20.5.09

sobre soluços e algodão-doce (I)


Da série: esse poema é uma carta de amor
ou
sobre a coragem de parecer ridícula

essa pálida ausência

que escorre pelas pernas

entra nas frestas

cantos quinas de parede

e esconde da língua

os (di)sabores do mundo


um sorvete sem gosto

pode ser invisível

às papilas gustativas


–apenas o gelado-

é percebido

e só

só isso

nada mais.


já àquele sorvete

artesanal

feito com muito creme

e carinho

-aerado,bem batido-


feito com fruta de verdade


não ultrapassa

o gosto bom da tua boca

do teu beijo

em minha boca


-não passa por cima. não some.não aparece-


o seu gosto não desaparece

e eu penso que ele

não pode ser comparado

nunca

com o melhor sorvete

– apenas com o pior –

que é sem gosto


– sem gosto de não ultrapassar o seu –


não passar por cima

do seu


que é sempre melhor

do que o gosto

do melhor

sorvete

e da casquinha mais crocante


é docinho,

suave

- geladoquente –

eloqüente

enlouquecedor


é a minha língua em seu corpo

e seu beijo em meu corpo

em minha boca


a sua boca

à me sugar

o mamilo

faz com que eu fique

ereta e molhada

- em ponto de bala –


puxa-puxa, de canhão

– à ponto de explodir e gritar –


deixando nós dois

embebidos

em líquidos

e cheiros

– sabores –


deixando você

escorrer

por minhas pernas

feito riso frouxo

– que não pode ser contido –


feito crise de riso

de tirar o fôlego

de deixar sem ar


feito o ar que você me tira

-quando–


o gosto que você me deixa na boca

-quando-


o cheiro doce

que gruda na minha pele


seus dedos longos

acariciam meus cabelos

feito gatos sorrateiros

que se arrastam no telhado

– para não fazer barulho –


seus dedos longos

e seu braço firme

embaixo do meu pescoço

-quando-


seu coração forte

e sua firmeza

em me chamar

de amor

em me sentir

amor


e o meu

hipnotizada

por você

completamente

-quando-


tão derretida

quanto

um sorvete bom

que não tem a menor graça

quando estamos perto

um do outro


[eu de você]


-um sorvete bom desperdiçado-


ao seu lado

o bom

vira sem graça

o ruim

fica invisível


sabor?

só o seu

que me invade

e faz com que

eu

desfaleça

-adormeça-

e acorde

na manhã seguinte

com seus braços

em volta do meu pescoço


sem você

é tudo

pálida ausência


[azul]


que me escorre

das pernas.

Um comentário:

Maysa Britto disse...

Lindo!!!! Viver é maravilhoso.Ahhh! Como é bom. bjs