outbox I: eu, você, os americanos, o uísque, o vinho, o marião e o meu coração de piche
daí eu to bêbada porque vi uma peça do kerouac fudidona e tive que beber uísque caubói depois, mas você nem gosta desses americanos. mas você ia entender que ele não era "um americano". ele era um homem um busca da beatitude. era isso que eu queria te dizer quando tentei te ligar 100 vezes agora. eu sou um perigo agora que desbloqueei meu celular pra chamadas internacionais. eu queria te dizer que o kerouac não era um malucão beatnik e sim um homem em busca da bondade e da pureza nos outros homens e que você ia se identificar horrores com ele. marião era o kerouac. eu era a garota sentada de meia-bunda no banco de igreja que me sobrou no teatro porque era o último dia da peça. eu era a garota querendo que o garoto dela estivesse lá junto porque só ele entenderia. mas a garota estava sozinha com sua meia-bunda no banco de igreja do teatro da praça loservelt. eu queria te ligar pra dizer que você ia entender tudo comigo e pra dizer que eu te amo mais uma vez. e pra dizer que depois da peça eu fui lá com eles e pensei assim, bem assim: eu quero que ele acredite na eternidade mesmo sabendo que ela não dura pra sempre. eu quero que ele não tenha medo de nada. eu quero que ele seja que nem eu fui e que como eu lembrei que sou depois de tudo isso que ouvi, depois desse cara gritando coisas que se escritas e cortadas jorrariam horrores de sangue, mais do que qualquer um que eu conheço poderia suportar, mas que eu sei que poderia suportar porque é exatamente isso que eu faço e é pra isso que eu tô viva. i don't know if i make sense now. só sei que eu te amo e não tenho medo de nada. eu vivo porque é a única coisa que eu sei fazer. eu me jogo porque é assim que eu sou. uma força da natureza, você disse. o kerouac, aquele americano, também era. damnit. i am drunk as fuck. eu não vou ter vergonha amanhã de ter te escrito isso porque eu resgatei o meu lado que estava esquecido, esse lado que é a coisa mais minha e mais eu de todas. isso, isso aqui. atropelamento sem fuga. eu sozinha indo pra cama com a sua camiseta na cara. eu sentada no boteco com o marião bebendo aquele vinho de dez real e dizendo porra marião, eu amo aquele cara, e ouvindo de volta do meu amigo que me conhece um "eu sei" tão natural que só me restou vir pra casa e te dizer que eu acredito na eternidade mesmo que ela não dure pra sempre. nunca mais ouse se comparar com nada nunca mais. você pode até ler aquelas coisas que eu escrevi, mas você nunca vai saber o que eu passo quando olho pra você. eu não sou mais aquilo; eu sou eu agora, e agora eu sou sua. e agora eu vou deitar antes que eu desfaleça. boa noite, eu te amo de novo, boa noite.
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21.11.06
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