27.4.09

sobre acaso e cachos de uva (II)


DA SÉRIE: " I am not for sale before I am sold".

atravesso o corredor
que é um mundo

o universo

um caminho de escolhas

casa de espelhos;
de faltas.

é longo o corredor da vida
assim como podem ser longas
as unhas, os cabelos, as frases.

as despedidas
as frases de despedida.

o choro também. e as lágrimas, lamúrias, cicatrizes, cortes.

assim como são grandes
os amores
longas
as paixões.

paixões, respirações, unhas e faltas.

como é longo o sentir falta.
os aprendizados,
as lições

assim como
são longas as canções de amor.
os poemas
de amor. as cartas.
estrofes.
os versos, os filmes,
as trilhas sonoras,
os minutos...

como é longa a busca
- linha tênue -
entre a surpresa, o desejo,
a certeza.

o equilibrar-se no fio de aço da espera
entre o encontro, a certeza,
o desafio,
a surpresa.

sem rede de proteção
as sapatilhas gastas
da bailarina
equilibram-se
por entre pés doloridos
e uma linha gelada
de aço

como pedra de gelo
-sob meus pés-

característica, gelada
e sem tamnho definido.

os pés da equilibrista têm bolhas
e rachaduras
como um solo árido
ressecado pela falta das chuvas.

arame do aparelho fixo
que aperta os dentes
e machuca gengivas
até sangrar.

meus pés sangram de espera.
meu coração sangra
de espera.

arranquei minhas unhas

sangrava
de espera.
meu vestido rasgado, sangrava.

eu atravessei o corredor
enquanto poças vermelhas
formavam-se
sob meus pés.

meus dentes e olhos sangravam
de espera.

já se fazia tarde
e a cama aflita
de espera.

o corredor sangrava
[de espera]
borboletas voavam
chuva caía
a manhã se anunciava
e os mendigos
dormiam.


espera. espera...
me espera.

ei!
me espera chegar ao fim
do corredor
para te encontrar.

Nenhum comentário: