27.11.06

allen ginsberg

O problema com a forma convencional (contagem fixa dos versos e forma da estrofe) é, é muito simétrica, geométrica, numerada e pré-estabelecida — diferente da minha mente, que não tem começo e fim, nem medidas fixas de pensamento (ou fala — ou escrita) a não ser as de seu próprio mistério sem cantos — transcrever este último da maneira mais parecida com sua atual “ocorrência” é meu “método” — que necessita da arte da liberdade de produção — e que vai levar a poesia à expressão dos momentos mais intensos da existência — iluminação mística — e sua emoção mais profunda (através de lágrimas — o amor é tudo) — nas formas mais próximas ao que de fato parecem (dados de imagens místicas) e desejam (ritmo do discurso atual e ritmo induzido pela transcrição direta de dados visuais e de outros tipos) — ainda sem esquecer a repentina imaginação de gênio ou a fabulação do irreal e das construções verbais extraordinárias que expressam a verdadeira vivacidade e o excesso de liberdade — (que pela sua natureza também expressam a primeira causa do mundo) por meio da espontânea sobreposição irracional do fato sublimemente narrado, pela broca do dentista cantando contra o som do piano; ou pura construção de imaginários, jukeboxes de hidrogênio, em prováveis imagens abstratas (produzidas pela colocação de duas coisas verbalmente concretas mas originalmente desiguais) — sempre tendo em mente, aquele deve beirar o desconhecido, escrever no caminho da verdade até aqui irreconhecível da própria sinceridade, incluindo a evitável beleza das ruínas, da vergonha e do embaraço, aquela precisa área do auto-reconhecimento pessoal (indivíduo detalhado é lembrança universal) cujas convenções formais, internalizadas, nos afastam de descobrir em nós mesmos e nos outros — Visto que se escrevemos voltados para o que o poema deve ser (tem sido), e não nos perdemos nele, nunca vamos descobrir nada novo sobre nós mesmos no processo de realmente escrever algo, e perdemos a chance de viver em nossos trabalhos e de tornar habitável o mundo novo que cada homem pode descobrir em si mesmo, caso ele viva — o que é a própria vida, passado presente e futuro.Assim, a mente precisa ser treinada, isto é, alargada, libertada — para lidar consigo mesma como de fato é, e não para se impor, ou nos artefatos poéticos, um modelo pré-concebido arbitrariamente (de forma ou assunto) — e todos os modelos, a não ser que sejam descobertos no momento da produção — todos os modelos lembrados e aplicados são, por natureza própria, arbitrariamente pré-concebidos — não importa o quão inteligente e tradicional — não importa que resultado de experiência adquirida eles representam — O único modelo de valor ou interesse na poesia é o modelo solitário e individual peculiar ao momento do poeta e o poema descoberto na mente e no processo de colocá-lo na página, como notas, transcrições —, reproduzidas na forma precisa mais adequada, no momento de sua produção. (“Tempo é essência”, diz Kerouac). É essa descoberta pessoal que tem valor para o poeta e para o leitor — e claro que é mais, não menos, transmissível da realidade do que um modelo escolhido previamente, com assuntos despejados de forma arbitrária para se adequar, o que obviamente deturpa e encobre o assunto...

A mente é graciosa, a arte é graciosa.

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