seria possível escolher por entre todas as cores do arco-íris
uma nuance apenas
que representasse essencialmente
alguma parte de qualquer ausência
que por um motivo ou outro
transpire em seu corpo
em algum momento da tarde
quando a chuva cessa
e dá lugar ao sol?
essa cor seria a única cor da sua vida
quando preenchida por alguma falta qualquer
qualquer falta que se faça presente em seu
por dentro
enquanto meu
por dentro
– assim um copo meio cheio; vazio –
ou meio vazio; cheio
uma medida qualquer
que não desande o bolo,
uma bebida alcoólica
que não embriague,
um prato feito
que não provoque gases
e seja possível refletir
no aquário de peixes
-ordenadamente-
uma série de imagens nítidas
no que se faz turvo,
putrefato,
escuro
na claridade cristalina
do que se faz oculto,
misterioso?
alguma sorte
que seja algo premiado
como a loteria
que enche a sua conta bancária
de pedintes
e faz com que você brigue
com os familiares
que pedem, pedem, pedem
e acham que você tem a obrigação
de “emprestar”
porque afinal, você está rico agora
só que na verdade
você sempre foi rico
porque é puro
e acredita no amor maior
vive esse amor
com todos os amores
e você acredita fielmente
que pode encontrar a felicidade
no amor
e a segurança
no amor
e o amor como algo rocha
que não se quebra
apenas
aos poucos
se dissolve com o vento
ou se transforma
com o tempo,
as estações do ano,
as cores misturadas
dentro do pote
em que você acredita
habitar
-no mundo-
e você acredita
que ao seu redor
não existem sombras
e que o amor pode ser firme
como uma bandeira no mastro,
um barco ancorado,
uma parede cimentada,
uma música romântica,
uma saudade
qualquer saudade
ou até mesmo
o envelhecer morrendo
aos poucos
que mata neurônios
aos poucos
uma degeneração genética do cérebro,
algum gene defeituoso
que nasceu contigo
e ele não é nada mais do que
seu irmão gêmeo
e uma parte sua
que você não reconhece,
não sabe,
não revela
é o mistério das cores sem sombra,
das pinturas,
das fotos,
da humanidade
é o amor
em seu estado mais puro
a nuance mais viva
e a morte que chega mansa,
mas mata assim mesmo
e mata para sempre
mesmo que a eternidade exista
em algum lugar
longínquo;
ou no céu
de gaivotas,
nuvens e
paraquedistas
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