21.7.09

sobre fagulhas e pudim de leite (II)


seria possível escolher por entre todas as cores do arco-íris

uma nuance apenas

que representasse essencialmente

alguma parte de qualquer ausência

que por um motivo ou outro

transpire em seu corpo

em algum momento da tarde

quando a chuva cessa

e dá lugar ao sol?


essa cor seria a única cor da sua vida

quando preenchida por alguma falta qualquer


qualquer falta que se faça presente em seu

por dentro

enquanto meu

por dentro

– assim um copo meio cheio; vazio –

ou meio vazio; cheio


uma medida qualquer

que não desande o bolo,

uma bebida alcoólica

que não embriague,

um prato feito

que não provoque gases


e seja possível refletir

no aquário de peixes

-ordenadamente-

uma série de imagens nítidas

no que se faz turvo,

putrefato,

escuro


na claridade cristalina

do que se faz oculto,

misterioso?


alguma sorte

que seja algo premiado

como a loteria

que enche a sua conta bancária

de pedintes

e faz com que você brigue

com os familiares

que pedem, pedem, pedem

e acham que você tem a obrigação

de “emprestar”

porque afinal, você está rico agora


só que na verdade

você sempre foi rico

porque é puro

e acredita no amor maior


vive esse amor

com todos os amores

e você acredita fielmente

que pode encontrar a felicidade

no amor

e a segurança

no amor

e o amor como algo rocha

que não se quebra


apenas

aos poucos

se dissolve com o vento

ou se transforma

com o tempo,

as estações do ano,

as cores misturadas

dentro do pote

em que você acredita

habitar

-no mundo-


e você acredita

que ao seu redor

não existem sombras

e que o amor pode ser firme

como uma bandeira no mastro,

um barco ancorado,

uma parede cimentada,

uma música romântica,

uma saudade


qualquer saudade

ou até mesmo

o envelhecer morrendo

aos poucos

que mata neurônios

aos poucos


uma degeneração genética do cérebro,

algum gene defeituoso

que nasceu contigo

e ele não é nada mais do que

seu irmão gêmeo

e uma parte sua

que você não reconhece,

não sabe,

não revela


é o mistério das cores sem sombra,

das pinturas,

das fotos,

da humanidade


é o amor

em seu estado mais puro

a nuance mais viva

e a morte que chega mansa,

mas mata assim mesmo

e mata para sempre


mesmo que a eternidade exista

em algum lugar

longínquo;

ou no céu

de gaivotas,

nuvens e

paraquedistas

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