voltando a ser bom no contexto que deve ser e é o certo. Medo de errar um compasso da música e transformar jazz em qualquer coisa que seja diferente de melódico. Transformar o jazz que a gente voltou a afinar em um punhado de “do, rés, mi, fás” desencontrados... numa guerra de palavras e pensamentos por dizer. Transformar reintegração em desconstrução para tudo desabar no dia seguinte.
Insegurança pura! Insegurança de perder todo o perfeito que transformamos em saída para as dúvidas existentes entre nós. Esse perfeito por ser perfeito e ponto. Esse perfeito nosso. Só nosso...
Por isso hoje eu vou voltar pela praia só de raiva.
14.12.06
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