3.4.09

Sobre demolições e água na boca (II)

Da série: questionamentos.
ou
sobre perder a utilidade e/ou necessidade de reciclar


em algum lugar há uma porta escancarada mantida aberta por uma tartaruga de areia. vejo a minha tartaruga, hoje, furada e a areia que a recheava espalhou-se pela casa - a bagunça, preenche a maior parte do ambiente.


tudo tão vago e infantil num medo que se percebe além de qualquer sentimento. algo impossível de ser percebido - de repente - numa simples e inocente troca de aspirações, gostos e modernidades.


o gosto por ser livre escondido nas frestas.


vento que chega com força e espalha cacos de vidro e poeira pela casa. a sujeira encontra os olhos e produz lágrimas tristes. faz com que elas escorram por um rosto que iluminava-se com o brilho de algumas palavras compartilhadas.


o medo, a falta de tempo ou o desinteresse, percebidos num elogio vago. num desejo manso de que o outro fique bem sem ti. uma verdade que machuca como legumes e frutas amassados no fim da feira.


desperdício. última garfada deixada no prato. um gole esquecido no copo. pressa e tempo de mãos dadas correm e acabam por afastar abacaxis de suas cascas.


sensação de vazio

como a tartaruga de areia

(esvaziada)

que

-mantinha a porta aberta -

hoje é pano de chão.

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