6.7.09

sobre utensílios domésticos e existencialismo (I)


não sou um aspirador de pó

desses que vai sugando tudo

pelo caminho

-botões, fios de cabelo,

poeira, pedaços de brinquedo,

tarrachas de brinco -

e até

o rabo dos cachorros


talvez eu seja um pára raio

que sai captando como antena

a eletricidade da tempestade


aliás, posso ser uma antena

que capta o sinal de rádios piratas,

televisões de comunidade,

e até imagens em tempo real

de soldados torturando jornalistas

no afeganistão


posso ser muitas coisas,

mas não sou um aspirador de pó

tenho alergia à pó


-espirro, espirro, espirro-

até quando um fiapo de lã

do casaco

faz cócegas no meu nariz


não saio sugando toda a sujeira do ambiente

e nem sou de assustar os gatos com o barulho


não sirvo para limpar cortinas, carpetes, sofás,

quinas de quarto, de sala...

cozinhas, banheiros.


eu posso ser a roda de um carro

que sai por aí esburacando o asfalto

ou o laço de fita cor-de-rosa

mais bem feito

na caixa de presentes


posso ser uma balinha de hortelã também

Ou até ...


-quem sabe ?-


um pastel de queijo.

Um comentário:

Juliana Porto disse...

Porque poeta já és. Fato!

Um beijo e um queijo, só para acompanhar com o pastel.

rs