6.12.06

Buk por Koprovski

Homem e mulher na cama às dez da noite – de Charles Bukowski

eu sou a fim de uma lata de sardinhas, ela disse.
eu sou a fim de um band-aid, eu disse.
eu sou a fim de um sanduíche de atum, ela disse.
eu sou a fim de um tomate fatiado, eu disse.
eu sou a fim de que fosse chover, ela disse.
eu sou a fim de que o relógio parasse, eu disse.
eu sou a fim de que a porta estivesse destrancada, ela disse.
eu sou a fim de que um elefante entrasse, eu disse.
eu sou a fim de que nós pagássemos o aluguel, ela disse.
eu sou a fim de que nós arrumássemos um emprego, eu disse.
eu sou a fim de que você arrumasse um emprego, ela disse.

eu não sou a fim de trabalhar, eu disse.

eu sinto que você não liga pra mim, ela disse.
eu sinto que nós devíamos fazer amor, eu disse.
eu sinto que nós temos feito amor demais, ela disse.
eu sou a fim de que fizéssemos mais amor, eu disse.
eu sou a fim de que você arrumasse um emprego, ela disse.
eu sou a fim de que você arrumasse um emprego, eu disse.
eu sou a fim de um drinque, ela disse.
eu sou a fim de um uísque, eu disse.
eu sinto que vamos acabar no vinho, ela disse.
eu sinto que você está certa, eu disse.
eu sou a fim de desistir, ela disse.
eu sou a fim de tomar um banho, eu disse.
eu sou a fim demais de que você tomasse um banho, ela disse.
eu sou a fim de que você lavasse as minhas costas, eu disse.
eu sinto que você não me ama, ela disse.
eu sinto que te amo, eu disse.
eu sinto aquela coisa em mim agora, ela disse.
eu sinto aquela coisa em você também, eu disse.
eu sinto que te amo agora, ela disse.
eu sinto que te amo mais do que você a mim, eu disse.
eu me sinto incrível, ela disse, eu sou a fim de gritar.
eu sou a fim de que continuasse para sempre, eu disse.
eu sou a fim de que você possa, ela disse.
eu sou a fim, eu disse.
eu sou a fim, ela disse.

[Poema de Charles Bukowski em tradução de Fernando Koproski, incluído em Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém (7 letras, 2005)].

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