quem somos nós para entender
o amor está preso
nas gavetas, frestas, tapetes
[é poeira engolida pelo aspirador de pó]
descansa no filtro de pano
misturado com fios de cabelo, miçangas
e pêlo de cachorro
[restos de incenso, cinzas de cigarro]
o amor é uma sujeira
que permanece
e por mais que a diarista insista
em tirá-lo do meio da sala
não consegue
ele é transportado pelo vento
mistura-se ao movimento da casa,
entra pelas janelas
que são mantidas abertas
para ventilar
não tem rodo, pano de chão
e nem detergente
que limpe esse assoalho sujo
chamado amor
ele continua vivo
nos cantos da sala,
nas frestas e embaixo das estantes
ele é um fracassado,
um parasita
e não desiste
de reaparecer sanguessuga
nas gavetas encharcadas de sangue,
sujeira e dor
no coração
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