não posso mais falar do meu amor
esse amor
que escorre pelos dedos
feito água suja
que cai do céu
enferrujada
à conta gotas
devagar
amor que não faz baliza
não estaciona
não pisa no freio
não pára
nem entra em vaga
amor que vaga
e desnudo aparece
no salão mais careta
do baile de formatura
amor pelado
sem vergonha
nu
à mostra
não posso mais falar
preciso não sentir
difícil deixar para trás
certas coisas
esquecer
o meu amor
é um palhaço kamikase
que toma litros de saquê
rodopia num avião de guerra
e não consegue
enfiar a espada no peito
[seria perfeito
se ele conseguisse
enfiar a espada no peito]
mas não
ele grita, esperneia, esbraveja
respira fundo
se enche de coragem
e não passa de um ridículo
quando desiste
e volta a bater
dentro do meu coração
no pensamento
nas veias
e em vários momentos do meu dia.
é preciso ficar calada
para que a situação
se modifique
e eu deixe de me sentir
como uma trouxa de roupa
suja
esquecida no canto
de um quarto
inabitado
DA SÉRIE: é necessário que esse amor deixe de estar vivo para que eu recupere a minha paz.
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