13.4.09

sobre cor de rosa e destilados (I)


não posso mais falar do meu amor


esse amor

que escorre pelos dedos

feito água suja

que cai do céu

enferrujada


à conta gotas

devagar


amor que não faz baliza

não estaciona

não pisa no freio

não pára

nem entra em vaga


amor que vaga

e desnudo aparece

no salão mais careta

do baile de formatura


amor pelado

sem vergonha

nu

à mostra


não posso mais falar

preciso não sentir


difícil deixar para trás

certas coisas


esquecer


o meu amor

é um palhaço kamikase

que toma litros de saquê

rodopia num avião de guerra

e não consegue

enfiar a espada no peito


[seria perfeito

se ele conseguisse

enfiar a espada no peito]


mas não

ele grita, esperneia, esbraveja

respira fundo

se enche de coragem

e não passa de um ridículo

quando desiste

e volta a bater

dentro do meu coração


no pensamento

nas veias

e em vários momentos do meu dia.


é preciso ficar calada

para que a situação

se modifique

e eu deixe de me sentir

como uma trouxa de roupa

suja

esquecida no canto

de um quarto

inabitado



DA SÉRIE: é necessário que esse amor deixe de estar vivo para que eu recupere a minha paz.

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